terça-feira, 27 de setembro de 2011

Diálogo

- Oi, como você está?
- Melhor agora, eu acho...
- Sente alguma dor? Alguma coisa o incomoda?
- Dor? Não. Estou mais leve.
- Que bom!
- Como estão as coisas?
- Está tudo bem, não se preocupe com nada.
- É difícil...
- Eu sei, mas estamos bem, tudo vai ficar bem.
- Quero acreditar nisso.
- Acredite. Pode ir em paz.
- Sinto saudade, mas creio que é natural sentir.
- Sim, é sim. Nós também sentimos, e muita!
- Eu sei.
- Nós te amamos e queremos que você fique bem.
- Eu também amo vocês.
- Então...
- Então, é adeus.
- Adeus, não. Até qualquer dia.
- Sim, até qualquer dia filha.
- Tchau, pai, fica com Deus. Vou te amar para sempre...

sábado, 17 de setembro de 2011

O Crime - Parte 2: o desfecho

O detetive Juarez estava em uma mesa ao fundo do bar e aguardava a chegada de seu colega Gonçalo que há duas semanas havia lhe pedido ajuda em um caso. Depois de analisar todos os depoimentos, estava certo de que não havia dúvidas quanto ao assassino de Julio Bittencourt, o homem encontrado morto em sua cama após ter sido atingido por uma réplica em bronze da Torre Eiffel, medindo 70 cm.

Ele fechou os olhos e repensou sobre tudo o que havia lido do caso nas últimas duas semanas.

- E então, chegou a alguma conclusão?

Juarez abriu os olhos e viu o detetive Gonçalo de pé, ao lado da mesa. As olheiras profundas indicavam que não dormia há dias.

- E aí, meu chapa? Sente-se, vamos tomar uma cerveja!

Depois de servidos, brindaram à profissão e foram direto ao motivo do encontro.

- O negócio é o seguinte, Gonçalo, não sei o que você pensa, mas acho que só há uma pessoa a quem você pode acusar e pedir a prisão preventiva. – o detetive Juarez bateu o fundo de sua long neck na mesa.
- Tenho certeza de que você percebeu a mesma falha que eu em um dos depoimentos. – disse Gonçalo esperançoso.
- A ex-esposa ficou quase quatro horas no salão... – Juarez iniciou a falar.
- Tempo demais não? – Gonçalo sorriu.
- Sim, como elas conseguem? – Juarez perguntou com visível sinceridade.
- Não sei, mas minha esposa e minha filha nunca ficam menos do que isso. – Gonçalo balançou a cabeça negativamente.
- E lá em casa, então? Se eu somar todo o tempo que minha mulher e minhas duas gurias passam dentro de um salão de beleza, acho que dá mais do que o tempo que eu passo no Departamento! – Juarez deu uma risada sofrida.
- Nada inverossímel o depoimento da ex-mulher. – Gonçalo concluiu.
- De forma alguma! – Juarez atestou. – Eu estranharia se ela tivesse dito que só tinha ficado uma hora lá.
- Já o namorado... – Gonçalo não continuou.
- Você foi mesmo obrigado a ouvir os detalhes? – Juarez perguntou com deboche.
- Ah, melhor pular esse suspeito, não foi ele mesmo.
- Você está certo. Com a passionalidade desse cara, ele teria caído em prantos de culpa. – Juarez falou lembrando do depoimento que leu.
- Então, ficamos com os dois mentirosos. Qual a sua impressão de cada um? – Gonçalo encarou o colega.
- Dois caras de pau! – sentenciou Juarez.
- Você reparou que nem a ex-mulher, nem o namorado mencionaram ter encontrado a empregada na casa?
- É claro que não encontraram! Você já viu alguma empregada que, na ausência do patrão, chegue cedo e vá embora tarde? – Juarez gargalhou em alto e bom som.
- Tô pagando pra ver! Na hora do crime essa mulher já estava em casa há muito tempo! – Gonçalo bateu com a palma da mão na mesa e acompanhou o colega na gargalhada.
- Então, vamos pegar o outro cara de pau! – declarou Juarez.
- Vamos! – concordou Gonçalo e virando-se para trás gritou: - Ô meu camarada, fecha a conta!

Quatro horas depois, o detetive Gonçalo, acompanhado do detetive Juarez e mais três policiais armados, chegava à Taquara, na residência de Jorge Fraga, o sócio da vítima.

(Pancadas na porta).

- Senhor, abra a porta, é a polícia!

Segundos depois, Jorge Fraga abria a porta trajando apenas uma cueca samba canção e com ar sonolento.

- Pois não, polícia? Mas o quê...?

O homem não teve tempo de concluir a frase. Imediatamente (mas de forma gentil), ele foi imobilizado e algemado com as mãos às costas.

- O senhor está preso! Acusado pelo assassinato de seu sócio Júlio Bittencourt. – Gonçalo informou mostrando a ordem de prisão que tinha em mãos.
- Como assim? – protestou Jorge Fraga. – baseado em quê o senhor está me prendendo?

Gonçalo e Juarez trocaram olhares, mas foi este último quem disse:

- Baseado em seu depoimento utópico meu amigo. Fala sério! Onde já se viu sair da Zona Sul, ir ao Recreio, esperar uma pessoa por quarenta minutos e às 22h estar na Taquara, de banho tomado e vendo televisão? – nessa hora detetives e policiais riram juntos. – Nem que você estivesse com o carro da polícia e a sirene ligada! No trânsito do Rio? Só se fosse de helicóptero! Vai mentir lá no xilindró, ‘simbora’ cara de pau!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Crime - Parte 1: o caso

Sexta-feira, 10 horas da manhã. O corpo do homem estava de bruços na cama e envolto em sangue já coagulado. Segundo o legista, a morte havia ocorrido há, aproximadamente, 12 horas. A arma do crime ainda estava no corpo: uma réplica da Torre Eiffel em bronze, medindo 70 cm.

- O assassino segurou a torre pela base e, aproveitando que a vítima estava dormindo, cravou-a na lateral do pescoço. – disse o legista.
- Entendo... – comentou o detetive Gonçalo. – Digitais?
- O detector não identificou nenhuma.
- Entendo... – o detetive Gonçalo disse uma segunda vez. – Testemunhas?
- Nenhuma até agora. O prédio não tem porteiro à noite e nenhum dos vizinhos viu ou ouviu qualquer coisa. – foi a vez do policial Motta responder.
- Entendo... – disse pela terceira e última vez o detetive. – Pistas?
- Um dos vizinhos disse que quatro pessoas possuem a chave do apartamento: a ex-mulher da vítima, o sócio, a diarista e o atual namorado. – respondeu o policial.
- Namorado? – perguntou surpreso o detetive Gonçalo.
- Sim. Segundo esse mesmo vizinho, a vítima passou a namorar uma pessoa do mesmo sexo, logo após ele e a esposa terem se separado.
- Compreendo... - disse pensativo o detetive. – Localize essas pessoas. Vamos interrogá-las!
- Sim, senhor! – disse o policial Motta já saindo do quarto.

Passado o tempo necessário para que os quatro interrogatórios fossem feitos, o detetive Gonçalo decidiu ficar até mais tarde no trabalho para fazer um resumo de todos os depoimentos. Após terminar, releu um por um:

Suspeito 1

Nome: Rebeca Paiva
Relação com a vítima: Ex-esposa
Depoimento: Mantinha uma relação de “negócios” com a vítima. O casamento tinha sido arranjado para que ele tivesse direito à herança da madrinha. Assim que “a velha passou desta para melhor”, se separaram e ele assumiu o namorado. Esteve no apartamento no dia do crime por volta das 17h para cobrar a “pensão” de R$10 mil do ex-marido, parte do acordo que fizeram para que ela aceitasse se casar com ele, já que não ia “rolar sexo” enquanto estivesse casada e ela seria obrigada a ser discreta em suas relações extra-conjugais para que ninguém desconfiasse, principalmente, a madrinha. A vítima não atendia as ligações dela, então, resolveu ir cobrar pessoalmente. Esperou por meia hora, mas teve que ir embora porque tinha salão marcado para as 18h em um shopping próximo ao prédio. Ficou quase quatro horas no salão e decidiu não retornar, pois já era tarde e estava cansada, comeu alguma coisa na praça de alimentação e foi direto para casa, também no Recreio.
Álibi: O salão confirma seu horário para às 18h e diz que ela compareceu. O ticket de estacionamento registrou que ela saiu às 22h20.
Motivo: Herdaria 5% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$200 mil. A suspeita possui dívidas em cartões de crédito no montante de 50 mil reais e teve um carro de R$70 mil destruído pela queda de uma árvore que o seguro não reembolsou.

Suspeito 2
Nome: Jorge Fraga
Relação com a vítima: Sócio em uma franquia bem sucedida de fast food.
Depoimento: Conhecia a vítima há 14 anos. Foram amigos de faculdade, estudaram Gastronomia e, antes de formados, haviam decidido que tentariam abrir um restaurante. Depois de dez anos “dando cabeçadas”, a vítima herdara uma boa quantia em dinheiro e propôs a sociedade na franquia. Como ele não tinha grana, ficou com toda a mão de obra do negócio. “Ralava” sozinho, enquanto o amigo “só viva na esbórnia”. Recebia apenas 8% do lucro líquido das lojas, eram sete ao todo. No dia do crime, saiu de uma das lojas na Zona Sul do Rio de Janeiro às 19h30 e foi em direção à loja da Barra da Tijuca. No caminho, resolveu passar direto e foi ao apartamento da vítima, no Recreio. Queria, mais uma vez, renegociar o valor da porcentagem que recebia, desejava aumentá-la para 10%. Esperou o sócio por 40 minutos, como ele não chegava, desisitiu de esperar. “Puto da vida”, não compareceu a mais nenhuma loja e às 22h já estava em casa, na Taquara, de banho tomado e vendo televisão.
Álibi: Os funcionários da loja da Zona Sul confirmaram que o “patrão” saiu às 19h30, no entanto, como mora sozinho, não pode comprovar a hora que chegou em casa.
Motivo: Insatisfação com o percentual recebido na sociedade. Despeito e inveja pela condição financeira e postura da vítima em relação ao negócio. Com a morte do sócio, teria direito a quatro das sete lojas da franquia. O suspeito comprou uma cobertura na Barra da Tijuca, ainda na planta, no valor de R$1,2 milhão com financiamento de 20 anos por um banco privado.

Suspeito 3
Nome: Lindalva da Silva
Relação com a vítima: Diarista há cinco anos
Depoimento: Era dia de faxina. Declarou ter chegado “cedo” no apartamento da vítima porque gosta de fazer seu serviço “bem caprichado”. Ficou até “tarde” e só saiu por volta das 19h, quando tudo já estava “bem limpinho”. Pegou um ônibus que “vai pela Linha Amarela” e chegou em Queimados, onde mora, “sabe Deus que horas!”
Álibi: Nenhum. O marido chegou bêbado às 5h da Quinta-Feira e desmaiou na cama. Não viu que horas a mulher saiu de casa. Quando acordou, passou o dia bebendo e só retornou na madrugada seguinte, desmaiando no sofá da sala, sem saber se a esposa estava em casa ou não.
Motivo: Herdaria 2% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$80 mil. A suspeita sonha em comprar uma “casinha na rua asfaltada”, com piscina e churrasqueira e “dar um chute na bunda” do “beberrão” do marido.

Suspeito 4
Nome: Claudio Marins
Relação com a vítima: Namorado
Depoimento: Namoravam há oito anos, mas só haviam assumido o relacionamento há menos de um ano, depois da morte da “velha”. Ficou ressentido por não terem ido “morar junto”, uma vez que já estavam “assumidos”. No dia do crime, passou no apartamento da vítima por volta das 15h para deixar flores frescas no vaso da sala e colocar essência de jasmim nos lençóis da cama, pois pretendia dormir lá naquela noite e queria que tudo estivesse “perfeito”. Deitou no sofá para assistir TV e cochilou, acordou às 16h e telefonou para o celular da vítima, que o atendeu, mas disse que preferia dormir sozinho, pois havia acabado de chegar de viagem (ainda estava no aeroporto) e estava cansado para “namorar”. O suspeito, então, descarregou um tudo de inseticida nos lençóis da cama para tirar o cheiro da essência de jasmim, jogou o vaso de flores pela janela e foi embora. Às 22h estava “dando” para o seu personal trainer todo o “amor” que seu namorado recusara receber.
Álibi: Foi confirmada uma grande quantidade de inseticida no lençol da cama da vítima, que poderia ter morrido envenenada se não tivesse sido agredida com a Torre Eiffel no pescoço. Um homem deu queixa na delegacia, por volta das 16h40, por ter encontrado seu carro, estacionado em frente ao prédio da vítima, danificado por um vaso de flores, deixando o capô completamente arruinado. O personal trainer confirmou o horário e contou os “detalhes” do encontro (desnecessário isso, mas ele fez questão).
Motivo: Herdaria 93% dos bens da vítima (mais três das sete lojas da franquia). O suspeito não possui nenhuma dívida conhecida, mas tem temperamento ciumento e passional.

Após reler os depoimentos por mais algumas vezes, o detetive Gonçalo chegou à conclusão que duas pessoas estavam mentindo sobre seus horários, mas somente uma o fez para esconder o assassinato. Ligou para o detetive Juarez, de outra jurisdição, e convidou-o para almoçar no dia seguinte. Queria discutir o caso com um colega de profissão, para saber se teriam a mesma percepção. Caso positivo, daria voz de prisão ao assassino (ou assassina, caro leitor) imediatamente.

(Continua...)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

PAI

Pai, quero dizer que te amo!
Ainda não sei o que vai acontecer, mas
Imploro aos céus que seja o melhor para ti.

Eu sei que sou egoísta
Um sentimento de te ter para sempre

Tô do teu lado, segurando tua mão
Exatamente como você fez quando operei a amígdala

Ah, você me levou sorvete no quarto depois, lembra?
Mas, agora, você apenas me pede água com um gesto
Oh, Deus, me perdoa, não estou preparada, ainda não...