domingo, 2 de junho de 2013

Purificação

Fernando segurou Vicky nos braços cuidadosamente. Os olhos dela estavam fechados, sua roupa rasgada e seu cabelo desgrenhado. Ele deitou-a sobre a cama e ficou a examiná-la por longo tempo até que decidiu fazer o que julgava necessário.

Acendeu as luzes para vê-la melhor. Ela estava suja e suas pernas, manchadas de vermelho. Seu rosto tinha batom além da boca e por baixo do vestido roto, já não havia roupa de baixo. Sentiu pena dela, pois sabia o quanto havia sido bonita um dia.

Com muita delicadeza tirou-lhe os trapos que ainda lhe cobriam, deixando-a totalmente desnuda. Em seguida, foi ao banheiro e trouxe uma bacia com água morna, sabão de coco, uma esponja, um pente e uma toalha. Primeiro, limpou-lhe o rosto, removendo o batom desnecessário, pois sua boca era naturalmente carmim. Vicky havia sido muito maltratada e ele tinha consciência que ela voltaria a ser. – Coitada... – ele pensou.

Acomomodou a bacia sob sua cabeça e lavou-lhe os cabelos louros. Secou-os e tentou penteá-los. Assustou-se quando uma mecha se desprendeu e veio agarrada ao pente. Tentou ser ainda mais gentil. Após 20 minutos, gostou do resultado. O cabelo estava liso novamente. Vicky quase parecia a mesma, exceto pelas marcas em seu corpo que ele sabia que ela as carregaria até o fim.

Fernando afastou a bacia e deixou-a reta sobre a cama novamente. Ela permanecia de olhos fechados. Ele ensaboou seus braços, seus seios e sua barriga. Passou mais sabão na esponja, espremeu-a e abriu suas pernas. Limpou as manchas vermelhas em suas coxas e passou a esponja em sua virilha, descendo a mão sem pressa. Virou-a de lado e limpou também as suas costas e nádegas, principalmente, entre elas. Vicky estava muito suja ali, naquela reentrância.

Ele pegou a toalha novamente e secou-a. Olhou para o vestido lilás, ou o que havia sobrado dele, e decidiu que ela não poderia vestir aquilo de novo. Deixou-a sozinha sobre a cama e saiu do quarto. Ao retornar, trazia em mãos uma camisa vermelha, uma calcinha branca bem pequena e uma fita amarela. A peça íntima coube perfeitamente, mas a camisa era comprida demais, parecendo um vestido. Fernando, então, passou a fita amarela em sua cintura e deu um laço na frente, girando-o até posicioná-lo em suas costas.

Admirou Vicky com orgulho, mas logo se entristeceu ao pensar que em breve ela estaria igual ou pior do que há uma hora atrás. Afofou os travesseiros da cama e sentou-a recostada neles. Vicky, finalmente, abriu os olhos.

Nesse momento, Fernando ouviu a porta abrir atrás dele. Virou-se e viu sua filha de quatro anos entrar correndo pela porta. – Ufa! – ele suspirou de alívio. – Ainda bem que ela só chegou agora. – A menina correu para a cama e puxou Vicky pelos cabelos de forma violenta.

- Obligada, papai! A Vicky tá linda de novo!


E enchendo a boneca de beijos, a menina saiu correndo arrastando-a pelo chão do quarto.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O roubo da fantasia 2

Depois de passar a madrugada do domingo de Carnaval tentando desvendar o roubo da fantasia da sra. Souto Vianna, o detetive Gonçalo estava certo de ter encontrado o culpado. Às 7h, o policial Motta retornou à delegacia trazendo consigo um café com leite num copo de plástico, na verdade, eram dois copos, um dentro do outro, pra reforçar. Tinha em mãos também um pequeno embrulho em papel grosseiro.

      Chefe, “taqui” o seu pingado, os ovos mexidos, a linguiça frita e a coxinha de galinha.

O detetive bebeu o café, mais morno do que quente, comeu os ovos junto com a linguiça e arrematou tudo com a coxinha. Depois de um sonoro arroto, se apressou em dizer:

      Motta, temos que ir! Já sabemos quem é o culpado, mas se o criminoso não confessar onde escondeu a fantasia, de nada terá valido o esforço!

Ao descerem do ônibus, na frente do condomínio onde morava a família Souto Vianna, ambos tiveram o primeiro choque. O Fusca 85 estava sem os quatro pneus!

      Chefe, pelaram o seu carro! Temos que chamar a polícia!
      E nós somos o quê?!

O policial Motta ficou uns segundos olhando para o detetive Gonçalo até soltar um sonoro “Ah, é!”

      Não temos tempo para isso agora e o Fusca não vai sair daí sem as rodas.

De qualquer forma, o detetive evitou olhar para o companheiro depenado. Sentiu mesmo um aperto no peito, mas que logo desceu para o estômago. No final, eram apenas gases. O pingado não tinha caído bem.

Ao chegarem na residência dos Souto Vianna, o detetive já foi pedindo à empregada que chamasse todos os membros da família.

     Não vai dar não. – a mulher respondeu balançando a cabeça negativamente. – O patrão foi pra fábrica logo cedo.
      E a senhora? – o detetive perguntou.
      Eu tô aqui, ué!
      Não a senhora!
      O senhor tá me confundindo! – a mulher protestou.
      Estou falando da sra. Souto Vianna!
      Ah, a patroa! Por que não disse logo? Vou chamar!

Três minutos e dois flatos depois, o detetive viu a empregada descendo as escadas acompanhada da sra. Souto Vianna.

  Nossa, acho que tem alguma coisa estragada na cozinha, melhor ir ver. – a mulher disse para a empregada. – Bom dia, detetive! Bom dia, policial!
     Bom dia, senhora! – ambos responderam.
     Já sabemos quem roubou sua fantasia – o detetive Gonçalo se apressou em dizer.
     Eu também. – a mulher disse com os olhos enfurecidos.
     Como? – surpreenderam-se o detetive e o policial.
    Ah, depois de acompanhá-los até os quartos e ouvir os depoimentos, ficou óbvio para mim! – ela disse naturalmente. – Não foi assim para os senhores?
    Na verdade, n... ui! – o policial Motta não conseguiu concluir a frase, pois seu pé direito estava sendo esmagado pelo chefe.
      Sim, claro! – o detetive Gonçalo respondeu. – Foi...
      Meu marido!
    Hã? – ambos perguntaram, certos de que havia sido a irmã perua do sr. Souto Vianna, com inveja da cunhada.
    Depois que o vi chamando azul de cerúleo e rosa de fúcsia, fiquei bastante surpresa. Quem conhece essas cores além dos carnavalescos? Mas nada foi mais óbvio do que o CD da Gloria Gaynor!
    É? – ambos perguntaram, sem entender o código escondido no CD da Gloria... Gloria o que mesmo?
   Assim que os senhores saíram, fui ao quarto do meu marido e revirei todo ele. Encontrei até calcinhas minhas! Fiz um escândalo e ameacei colocar tudo para a imprensa se minha fantasia não aparecesse imediatamente!
    Como? – ambos perguntaram, sem entender o que as calcinhas da sra. Souto Vianna estavam fazendo na história.
   Bem, meu marido foi à fábrica buscar a fantasia, pois foi lá que ele a escondeu. E ai dele se ela estiver danificada! Muito obrigada pela ajuda dos senhores, vocês foram excelentes!
    Ah! – ambos exclamaram, entendendo que estavam sendo encaminhados à porta.
   Mas que coisa! – a sra. Souto Vianna disse irritada. – Será que ela ainda não jogou no lixo a comida estragada?

Do lado de fora do condomínio, o detetive Gonçalo e o policial Motta acompanhavam o Fusca sendo colocado sobre o reboque. Em seguida, ambos se acomodaram nos bancos dianteiros do veículo rebocado.

     Chefe...
     O que é?
     É que tá difícil respirar.
     Foi o café que caiu mal! Põe a cabeça pra fora da janela que daqui a pouco passa!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O roubo da fantasia


Era Sábado de Carnaval. O detetive Gonçalo estava a caminho de sua casa de praia em Mangaratiba quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, o policial Motta o informou de um caso urgente, que só ele poderia resolver.

- Eu sou o melhor, não é mesmo? – o detetive considerou.
- Na verdade, o senhor foi o único que atendeu o telefone. Os outros todos estavam fora de área. – a verdade tinha que ser dita, afinal, o policial havia feito um juramento de só dizer a verdade, doesse a quem doesse.

Sem considerar a resposta e ciente de seu dever, o detetive Gonçalo deu meia volta com o seu Fusca 85 rebaixado e retornou à cidade.

Um pneu furado e duas horas de congestionamento depois, ele chegava à residência dos Souto Vianna, família tradicional da classe média alta carioca. O policial Motta o esperava do lado de fora do condomínio residencial, comendo um x-tudo com hambúrguer dobrado.

- E então? O que me diz?
- Muito bom chefe! E ainda vem com batata frita.
- Não tô perguntando do sanduíche, quero saber do caso!

Os dois entraram no condomínio a pé, porque o fusca engasgou e não saiu do lugar. Manifesto silencioso de quem achou que passaria alguns dias descansando à beira mar, porque Mangaratiba tem praia, e isso é fato!

A casa dos Souto Vianna era a última, da última rua do condomínio. Imponente, soberba e austera, à imagem de seu dono.

A empregada abriu a porta e os conduziu à sala de visitas. Ambiente sóbrio e muito bem decorado. Não tardou muito e a sra. Souto Vianna veio lhes falar.

- Boa tarde, detetive. Boa tarde, policial. Obrigada por terem vindo! Por favor, sentem-se.

Após os cumprimentos formais e as devidas apresentações, a sra. Souto Vianna explicou o ocorrido.

- Roubaram minha fantasia de Carnaval! Eu vou desfilar amanhã e não há como repô-la!

A dileta senhora explicou que o samba enredo da Rainha do Sobradinho era sobre a história do café e sendo sua família dona da empresa mais antiga a comercializar tal produto no país, ela havia sido convidada a desfilar no principal carro alegórico da escola. A princípio, seu marido tinha sido contrário a tal ideia, considerando incompatível com a imagem da família, no entanto, após ver o croqui da fantasia, ele reconsiderou e permitiu, mesmo contrariado, que a esposa participasse do evento.

O estilista mais renomado da atualidade e o carnavalesco da escola, haviam desenhado a fantasia especialmente para ela. O esplendor era todo em plumas de pavão oriental fúcsia cintilante, ave raríssima, só existente na ilha de Lon-Gí Ba-Gará-Iô.

Para a confecção foi necessário autorização especial da APPE - Associação Protetora dos Pavões Estranhos. Para contrastar, a fantasia também tinha plumas simples, pigmentadas artificialmente de cerúleo.

- Era minha responsabilidade zelar pela fantasia, detetive, e, agora, ela sumiu! – a mulher disse aos prantos – Não tive coragem de informar ao presidente da escola, ainda. Tenho a esperança de que o senhor solucionará este caso antes do desfile.
- Quando será? – o detetive Gonçalo perguntou olhando para o decote da jovem senhora, apenas para se certificar de que a fantasia não teria sido esquecida ali, debaixo de toda aquela fartura.
- Às 22h de amanhã. – a sra. Souto Vianna respondeu cobrindo, conscientemente, o colo com seu xale de seda marroquina.
- Muito bem! – ele consultou o pulso, sem relógio, apenas para disfarçar o cosntrangimento de ter sido flagrado. – Quanto tempo nós temos policial Motta?
- Hum... são 16h agora, chefe... isso dá... deixa eu ver... eh...
- 30 horas. – a mulher disse impaciente.
- Ok! Preciso da relação de todas as pessoas que tiveram acesso à casa desde que a fantasia chegou! – o detetive Gonçalo declarou, já puxando seu caderninho do bolso de trás da calça jeans.
- Sim, senhor. Somente os moradores da casa estiveram aqui.

   Com a relação em mãos, o detetive foi aos quartos de todos os suspeitos.

O IRMÃO NERD
No quarto do irmão da sra. Souto Vianna, o detetive encontrou: uma mochila com uma pluma dentro (- não sei o que esta pena magenta tá fazendo aí), um pó brilhante sobre o teclado do computador (- resquício de uma substância para lubrificar as teclas), um lençol manchado (- joguei uma toalha ciano, molhada, em cima da cama).

A IRMÃ PERUA
No quarto da irmã do sr. Souto Vianna, eles acharam: uma mala com uma pluma dentro (- peguei essa pluma da fantasia, sim, mas apenas porque adoro pink!), um pó brilhante sobre o balcão da pia (- deixei cair minha sombra com glitter), uma fronha manchada (- eu deitei com os cabelos molhados enrolados em uma touca azul celeste).

O MARIDO
No quarto do sr. Souto Vianna, o policial achou: uma bolsa de viagem com uma pluma dentro (- como vou saber o porquê dessa pluma fúcsia estar aqui?), um pó brilhante nas capas de CD da Filarmônica de Berlim e da Gloria Gaynor (- eu sujei as mãos com o metalizado das embalagens de café), uma toalha manchada (- usamos cerúleo no corante das embalagens, eu devo ter lavado mal as mãos).

A EMPREGADA
No quarto da empregada também havia pistas: uma sacola grande da Casa e Vídeo com uma pluma dentro (- ai, seu detetive, eu peguei esse troço rosa lá do chão do quarto, ia colocar no altar da minha santinha), um pó brilhante na capa do DVD do Naldo na Veia (- eu botei o DVD pra tocar quando fui ajeitar a fantasia no quarto da patroa, daí sujei as mãos com purpurina, mas não diz pra ela que eu assisti lá não, ela manda eu embora. Só vi lá porque tem telão de cinema), uma blusa manchada (- é o sabão em pó Limpex que eu uso pra lavar minhas roupas, ele mancha tudo de azul).

O detetive Gonçalo e o policial Motta seguiram para a delgacia, de ônibus, visto que o fusca deu seu último suspiro. Durante toda a madrugada eles analisaram as declarações e pela manhã, considerando todas as respostas, eles retornaram à residência dos Souto Vianna. Ainda não sabiam onde a fantasia estava, mas já sabiam quem a havia roubado!