Depois de
passar a madrugada do domingo de Carnaval tentando desvendar o roubo da
fantasia da sra. Souto Vianna, o detetive Gonçalo estava certo de ter
encontrado o culpado. Às 7h, o policial Motta retornou à delegacia trazendo
consigo um café com leite num copo de plástico, na verdade, eram dois copos, um
dentro do outro, pra reforçar. Tinha em mãos também um pequeno embrulho em
papel grosseiro.
‒
Chefe, “taqui” o seu pingado, os ovos mexidos, a
linguiça frita e a coxinha de galinha.
O detetive
bebeu o café, mais morno do que quente, comeu os ovos junto com a linguiça e
arrematou tudo com a coxinha. Depois de um sonoro arroto, se apressou em dizer:
‒
Motta, temos que ir! Já sabemos quem é o culpado, mas
se o criminoso não confessar onde escondeu a fantasia, de nada terá valido o
esforço!
Ao descerem do
ônibus, na frente do condomínio onde morava a família Souto Vianna, ambos
tiveram o primeiro choque. O Fusca 85 estava sem os quatro pneus!
‒
Chefe, pelaram o seu carro! Temos que chamar a polícia!
‒
E nós somos o quê?!
O policial
Motta ficou uns segundos olhando para o detetive Gonçalo até soltar um sonoro
“Ah, é!”
‒
Não temos tempo para isso agora e o Fusca não vai sair
daí sem as rodas.
De qualquer
forma, o detetive evitou olhar para o companheiro depenado. Sentiu mesmo um
aperto no peito, mas que logo desceu para o estômago. No final, eram apenas
gases. O pingado não tinha caído bem.
Ao chegarem na
residência dos Souto Vianna, o detetive já foi pedindo à empregada que chamasse
todos os membros da família.
‒ Não vai dar não. – a mulher respondeu balançando a
cabeça negativamente. – O patrão foi pra fábrica logo cedo.
‒
E a senhora? – o detetive perguntou.
‒
Eu tô aqui, ué!
‒
Não a senhora!
‒
O senhor tá me confundindo! – a mulher protestou.
‒
Estou falando da sra. Souto Vianna!
‒
Ah, a patroa! Por que não disse logo? Vou chamar!
Três minutos e
dois flatos depois, o detetive viu a empregada descendo as escadas acompanhada
da sra. Souto Vianna.
‒ Nossa, acho que tem alguma coisa estragada na cozinha,
melhor ir ver. – a mulher disse para a empregada. – Bom dia, detetive! Bom dia,
policial!
‒ Bom dia, senhora! – ambos responderam.
‒ Já sabemos quem roubou sua fantasia – o detetive
Gonçalo se apressou em dizer.
‒ Eu também. – a mulher disse com os olhos enfurecidos.
‒ Como? – surpreenderam-se o detetive e o policial.
‒ Ah, depois de acompanhá-los até os quartos e ouvir os
depoimentos, ficou óbvio para mim! – ela disse naturalmente. – Não foi assim
para os senhores?
‒ Na verdade, n... ui! – o policial Motta não conseguiu
concluir a frase, pois seu pé direito estava sendo esmagado pelo chefe.
‒
Sim, claro! – o detetive Gonçalo respondeu. – Foi...
‒
Meu marido!
‒ Hã? – ambos perguntaram, certos de que havia sido a
irmã perua do sr. Souto Vianna, com inveja da cunhada.
‒ Depois que o vi chamando azul de cerúleo e rosa de
fúcsia, fiquei bastante surpresa. Quem conhece essas cores além dos
carnavalescos? Mas nada foi mais óbvio do que o CD da Gloria Gaynor!
‒ É? – ambos perguntaram, sem entender o código escondido
no CD da Gloria... Gloria o que mesmo?
‒ Assim que os senhores saíram, fui ao quarto do meu
marido e revirei todo ele. Encontrei até calcinhas minhas! Fiz um escândalo e
ameacei colocar tudo para a imprensa se minha fantasia não aparecesse
imediatamente!
‒ Como? – ambos perguntaram, sem entender o que as
calcinhas da sra. Souto Vianna estavam fazendo na história.
‒ Bem, meu marido foi à fábrica buscar a fantasia, pois
foi lá que ele a escondeu. E ai dele se ela estiver danificada! Muito obrigada
pela ajuda dos senhores, vocês foram excelentes!
‒ Ah! – ambos exclamaram, entendendo que estavam sendo
encaminhados à porta.
‒ Mas que coisa! – a sra. Souto Vianna disse irritada. –
Será que ela ainda não jogou no lixo a comida estragada?
Do lado de
fora do condomínio, o detetive Gonçalo e o policial Motta acompanhavam o Fusca
sendo colocado sobre o reboque. Em seguida, ambos se acomodaram nos bancos
dianteiros do veículo rebocado.
‒ Chefe...
‒ O que é?
‒ É que tá difícil respirar.
‒ Foi o café que caiu mal! Põe a cabeça pra fora da
janela que daqui a pouco passa!