domingo, 26 de junho de 2011

Casamento na Roça


O Padre está no altar quase dormindo em pé. A noiva (barriguda), anda de um lado para outro, roendo as unhas, a mãe tenta consolá-la, mas ela permanece aflita.

Barulho de tiro.

Os convidados se assustam, a noiva abraça a mãe, o padre quase cai do altar.

Noiva: Ai minha mãezinha, que baruio foi esse?

Padre (olhando para o céu): Deve ter sido São Pedro mandando um trovão...

O pai da noiva (Coronel Tião Matamil) entra na Igreja, arrastando o noivo pela orelha com uma mão e segurando uma espingarda com a outra.

Coronel Matamil: Que truvão que nada seu Padre, foi a Gracinha mandano um arviso prum sujeitim safado.

Padre: Gracinha, mas quem é Gracinha seu Coronel?

Coronel: Ara seu Padre! Cum todo respeito que lhe tenho, mas que lezera, sô! Gracinha é essa belezura que tá aqui na minha mão. (Mostra a espingarda e dá um beijo nela).

Padre: Mas por que Gracinha seu Coronel?

Coronel: Olhe só seu Padre. (O Coronel aponta a espingarda na cara do noivo que se treme mais do que nunca). Ela é ou não é uma Gracinha?

Noivo: É claro que é seu Coronér, claro que é. (O noivo dá um beijinho na espingarda). Que Gracinha, que Gracinha.

A noiva corre para o noivo e se abraça a ele.

Noiva: Ara paizinho, sorta meu noivo, assim ocê vai matá o coitadim.

Mãe da noiva: Carma Tião, sorta o menino.

O noivo faz cara de coitadinho e se aconchega na noiva.

Coronel: Mas se eu sortá ele, o danado foge e eu vou tê de fazê o disgramado beijá a Gracinha antes de beijá a Chiquinha. (O noivo se encolhe mais ainda e agarra a noiva. O Coronel se revolta). E ocê larga dela seu cabra safado, vai casá primero.

Padre: O senhor me desculpe Coronel, mas depois disso (aponta para a barriga da noiva), que diferença faz...

Coronel (furioso): Seu Padre, seu padre, faça logo esse casório e deixe de prosa, que eu acabo esqueceno que o senhor é quem é.

Mãe da noiva: Ô Tião, isso são modos de falá com o Padre?

Padre (desconcertado, pigarreando): Muito bem então. (Se dirigindo aos noivos) Fiquem aqui meus filhos.

Os noivos ficam ao lado um do outro, de frente para o Padre. O Coronel fica ao lado da esposa e de cara feia para o noivo, que mal tem coragem de olhar para o sogro.

Padre: Chiquinha Dadivosa, promete dar seu coração completamente para seu noivo?

Noivo: Só o coração seu Padre?

Coronel (dando um tapa na cabeça do noivo): É que o resto ela já te deu seu cabra da muléstia. (A noiva faz carinho na cabeça do noivo)

Mãe do Noiva: Ô Tião, ocê se acarme hômi.

Noiva: Pára paizinho, assim ocê arranca a cabeça dele.

Coronel: Mas eu tô mesmo é com vontade de arrancar outra cabeça. (o noivo põe a mão entre as pernas e engole seco)

Noiva (se colocando entre o noivo e o pai): Paizinho!!! Ocê qué me deixá viúva antes de eu casá?

Coronel: Antes não, qui tu fica falada, mas dispois...

Mãe da Noiva: Deixa de bobageira Tião.

Padre: Calma, calma. Vamos continuar a cerimônia. Zé Jumento, promete preencher a vida de sua noiva de felicidade todos os dias de sua vida?

Noiva: Mas seu Padre, se o Zé me preenchê trêis vêiz por semana, eu já vô sê muito feliz. (Os noivos se olham cheios de dengo e sorrindo um pro outro)

Coronel (irritado): Ara, deixa de falá asneira menina. (falando com o Padre). Abençoa logo isso antes que eu mostre pruquê sou o Coronér Matamil... pruquê até agora foram 999 que eu mandei conversar com São Pedro, só farta mais um.

Padre: Está bem, está bem. Com o poder a mim dado por Deus, eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.

Coronel: Que beijá noiva que nada, vamo andando, vamo andano antes que eu mude de idéia e arresorva te deixá viúva aqui mesmo.

Noiva: Pára paizinho, agora já casamo, deixa o Zé em paz.

Coronel: Pois é melhó esse Zé Jumento sair da minha frente antes que eu atransforme ele em égua.

O noivo sai correndo, o Coronel atrás, a noiva sai chorando e brigando com o pai, a mãe corre atrás da filha e o Padre, por último, vai fazendo o sinal da cruz.

Um comentário:

Cristiane Lira disse...

Em tempos de festas juninas, julinas e agostinas, lembrei-me deste esquete que escrevi em 2005. Se alguém se interessar por ele, pode usá-lo, só não pode esquecer de mencionar a autoria.