Ernesto chegou cedo ao trabalho e foi logo à sala do chefe. Queria sondar uma possível promoção. Há oito anos ingressara no Setor de Marketing da empresa e algumas de suas idéias já tinham proporcionado o aumento das vendas de diversos produtos. A companhia vinha crescendo aos poucos e ele queria crescer junto. O pedido era justo!
Resolveu esperar no pequeno sofá do lado de fora. A bolsa de Rosa (Ah, Rosinha!), a secretária, estava pendurada na cadeira, mas nem sinal de sua dona (provavelmente, tinha ido à copa tomar um café). Ele olhou o relógio e achou que daria tempo de dar uma mijada antes. Levantou-se em direção à escada, pois só havia banheiro no andar de baixo (que saco!). Parou, de repente, lembrando que tinha um banheiro exclusivo na sala do chefe (se eu for rapidinho ninguém vai nem saber).
Ernesto deu uma batidinha na porta da sala, como não teve resposta, abriu-a bem devagar. Confirmou que ela estava vazia e foi direto ao banheiro. Ambiente espaçoso (se duvidar, é maior que minha sala, fala sério!) e bem decorado. Assim, ele se distraiu com o quadro na parede, as velas sobre a pia, a toalha de mão bordada com as iniciais do nome do chefe... e, antes que pudesse levantar a tampa do vaso, Ernesto ouviu a porta da sala se abrir. Reconheceu a voz do chefe e de Fernando, seu amigo engenheiro (por que ele estava ali tão cedo também?). Sentou sobre a tampa do vaso e procurou ficar calmo (droga! acabei nem mijando!).
- Pois é chefe, é como estou te dizendo, relutei muito em te contar isso, mas não dava mais para omitir algo tão sério.
- Você tem certeza do que está me dizendo?
- O senhor não sabe como me dói admitir a verdade, eu o acompanhei desde o início, mas a última explosão dele foi decisiva para que eu viesse lhe procurar.
- Nesse caso...
Mas, antes que o chefe pudesse concluir sua frase, um celular tocou. Ernesto não ouvia mais a voz de Fernando e não conseguia compreender direito o que o chefe conversava ao telefone, então, tentou imaginar sobre quem estariam falando. A empresa era relativamente pequena e ele começou a passar em mente todos os empregados, principalmente, algum mais marrento, que tivesse explodido recentemente (quem seria o mané “estouradinho”?). Ernesto percebeu que a conversa ao telefone cessara e resolveu ficar mais próximo da porta para ver se descobria quem era o tal fulano. Ao se levantar, no entanto, sentiu a primeira fisgada na bexiga (caraca, tô ficando apertado).
- Fernando, eu quero saber em que condições ele explodiu. Não pode ter sido assim, à toa.
- Na verdade, eu ainda não consegui encontrar o motivo, mas eu estava com ele na copa, não havia nenhum tipo de pressão a mais e ele de repente, boom, foi em cima da Rosa!
- Da Rosa? Coitada! Mas o que você estava fazendo com ele lá?
- Ah, chefe, era hora do almoço e a gente costuma trazer qualquer coisa para comer aqui mesmo.
- Procure a Rosa, por favor, peça que ela venha aqui. Quero saber qual foi a percepção dela.
Ernesto estava começando a ficar roxo. Primeiro, porque a vontade de urinar estava se tornando muito incômoda e, segundo, porque tinha certeza que o f-d-p do “amigo” Fernando estava falando dele (covarde! isso é o que ele é! como pode me trair pelas costas assim!?). Ele lembrou que na semana anterior havia acontecido um incidente na copa durante o almoço. Algum colega, de sacanagem, roubara o filé de salmão de sua quentinha e ele soltou os cachorros em quem estava lá. A Rosa ainda tentou contornar a situação, dividindo metade de seu filé de frango mas ele ficou mais puto ainda (onde já se viu, comparar um salmão grelhado com um frango desbotado?). Ernesto ouviu as vozes de Fernando e Rosa.
- Vai Rosa, conta para o chefe como foi horrível aquele dia.
- Ai, chefe, é verdade, ele veio em cima de mim e quase que eu me ferro. Juro que eu fiquei muito assustada.
(aquela vaca! só porque eu falei mal daquela carne anêmica na quentinha dela... como mulher é vingativa!)
Ernesto já estava com a mão grudada nas partes baixas, a vontade de urinar já não o deixava pensar direito. Ele ouviu a voz do chefe.
- Então, já que é assim como vocês estão dizendo, vamos ter que nos desfazer dele... que chato!
(desfazer de mim? vão me despedir? como assim? e quem roubou meu salmão?)
- Ehhh, tem mais uma coisa chefe. O Fernando não sabe e eu fico sem graça de contar porque eu sei que não deveria ter feito.
- Diga, Rosa, o que foi?
- Eu fui com ele para casa um dia...
(hãã? ela não vai contar isso!!! isso não!)
- Para sua casa?
- É...
- Mas por quê?
(cala a boca, cala a boca! ai meu Deus, eu vou me mijar todo já, já)
- Bem, isso foi antes desse outro dia que o Fernando contou. É que eu estava curiosa, queria experimentar...
(eu não acredito, ela vai contar que eu brochei em nosso único encontro? o que isso tem a ver? eu estava nervoso sua cretina!)
- E o que aconteceu?
- Ele meio que não deu conta...
(vaca, vaca, ai tá começando a escorrer)
- E...?
Nessa hora, Ernesto não aguentou. Sentindo que ia se mijar de tão apertado que estava, resolveu aloprar. Já ia ser demitido mesmo, então, que se danassem todos! O chefe bundão que fica dando ouvido a fofocas; o amigo urso que, provavelmente, está de olho na promoção e quer tirá-lo do caminho; a doce e falsa Rosa, que decidiu ridicularizá-lo publicamente! Abrindo a porta de supetão, Ernesto colocou o falo (com tesão de mijo) para fora da calça e começou a urinar ali mesmo, no meio da sala, diante dos olhares atônitos das três pessoas que sequer imaginavam sua presença ali e que estavam, nitidamente, com dificuldade para compreender o que ele estava fazendo.
- E agora, o que vocês dizem sobre isso? Estão surpresos? Acham que além de explosivo eu sou louco também?
- Ernesto! O que significa isto? – perguntou Fernando com cara de abobado, já que o chefe parecia nem respirar e Rosa faltava pouco para desmaiar.
- Eu é que pergunto, que conversa é esta pelas minhas costas?
- Cara, não estou entendendo, eu não sabia que você queria estar junto na hora de contarmos ao chefe que o protótipo do recipiente plástico para acondicionamento de líquidos em alta temperatura não está passando nos testes, que temos relatos de explosão, amolecimento do material...
- Protótipo... recipiente plástico? – Ernesto perguntou confuso segurando o falo já adormecido pela bexiga aliviada.
- É Ernesto, protótipo! Este que está em cima da mesa! Você tá maluco? Coloca esta coisa para dentro das calças! – Fernando ordenou nervoso.
- Você estava falando do protótipo também Rosa? – Ernesto se virou de rosto, corpo e membro na mão para a secretária.
- E eu ia falar de quê? Eu peguei um do mostruário para ver se suportava óleo fervendo, mas ele começou a amolecer! – Rosa falou aos gritos, tampando os olhos com falsa vergonha.
Nessa hora, o chefe, que até então permanecera calado, afastou Fernando e Rosa da sua frente e, com olhar de fúria, indagou Ernesto:
- Eu espero que o senhor tenha uma e-x-c-e-l-e-n-t-e explicação para estar esse tempo todo escondido no meu banheiro, ter mijado no meio da minha sala e ainda estar com o pau para fora das calças!
Foi então que Ernesto percebeu o tamanho da M... que tinha feito. Calmamente guardou o “fulaninho” e abotoou as calças. Respirou fundo e, olhando nos olhos do chefe, respondeu:
- Esta encenação foi apenas uma sugestão para a nova campanha da nossa marca. Pensei em um cara meio maluco saindo nu de dentro de uma caixa de presente gigante no meio de uma festa, gritando “Surpresa!”. Aí, nessa hora, a cena congela e ouve-se em off ...
Você quer muito fazer uma surpresa, mas tem medo de exagerar? Dê produtos Jelix, o jeito certo para surpreender e agradar!
- E, então? Aquela vaga de Supervisor já tem dono?
2 comentários:
Ouvir atrás da porta é algo muito feio... O que você faria se tivesse ouvido o que Ernesto ouviu? Alopraria também?
Ri bastante do Ernesto.Genial! Você deveria escrever para "Seleções" e ganhar um dinheirinho!
Beijos!
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