segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O primeiro encontro a gente nunca esquece...

Zuleide sempre foi uma mulher de personalidade forte. Mas, apesar disso e da beleza radiante, era uma pessoa tímida para encontros. No trabalho se destacava pelo poder de liderança. Na vida pessoal estava sempre rodeada de amigos que a admiravam muito, no entanto, quando o assunto era ‘relacionamento’, Zuleide amarelava. Ficava sem graça, desconversava, fazia que não entendia o flerte.
Acontece que o tempo foi passando, os amigos de Zuleide foram namorando, casando ou ‘se enrolando’ e ela sempre sozinha. Um dia, uma amiga deu-lhe um ultimato:

– Menina (e Zuleide já não era tão menina assim, mas amiga que é amiga serve para dar essa enganada na gente, certo?), você precisa parar com essa fobia de homem!
– E quem disse que eu tenho isso? – ela repondeu ofendida.
– Ah, pra cima de mim, Zu? Tá na cara que você vive fugindo de tudo que é encontro.
– Não é bem assim...
– Claro que é! Ou você vai no encontro que eu te arrumei ou eu paro de sair contigo. Onde já se viu? Uma mulher tão bonita e inteligente que não sabe se relacionar com o sexo oposto!
– Mas é que eu nunca sei o que dizer. Fico insegura, acho que vou cometer alguma gafe horrível, vou pagar mico, sei lá.
– Nada disso, Zu. Você é uma mulher incrível e sua conversa é ótima! Basta ser você mesma. Além disso, o Maurinho é um cara super legal, além de bonito e sensível, coisa rara. O encontro é na Sexta e ele vai te buscar na saída do trabalho, não tem conversa.

Diante da decisão da amiga, Zuleide não teve como fugir. Na Quinta antes do tal encontro, saiu mais cedo do trabalho e encarou o ritual padrão. Depilou o que tinha que ser depilado (apostou na clássica pista de pouso francesa, para ficar no meio termo), foi à manicure, fez escova, sobrancelha e, para finalizar, se submeteu a um banho de lua.

Na Sexta, parecia que todo mundo já sabia que Zuleide ia sair com alguém. Alguns comentários vagos, piscadelas de olho e, claro, o famoso ‘mala’ que não perde a oportunidade para ser inconveniente: – Aí, gostei de ver, hoje tem em Zuzu!

Finalmente, o dia acabou e o telefone tocou, era da Portaria. O sr. Mauro a aguardava. Zuleide olhou para o relógio que marcava 19h e computou um ponto positivo para o rapaz. Era pontual. Ela pegou um espelhinho na bolsa e deu uma última olhada em si mesma, retocou o batom e desceu. “Seja o que Deus quiser!”

O porteiro indicou à Zuleide quem era o rapaz que a esperava. Os dois se cumprimentaram, ele a levou ao carro e seguiram para o restaurante. Mauro era exatamente como a amiga dissera: legal, bonito e sensível. Desde o primeiro instante fez Zuleide se sentir super à vontade. Contou piadas para relaxar, mas não errou na dose. Colocou músicas conhecidas para que ela se distraísse e não deixou o papo cair. Quando estacionou, fez questão que ela esperasse no carro para que pudesse abrir a porta e ajudá-la a sair. No salão do restaurante, puxou a cadeira para ela sentar e orientou-a na escolha do prato, pois era a primeira vez que Zuleide ia àquele restaurante e Mauro já conhecia o menu.

As horas foram passando e alguns espumantes depois, Zuleide já estava totalmente relaxada. A conversa fluía naturalmente e ela estava super feliz de ter aceitado o encontro. Sentia que aquele era apenas o primeiro de uma série. Mas em dado momento, a ingestão de líquidos se fez valer e Zuleide pediu licença para ir ao toilette.

Ocorre que determinadas situações só acontecem no Rio de Janeiro. Apesar do restaurante ter uma cozinha maravilhosa e uma boa aparência, o banheiro era um lixo. Para começar, só havia um! Teve que esperar, pacientemente, que as cinco mulheres a sua frente entrassem uma de cada vez. E todas sairam indignadas, reclamando da imundície lá dentro. Mas ouvir não é a mesma coisa que ver, e Zuleide teve vontade de vomitar com a situação grotesca. O local era um cubículo e ela teve o máximo cuidado para que a saia longa não tocasse em nada. O vaso estava todo manchado de vermelho e havia mijo para todo o lado, um desastre!

– Por que essas mulheres são tão porcas? Que nojo!

Zuleide pensou em desistir, mas não queria estragar a noite tão agradável pedindo para ir embora, pois não aguentaria ficar mais vinte minutos com a bexiga cheia. O jeito era encarar, tomando os devidos cuidados, claro. Primeiro, ela cuidou da saia. Puxou-a toda para a frente, fez um enrolado com o tecido e o prendeu no elástico da cintura. Em seguida, quase sem respirar e se movendo lentamente, tirou a calcinha (pois iria mijar em pé) e, com muita criatividade, pendurou-a de forma que não tocasse em nada. Abriu e arqueou as pernas o suficiente para não tocar nem no vaso, nem nas paredes laterais, e deixou o xixi sair, rezando para que não corresse pelas coxas. Após alguns minutos de tensão (ela esta muuuito apertada), Zuleide concluiu a tarefa. Aliviada, soltou a saia e se ajeitou como deu ali naquele cubículo. Para fugir do tumulto na porta do banheiro (a fila já estava com umas dez mulheres desesperadas), usou o gel ao lado da porta do banheiro masculino para higienizar as mãos e voltou para a mesa.

Atravessou o salão quase correndo, preocupada em ter deixado Maurinho tanto tempo sozinho. Avistou o rapaz que a olhava com surpresa e ao sentar já foi se explicando:

– Desculpe-me por ter demorado tanto, mas você não imagina a confusão que está no banheiro feminino.
– Tudo bem, é que...
– Eu sei, eu sei, você já devia estar preocupado, não?
– Sim, mas...
– Ah, pensou que eu fosse fugir, hein? – Zuleide riu, cheia de confiança, já se sentindo íntima do rapaz.
– Não é isso...

O garçom encostou e olhou sorrindo para Zuleide.

– Você pode me trazer o menu da sobremesa? - ela pediu.
Maurinho segurou as mãos de Zuleide firmemente:
– Zu, olha pra mim!
Estranhando a reação do moço, ela perguntou desconfiada:
– O que foi Mauro, você não quer que eu peça sobremesa?
– Não é nada disso...
– O que foi, então?

E Maurinho resolveu dizer logo, antes que ela o interrompesse mais uma vez:

– Zuleide, eu não sei o que aconteceu lá dentro, mas você está com uma calcinha vermelha em volta da cabeça!

7 comentários:

Cristiane Lira disse...

Obviamente mudando o contexto, Zuleide é mais uma inspiração de fatos quase reais. O "Romildo" se identificou e me enviou um e-mail horas depois do texto postado no blog. Será que a "Zuleide" também vai se identificar? Essa eu acho mais difícil, vamos ver, rsrsrs.

Leandro Felicissimo disse...

Tomara que tenha sido apenas inspiração mesmo, imagina isso numa situação real??rsrs
Adorei Cris!!
Bjão

Renata Teixeira disse...

Oh Deus! Faz esse restaurante ser no 8o andar do Botafogo Praia Shopping pra Zú poder pular de lá sem o risco de sobreviver!

Aurelio disse...

Os encontros héteros são assim normalmente? Tô fora! (risos)

Cristiane Lira disse...

A "Zuleide" da vida real ainda não se identificou, mas, será que se eu disser que no lugar da calcinha na cabeça ela desfilou pelo restaurante com a saia presa na calcinha e a retaguarda toda de fora, ela veste a carapuça? rsrsrs

Anônimo disse...

Hahahaha...Eu imaginei essa cena mesmo. A calcinha presa na saia... putzzz... isso é TÃO comum e constrangedor, principalmente se estiver de meia-calça...

Muito bom, Cris! A historinha foi envolvente e bem humorada.
Bjs.
Alice

Ney disse...

Texto cheio de humor e gostoso de ler. Minha querida Chrystianne Lyra merece um livro. Aqui no SENAI existe a fábrica de livros onde autores talentosos (às vezes nem tanto) podem publicar pequenas tiragens a um preço convidativo. Beijão procê!