sexta-feira, 22 de julho de 2011

Happy Hour

Depois de quase três meses de muita insistência floreada de cortejos, Romildo já não tinha mais repertório para tentar convencer Clarinha a tomar um chope com ele. A resposta da colega de trabalho era sempre a mesma: - Eu tenho namorado Romildo, não fica bem.
É, ele já estava perdendo as esperanças, não sabia mais o que dizer para driblar a resistência da moça. Criava todas as situações possíveis para ficar a sós com ela no cafezinho da Copa, na máquina de xerox, na saída para o almoço... mas bastava Clarinha perceber que só estavam os dois, que dava um jeito de escapulir.
Até que um dia, Romildo estava conferindo um estoque de canetas novas que havia chegado pela manhã quando percebeu Clarinha em pé ao seu lado. Os olhos vermelhos de quem havia chorado, as mãos nervosas apertando os dedos freneticamente, os cachos mais volumosos do que o normal.
- Aconteceu alguma coisa Clarinha?
Romildo perguntou já se levantando e vendo ali uma oportunidade de ficar mais próximo.
- Você ainda quer sair para tomar aquele chope?
- Quero, mas...
Clarinha não o deixou concluir a frase.
- Então, tem que ser hoje. A gente se encontra neste endereço. – ela tirou um pedaço de papel do bolso do jeans apertado e enfiou-o no bolso da camisa dele. – Eu vou sair às cinco e você sai uns vinte minutos depois. Não quero que ninguém daqui saiba, você entende, né?
Mas Romildo não teve tempo de responder. Clarinha saiu repentinamente, da mesma forma que entrou. Ainda eram dez horas da manhã e ele não conseguia mais se concentrar no trabalho. Passou o dia ensaiando a conversa que teriam, pensando no que dizer para não falar bobagem. Se fizesse tudo direito, talvez até conseguisse dar uns “pegas” na moça.
Quando chegou o fim do expediente, os colegas se despediram e Clarinha saiu junto com eles. Romildo se ofereceu para trancar a loja, assim, ganharia tempo para que ninguém visse que ele e Clarinha tinham planos juntos.
Vinte minutos depois, Romildo pegava o papel no bolso da camisa e ia rumo ao encontro tão desejado com Clarinha. O local era um bar, afastado da área comercial onde trabalhavam, mas que dava para ir a pé. Entrou e viu a moça sentada em uma mesa no canto, sua fisionomia estava tensa e ela arregalou os olhos quando o viu. Levantou-se subitamente, quase derrubando a garrafa d’água que estava sobre a mesa. Foi quando Romildo reparou que havia dois copos cheios. Mal teve tempo de se aproximar dela, um vulto musculoso passou em direção à Clarinha e deu-lhe um beijo na boca, daqueles que dão a impressão que a língua quer resgatar alguma coisa presa na garganta da outra pessoa.
Romildo ficou atônito com aquela cena, não sabia o que fazer. – Que diabos está acontecendo? – ele perguntou a si mesmo.
Ficou parado ali, diante do casal, sem mexer um músculo sequer. O brutamontes que descolara a boca desentupidora de pia dos lábios delicados de Clarinha, percebendo aquela figura estática diante deles, perguntou já em tom de briga:
- Qualé mermão, tá olhando o quê?
Levou meio segundo para que Clarinha sorrise para ele dizendo:
- Rominho, querido, como você vai? – e virando-se para o galalau – Amor, você não vai acreditar, este é meu cabelereiro.
Percebendo a deixa da moça, Romildo transfigurou-se e usando todos os estereotipos que sabia, respondeu com voz afetada:
- Moooonaaaaa, você por aqui?
Dali em diante os três sentaram-se e conversaram por horas. Clarinha contou que estava entrando no bar quando seu namorado Valcyr a segurou pelo braço. Eles haviam brigado na noite anterior e o rapaz inconformado, a esperara na saída do trabalho, seguindo-a até o bar. Não acreditando que ela estivesse ali sozinha, entrou e esperou para ver se não iria aparecer algum marmanjo atrás dela. Chegou até a desconfiar do cabelereiro.
- Sabe Rominho – disse o namorado de Clarinha – eu achei que isso era armação, fiquei meio bolado no início, mas agora tô vendo que você é florzinha mesmo. – e deu um apertão na coxa de Romildo, soltando uma gargalhada que atraiu todos os olhares.
Já passava da meia-noite quando se despediram. Clarinha foi embora com Valcyr e Romildo seguiu em direção ao ponto de ônibus. Não sabia se estava puto, decepcionado ou as duas coisas. – Tanto tempo esperando por este dia e o babaca resolve aparecer para estragar minha chance! E ainda me chama de “florzinha”, fala sério!
E em meio aos pensamentos confusos e revoltados, Romildo entrou no ônibus, mas ao pegar o dinheiro da passagem, um papel caiu do bolso traseiro da sua calça. Pegou-o para ver do que se tratava e ficou boquiaberto com o que estava escrito nele:
- Rô, você é realmente uma flor. Me amarrei na tua. Vou dar um jeito de pegar teu telefone com a Clarinha sem que ela desconfie de nada. Quero te pegar de jeito. Foi amor à primeira vista. Beijos, Valcyr.

2 comentários:

Cristiane Lira disse...

O que você faria no lugar de Romildo?
Este texto foi inspirado na história real de um amigo. Ele vai se reconhecer nesta crônica. Só quero ver se vai ter coragem de comentar! rsrsrsrs

Renata Teixeira disse...

Fala sério!!!! kkkkkkkkkk!!! Se eu fosse o Romildo entregaria o bilhete para a Clarinha no dia seguinte: "Amiguinha, olha que é teu guarda-roupas 4x4"!!!! kkkkkkk
Amei o post Cris!!!!