Que mecanismo é esse que é acionado dentro de nós quando somos privados daquela pessoa que tanto amamos?
Existem pessoas com as quais passamos semanas, meses e até anos sem ter qualquer contato mais próximo, mas sabemos que ela está disponível e que podemos procurá-la quando quisermos, ou pudermos, ou tivermos tempo...
Mas, de repente, tudo muda e essa pessoa sai de nossa vida repentinamente... o efeito lembra uma hemorragia interna. A gente parece bem por fora mas, por dentro, todo o organismo está comprometido. Os músculos vivem tensos, a cabeça está sempre distante, nostálgica, a respiração é apenas aquela suficiente para nos mantermos vivos, os olhos quase sempre vermelhos, e o coração... ah, o coração! Coitado! Este é o que mais sofre. Recebe toda a carga de dor, toda a pressão da culpa, da cobrança, do remorso, da saudade.
É aí que entra o “se...”. Nunca vi duas letrinhas tão prejudiciais quanto essas. O “se” nos mantém presos ao passado. Nos coloca em um looping do qual temos enorme dificuldade de sair. “Se eu tivesse feito assim”, ‘Se eu não tivesse dito aquilo”. Nada é mais cruel, porque não podemos voltar no tempo (ainda não!) e ficamos emperrados, não conseguimos ir adiante. Às vezes até saímos do lugar, mas são dois passos para frente e um para trás.
Eu queria, só por hoje, não sentir essa dor para a qual não existe analgésico, nem cura. Mas o máximo que é possível fazer é aprender a conviver com ela. E, nossa, como é difícil!
Perder um amor carnal é fácil. Dói igual topada com o dedinho do pé. Você acha que nunca vai passar, mas passa. Pode ser até que deixe uma marquinha, fique inchado um pouquinho, mas passa. Amor carnal é igual a prato predileto. Você jura que não vive sem comer a pizza do seu Pepe, até que descobre aquela empadinha de camarão da dona Jurema. No começo você frequenta os dois e fica assim, tentando se decidir. E quando acha que não é capaz de escolher entre um e outro, boom! Eis que abre logo ali na esquina, o pastel de catupiry do Betão. Aí ferrou, você larga tudo e cai de boca. Pois é, amor carnal é assim, volúvel demais.
O que dói mesmo, e não só no corpo, mas na alma também, é perder amor fraterno. Este, sim, é paulada na moleira. Porque amor fraterno é como um quebra-cabeça que você vai construindo ao longo da vida. Uma peça de cada vez... tá todo mundo lá, pai, mãe (biológicos ou do coração), irmãos (de sangue ou de fé), amigos... ah, os amigos! Estes seres que dão sentido à nossa vida. E, assim, formamos uma linda imagem, uma paisagem feita de laços indestrutíveis. Aí, você perde uma peça. Que coisa feia que fica. O cenário está lá, mas tem um espaço vago. Quanto menor o seu quebra-cabeça, maior o dano. Mas seja qual for o tamanho, a paisagem estará comprometida para sempre com a peça que se perdeu. Você até enxerga o todo e acha que dá para levar assim mesmo, mas quando fixa o olhar naquele espacinho vazio, como dói.
Dói porque você sabe que tinha uma peça ali. Você sabe o formato dela, sabe a cor, sabe exatamente que parte ela complementava, e nunca vai esquecer dela, porque mesmo que você não tenha completado o seu quebra-cabeça ainda, nenhuma outra peça vai preencher aquele vazio, ele é único e somente uma peça encaixa ali e é exatamente aquela que você perdeu...
Um comentário:
Exatamente isso, estou passando. Tá faltando uma peça do quebra cabeça. Como dói.
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