Depois de interrogar os quatro empregados de confiança da senhora Lamarck, o detetive Gonçalo deixou a biblioteca acompanhado pelo policial Motta e dirigiu-se à sala de estar, onde era aguardado ansiosamente pela dona da casa.
A senhora Lamarck andava de um lado para o outro, certamente, não acreditando que fosse possível prender o gatuno que furtara sua preciosa pulseira de rubis. Ao perceber a aproximação dos representantes da lei, ela correu em direção a eles.
- E então detetive? Descobriu quem roubou minha pulseira? Não posso crer que um de meus empregados fez disso!
- Mas creia senhora Lamarck, creia! – o detetive disse enfático. – Peço que os reúna aqui imediatamente!
Atendendo ao pedido do detetive Gonçalo, a senhora Lamarck foi com o policial Motta convocar os quatro empregados de confiança da casa.
Em poucos minutos, todos estavam reunidos no ambiente, acomodados no luxuoso sofá e nas aconchegantes poltronas e cadeiras que compunham a decoração da sala.
O detetive permanecia em pé. Olhou um a um dos presentes, abaixou a cabeça, coçou o queixo e, de repente, apontou para o mordomo.
- Senhor Thompson, por que roubou a pulseira?
Todos se entreolharam chocados e aliviados de terem sido inocentados com aquela acusação. O mordomo, no entanto, reagiu com aspereza.
- Detetive! Como pode me acusar assim? Isto é uma calúnia! Baseado em quê, o senhor me acusa?
Mas antes que o detetive Gonçalo pudesse responder, houve um rompante de vozes.
- Eu sabia! Sempre é o mordomo!
- Prende ele, prende!
- Ladrão!
- Falso!
- Vai ver foi ele quem roubou minha caneta do Mickey!
- A caneta do Mickey era sua?
- Era, por quê?
- Ih, fui eu que deixei cair no chão e o cachorro estraçalhou ela todinha.
- Oh! Mas o sanduíche de presunto que eu coloquei em cima da mesa, com certeza, foi ele quem comeu!
- Foi não, foi o cachorro também...
- E o chocolate que...?
- Cachorro...
Por alguns minutos o detetive não interferiu, preferindo observar o quão volúvel é a natureza humana. Bastou apenas uma acusação, sem provas, e todos se voltaram contra o colega. De repente, o mordomo se tornou o culpado de todos os pequenos desaparecimentos inexplicáveis. E todos estavam convictos de que ele era o criminoso.
- Calem-se! Já chega! – bradou o detetive. – O mordomo não é o culpado!
Ao ouvirem a declaração do detetive, todos silenciaram. A senhora Lamarck olhou atônita, sem entender.
- Mas, então, detetive, se não foi ele, quem foi?
- Senhora Lamarck, todos os seus empregados mentiram no depoimento.
- Oh... – foi a resposta geral, inclusive do policial Motta.
- Explique-se melhor. – pediu a dama.
E dirigindo-se ao assessor, o detetive perguntou:
- Senhor Lopes, o senhor disse que chegou às 12h30 com a governanta e que foi acompanhado até à cozinha pelo mordomo, não foi?
- Sim...
- Mentira! – gritou a governanta. – Ele chegou às 12h, comigo, e foi sozinho para a cozinha!
- Ele está parcialmente mentindo. – disse calmamente o detetive.
- Como assim? – foi a pergunta geral, inclusive do assessor.
- Ele “pensa” ter chegado às 12h30. – o detetive sorriu. – Reparei que o senhor Lopes tem o cacoete de polir o visor de seu relógio lambendo-o e, ao fazer isso, ele alterou a hora, adiantando-a em 30 minutos. Podem checar.
Mais uma vez, o burburinho se estabeleceu. Alguns segundos depois, todos confirmaram ser verdadeira a afirmação do detetive Gonçalo.
- No entanto, ele mentiu sobre ter sido acompanhado pelo mordomo até a cozinha. Aliás, ninguém foi acompanhado pelo mordomo quando chegou, mas disseram isso por ser a rotina da casa e não quiseram se colocar em evidência.
- Oh... foi a resposta geral, inclusive da senhora Lamarck.
O detetive continuou:
- Senhora Müller, por que disse que o mordomo já estava guardando as compras quando foi ajudá-lo na despensa, se elas ainda estavam do lado de fora?
- Eu, e-eu... – a governanta gaguejou.
- Eu digo o porquê! A senhora viu o mordomo digitando a senha da porta e, nesse momento, percebeu que era a mesma senha do cartão de compras! Ficou com medo dessa informação e preferiu dizer que ele já estava lá dentro, não foi?
- F-foi, mas...
- Percebi que o senhor Thompson é destro quando ele teve que tatear o bolso para retirar os óculos, demonstrando a dificuldade em usar a mão esquerda. Esse também foi o motivo dele não ter recebido nenhum de vocês, pois não conseguiria manusear a chave da porta, uma vez que está com a mão direita imobilizada.
- Então, foi a senhora Müller quem me roubou! – bradou a senhora Lamarck!
E, de novo, a troca de acusações entre os empregados – Como eles não perceberam que a senhora Müller era a ladra! Aquela velha frígida, amargurada, sempre desejando o que é dos outros. Merecia a cadeira elétrica! – E o detetive Gonçalo apenas sorriu, magnetizado pelas reações tão animalescas e tão humanas.
- Silêncio! Por favor, calem-se!
Todos obedeceram. A senhora Lamarck estava confusa. Será que o detetive, realmente, sabia quem era o ladrão?
O detetive Gonçalo suspirou profundamente. Era chegado o momento.
- Senhor Lopes, o senhor disse ter descido às 18h acompanhado pela senhorita Marques, correto?
- Correto.
- Mas, agora, sabemos que o seu relógio está adiantado 30 minutos, certo?
- Certo.
- Então, o senhor desceu, na verdade, às 17h30.
- Ah... é mesmo.
- Senhorita Marques, a senhorita omitiu que ficou 20 minutos fora da biblioteca quando retornou do almoço.
- Eu não achei relevante porque...
Mas o detetive não a deixou continuar e disse em um único fôlego:
- Sim! Porque nada aconteceu nesses 20 minutos, exceto o fato de, nesse tempo, o senhor Lopes estar se acomodando em sua mesa, ligando seu computador, acessando o e-mail da senhora Lamarck e, sem perceber, ele digitou a senha no exato momento em que a senhorita passava por sua mesa (que fica do lado oposto, lembra?) e percebeu ser a mesma do cartão do banco. Um tremendo golpe de sorte!
- Mas, m-mas...
- Às 17h30 o senhor Lopes a chamou para ir embora, pensando já ser 18h. A senhorita aproveitou a oportunidade, desceu com ele, mas não foi embora com ele! Permaneceu na casa, foi ao quarto reservado, testou a senha, que funcionou! Abriu o cofre e pegou a pulseira!
Nova confusão. Agora, todos acusavam a secretária, que chorava copiosamente, enquanto suas lágrimas começavam a preencher o vão entre os seios, unidos pelo sutiã meia-taça usado sob o generoso decote.
A senhorita Marques saiu algemada, acompanhada pelo policial Motta, sob os olhares dos colegas que, a essa altura, já conversavam entre si declarando que nunca haviam confiado naquela mulherzinha de tão baixo nível!
E, assim, o detetive Gonçalo desvendou o caso da pulseira roubada, aproveitando a oportunidade de observar algo que sempre o encantava: o comportamento humano.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
O caso da pulseira roubada – Parte 1
O detetive Gonçalo chegou à mansão da senhora Lamarck acompanhado do policial Motta. Encontrou a distinta dama desolada e chorosa pelo roubo de valiosa pulseira de rubis, retirada de seu cofre localizado em um dos cômodos reservados da casa.
- Bom dia, senhora Lamarck. Sou o detetive Gonçalo e este é o policial Motta. Estamos aqui para atender a uma denúncia de roubo.
- Ah, cavalheiros, graças a Deus os senhores chegaram! Não quero perder um minuto sequer. A demora pode significar jamais recuperar um bem tão valioso para mim. Não apenas pelo valor financeiro, que não é pouco, mas pelo valor afetivo também. Trata-se de uma jóia que está em minha família há mais de um século! – e apontou para um suntuoso sofá. – Por favor, sentem-se.
Os dois representantes da lei sentaram-se não muito à vontade, pois ambos tiveram a sensação de que o tecido áspero e ordinário de suas roupas poderia danificar a seda cara e macia do mobiliário.
- Mas, então, senhora Lamarck, quando deu por falta da pulseira? – o detetive Gonçalo perguntou, enquanto tentava não escorregar do sofá.
- Faz cinco horas que percebi que havia sido roubada. – a dama respondeu lamuriosa. – Eu raramente a uso, pois é muito chamativa e eu sou uma pessoa discreta. Não gosto de chamar a atenção nos ambientes que frequento. No entanto, há dois dias eu a usei para ir a um jantar beneficente, pois a princesa de Muxibaba estaria presente e sei que ela é uma apreciadora de jóias. Queria que ela admirasse minha pulseira.
- Entendo... – comentou o detetive. – E ela estava bem?
- Quem? A princesa? – a senhora Lamarck estranhou a pergunta.
- Não, a pulseira. – explicou o detetive.
- Ah, sim, estava. Mas ela me decepcionou.
- Quem? A pulseira? – o detetive estranhou o comentário.
- Não, a princesa. – explicou a senhora Lamarck.
- Ah... entendo... De que forma?
- Ela ficou deslumbrada com a pulseira e pediu para vê-la em suas mãos.
- E a senhora deixou? – perguntou o detetive.
- Sim, deixei, e me arrependo por isso.
- Por quê? – o detetive Gonçalo perguntou surpreso.
- Porque ela caiu no chão.
- Quem? A princesa? – perguntou o policial Motta.
- Nããão!!!! A pulseira!!! – responderam o detetive Gonçalo e a senhora Lamarck juntos.
- E o que aconteceu? – o detetive quis saber.
- Um dos rubis ficou levemente arranhado.
- Entendo... e depois?
- Bem, quando cheguei em casa, guardei-a no cofre. Então, hoje pela manhã, resolvi pegá-la para avaliar o dano e levá-la ao joalheiro. Talvez fosse possível polir a pedra arranhada.
- E foi aí que deu por falta dela?
- Sim. Quando abri o cofre, ela não estava lá. – a senhora Lamarck ficou com os olhos marejados.
- Muito bem. Não se preocupe, iremos descobrir quem a roubou. – o detetive Gonçalo disse com total segurança. – O cofre foi arrombado?
- Não.
- A senhora recebeu alguma visita depois que guardou a pulseira no cofre?
- Não.
- Alguém mais da casa sabe a senha dele?
- Não. – ela fez uma pausa. – Quer dizer... mais ou menos.
- Como assim, mais ou menos?
- É que a senha do cofre é a mesma do meu e-mail, do meu cartão do banco, do cartão de compras e do acesso à despensa.
- Uau! A senhora não deveria fazer isso! – o detetive recriminou-a com delicadeza.
- Eu sei, mas é tão difícil decorar senhas diferentes. – ela respondeu constrangida.
- E alguém tem conhecimento disso?
- Não. Mas eu tenho quatro empregados de confiança. Cada um tem acesso a uma senha, mas eles não sabem que é a mesma.
- Explique melhor. – o detetive pediu.
- É assim, minha secretária sabe a senha do cartão do banco. Minha governanta sabe a senha do cartão de compras. Meu mordomo sabe a senha da despensa. E o meu assessor sabe a senha do meu e-mail.
- E eles nunca desconfiaram que era a mesma senha?
- Nunca. Tenho certeza absoluta disso.
- Nesse caso, terei que conversar com cada um deles. – e virando-se para o policial Motta. – Vamos amigo, vamos desvendar este furto!
Minutos depois, o detetive Gonçalo e o policial Motta estavam acomodados na biblioteca da mansão, quando a secretária da senhora Lamarck entrou no recinto.
- Senhorita Marques, por favor, sente-se.
- Obrigada.
- Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – ela ajeitou o decote tentando cobrir o que não era passível de ser coberto.
- Diga-nos o que fez ontem.
- Certo. Eu cheguei à mansão por volta das 8h30 e vim direto para a biblioteca, pois o computador onde organizo as finanças da senhora Lamarck fica aqui.
- E ficou até que horas?
- Trabalhei direto até às 12h30. Depois desci para a cozinha, para almoçar com os outro empregados.
- E depois?
- Voltei para a biblioteca e só saí às 18h para ir embora.
- Circulou sozinha pela casa?
- Não. O mordomo me acompanhou quando cheguei. Na hora do almoço, a governanta veio me chamar e eu desci com ela. Quando subi, o assessor veio junto, pois ele iria usar o outro computador (- aquele ali, do lado oposto do meu) para checar os e-mails da senhora Lamarck. Fomos embora juntos.
- Só isso?
- Só.
- Está bem. Pode ir.
- Obrigada.
Em seguida, o detetive Gonçalo e o policial Motta receberam o assessor.
- Por favor, sente-se senhor Lopes. – o detetive apontou uma cadeira. – Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – o assessor lambeu o visor do relógio de pulso e começou a poli-lo com a camisa.
- Diga-nos como foi o seu dia ontem.
- Ok. Eu cheguei à mansão às 12h30 e fui direto para a cozinha, pois já estavam servindo o almoço dos empregados.
- E depois?
- Vim para a biblioteca para checar os e-mails da senhora Lamarck.
- Circulou sozinho pela casa em algum momento?
- Não. O mordomo me acompanhou da porta à cozinha e a secretária subiu comigo até a porta da biblioteca.
- E ela não entrou?
- De imediato não. Quando chegamos à porta, ela disse que iria ao toilette e só retornou 20 minutos depois.
- Entendo... e depois?
- Depois trabalhamos até às 18h e descemos juntos.
- Só isso?
- Só.
- Está certo. Então, pode ir.
- Obrigado.
O detetive e o policial se entreolharam. A secretária omitira a ida ao toilette. Por quê?
A governanta entrou na biblioteca.
- Senhora Müller, sente-se, por gentileza. Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sim. – a governanta puxou uma lixa de unha do bolso do uniforme e começou a usá-la.
- Conte-nos o que fez ontem.
- Bem, eu cheguei à casa às 8h e fui direto ao quarto da senhora Lamarck.
- Sozinha?
- Não, o mordomo me acompanhou.
- E depois?
- Peguei o cartão de compras e saí. Só retornei às 12h, no mesmo momento em que o assessor chegava. Fui com o mordomo deixar às compras na despensa. Em seguida, subi à biblioteca para chamar a secretária para almoçar. Quando terminei, voltei à despensa, pois o mordomo já estava lá e não conseguia organizar as compras. Ele está com o braço direito imobilizado por uma tendinite. Terminamos por volta das 17h e fomos aos aposentos da senhora Lamarck para saber se precisava de algo.
- E ela precisava?
- Não exatamente. Dispensou o mordomo e ficou comigo passando a nota das compras. Às 18h terminamos e ela me acompanhou até a porta de saída.
- Só isso?
- Só.
- Tudo bem, pode ir.
- Obrigada.
Mais uma vez o detetive e o policial de entreolharam. O assessor disse ter chegado às 12h30, mas a governanta afirmou que ele chegou às 12h junto com ela. O mordomo entrou no recinto. Conforme a governanta havia dito, tinha o braço direito imobilizado por uma tala.
- Senhor Thompson, sente-se. Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – o mordomo respondeu enquanto tateava o bolso da camisa, com a mão esquerda, em busca dos óculos.
- Conte-nos suas atividades de ontem.
- Cheguei à mansão às 7h30, mas não entrei logo na casa.
- Não? Por quê?
- Porque faz parte das minhas atribuições distribuir as tarefas do jardineiro e do caseiro. Entrei pelos fundos e fiquei conversando com o pessoal da cozinha até umas 9h.
- E não abriu a porta para a governanta?
- Não. Ela tem a chave.
- E nem para a secretária?
- Não. A governanta abriu.
- Também não abriu para o assessor?
- Também não, pois ele chegou junto com a governanta e ela abriu.
- Ok. E depois?
- Pedi à governanta que deixasse as compras na porta da despensa. Em geral, eu pego as compras no carro para guardá-las, mas, com o braço assim, não pude fazê-lo.
- E depois?
- Fomos almoçar.
- E depois?
- Fui com a governanta até a despensa, pois não podia deixar as compras do lado de fora. Pedi que me ajudasse a organizá-las.
- E...?
- Terminamos por volta das 17h e fomos aos aposentos da senhora Lamarck para saber se precisava de algo.
- E ela precisava?
- De mim, não. Mas segurou a governanta.
- E o que você fez?
- Voltei para a cozinha e fiquei lá até às 18h. Fui embora pela porta dos fundos.
- Só isso?
- Só.
- Então, pode ir.
- Obrigado.
Depois que o mordomo saiu, o policial Motta olhou para o detetive Gonçalo e bradou:
- Que caso difícil! Todos mentiram, como iremos desvendar este crime?
- Mas você não poderia estar mais enganado, meu caro amigo desatento. Este caso já está resolvido! Venha, vamos falar com a senhora Lamarck! São 17h20, em 40 minutos os empregados irão embora e não podemos deixar o bandido fugir. É possível que nossa presença o tenha deixado receoso e ele não retorne à casa. Vamos!
(Continua...)
- Bom dia, senhora Lamarck. Sou o detetive Gonçalo e este é o policial Motta. Estamos aqui para atender a uma denúncia de roubo.
- Ah, cavalheiros, graças a Deus os senhores chegaram! Não quero perder um minuto sequer. A demora pode significar jamais recuperar um bem tão valioso para mim. Não apenas pelo valor financeiro, que não é pouco, mas pelo valor afetivo também. Trata-se de uma jóia que está em minha família há mais de um século! – e apontou para um suntuoso sofá. – Por favor, sentem-se.
Os dois representantes da lei sentaram-se não muito à vontade, pois ambos tiveram a sensação de que o tecido áspero e ordinário de suas roupas poderia danificar a seda cara e macia do mobiliário.
- Mas, então, senhora Lamarck, quando deu por falta da pulseira? – o detetive Gonçalo perguntou, enquanto tentava não escorregar do sofá.
- Faz cinco horas que percebi que havia sido roubada. – a dama respondeu lamuriosa. – Eu raramente a uso, pois é muito chamativa e eu sou uma pessoa discreta. Não gosto de chamar a atenção nos ambientes que frequento. No entanto, há dois dias eu a usei para ir a um jantar beneficente, pois a princesa de Muxibaba estaria presente e sei que ela é uma apreciadora de jóias. Queria que ela admirasse minha pulseira.
- Entendo... – comentou o detetive. – E ela estava bem?
- Quem? A princesa? – a senhora Lamarck estranhou a pergunta.
- Não, a pulseira. – explicou o detetive.
- Ah, sim, estava. Mas ela me decepcionou.
- Quem? A pulseira? – o detetive estranhou o comentário.
- Não, a princesa. – explicou a senhora Lamarck.
- Ah... entendo... De que forma?
- Ela ficou deslumbrada com a pulseira e pediu para vê-la em suas mãos.
- E a senhora deixou? – perguntou o detetive.
- Sim, deixei, e me arrependo por isso.
- Por quê? – o detetive Gonçalo perguntou surpreso.
- Porque ela caiu no chão.
- Quem? A princesa? – perguntou o policial Motta.
- Nããão!!!! A pulseira!!! – responderam o detetive Gonçalo e a senhora Lamarck juntos.
- E o que aconteceu? – o detetive quis saber.
- Um dos rubis ficou levemente arranhado.
- Entendo... e depois?
- Bem, quando cheguei em casa, guardei-a no cofre. Então, hoje pela manhã, resolvi pegá-la para avaliar o dano e levá-la ao joalheiro. Talvez fosse possível polir a pedra arranhada.
- E foi aí que deu por falta dela?
- Sim. Quando abri o cofre, ela não estava lá. – a senhora Lamarck ficou com os olhos marejados.
- Muito bem. Não se preocupe, iremos descobrir quem a roubou. – o detetive Gonçalo disse com total segurança. – O cofre foi arrombado?
- Não.
- A senhora recebeu alguma visita depois que guardou a pulseira no cofre?
- Não.
- Alguém mais da casa sabe a senha dele?
- Não. – ela fez uma pausa. – Quer dizer... mais ou menos.
- Como assim, mais ou menos?
- É que a senha do cofre é a mesma do meu e-mail, do meu cartão do banco, do cartão de compras e do acesso à despensa.
- Uau! A senhora não deveria fazer isso! – o detetive recriminou-a com delicadeza.
- Eu sei, mas é tão difícil decorar senhas diferentes. – ela respondeu constrangida.
- E alguém tem conhecimento disso?
- Não. Mas eu tenho quatro empregados de confiança. Cada um tem acesso a uma senha, mas eles não sabem que é a mesma.
- Explique melhor. – o detetive pediu.
- É assim, minha secretária sabe a senha do cartão do banco. Minha governanta sabe a senha do cartão de compras. Meu mordomo sabe a senha da despensa. E o meu assessor sabe a senha do meu e-mail.
- E eles nunca desconfiaram que era a mesma senha?
- Nunca. Tenho certeza absoluta disso.
- Nesse caso, terei que conversar com cada um deles. – e virando-se para o policial Motta. – Vamos amigo, vamos desvendar este furto!
Minutos depois, o detetive Gonçalo e o policial Motta estavam acomodados na biblioteca da mansão, quando a secretária da senhora Lamarck entrou no recinto.
- Senhorita Marques, por favor, sente-se.
- Obrigada.
- Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – ela ajeitou o decote tentando cobrir o que não era passível de ser coberto.
- Diga-nos o que fez ontem.
- Certo. Eu cheguei à mansão por volta das 8h30 e vim direto para a biblioteca, pois o computador onde organizo as finanças da senhora Lamarck fica aqui.
- E ficou até que horas?
- Trabalhei direto até às 12h30. Depois desci para a cozinha, para almoçar com os outro empregados.
- E depois?
- Voltei para a biblioteca e só saí às 18h para ir embora.
- Circulou sozinha pela casa?
- Não. O mordomo me acompanhou quando cheguei. Na hora do almoço, a governanta veio me chamar e eu desci com ela. Quando subi, o assessor veio junto, pois ele iria usar o outro computador (- aquele ali, do lado oposto do meu) para checar os e-mails da senhora Lamarck. Fomos embora juntos.
- Só isso?
- Só.
- Está bem. Pode ir.
- Obrigada.
Em seguida, o detetive Gonçalo e o policial Motta receberam o assessor.
- Por favor, sente-se senhor Lopes. – o detetive apontou uma cadeira. – Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – o assessor lambeu o visor do relógio de pulso e começou a poli-lo com a camisa.
- Diga-nos como foi o seu dia ontem.
- Ok. Eu cheguei à mansão às 12h30 e fui direto para a cozinha, pois já estavam servindo o almoço dos empregados.
- E depois?
- Vim para a biblioteca para checar os e-mails da senhora Lamarck.
- Circulou sozinho pela casa em algum momento?
- Não. O mordomo me acompanhou da porta à cozinha e a secretária subiu comigo até a porta da biblioteca.
- E ela não entrou?
- De imediato não. Quando chegamos à porta, ela disse que iria ao toilette e só retornou 20 minutos depois.
- Entendo... e depois?
- Depois trabalhamos até às 18h e descemos juntos.
- Só isso?
- Só.
- Está certo. Então, pode ir.
- Obrigado.
O detetive e o policial se entreolharam. A secretária omitira a ida ao toilette. Por quê?
A governanta entrou na biblioteca.
- Senhora Müller, sente-se, por gentileza. Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sim. – a governanta puxou uma lixa de unha do bolso do uniforme e começou a usá-la.
- Conte-nos o que fez ontem.
- Bem, eu cheguei à casa às 8h e fui direto ao quarto da senhora Lamarck.
- Sozinha?
- Não, o mordomo me acompanhou.
- E depois?
- Peguei o cartão de compras e saí. Só retornei às 12h, no mesmo momento em que o assessor chegava. Fui com o mordomo deixar às compras na despensa. Em seguida, subi à biblioteca para chamar a secretária para almoçar. Quando terminei, voltei à despensa, pois o mordomo já estava lá e não conseguia organizar as compras. Ele está com o braço direito imobilizado por uma tendinite. Terminamos por volta das 17h e fomos aos aposentos da senhora Lamarck para saber se precisava de algo.
- E ela precisava?
- Não exatamente. Dispensou o mordomo e ficou comigo passando a nota das compras. Às 18h terminamos e ela me acompanhou até a porta de saída.
- Só isso?
- Só.
- Tudo bem, pode ir.
- Obrigada.
Mais uma vez o detetive e o policial de entreolharam. O assessor disse ter chegado às 12h30, mas a governanta afirmou que ele chegou às 12h junto com ela. O mordomo entrou no recinto. Conforme a governanta havia dito, tinha o braço direito imobilizado por uma tala.
- Senhor Thompson, sente-se. Sabe porque está aqui e quem somos nós?
- Sei. – o mordomo respondeu enquanto tateava o bolso da camisa, com a mão esquerda, em busca dos óculos.
- Conte-nos suas atividades de ontem.
- Cheguei à mansão às 7h30, mas não entrei logo na casa.
- Não? Por quê?
- Porque faz parte das minhas atribuições distribuir as tarefas do jardineiro e do caseiro. Entrei pelos fundos e fiquei conversando com o pessoal da cozinha até umas 9h.
- E não abriu a porta para a governanta?
- Não. Ela tem a chave.
- E nem para a secretária?
- Não. A governanta abriu.
- Também não abriu para o assessor?
- Também não, pois ele chegou junto com a governanta e ela abriu.
- Ok. E depois?
- Pedi à governanta que deixasse as compras na porta da despensa. Em geral, eu pego as compras no carro para guardá-las, mas, com o braço assim, não pude fazê-lo.
- E depois?
- Fomos almoçar.
- E depois?
- Fui com a governanta até a despensa, pois não podia deixar as compras do lado de fora. Pedi que me ajudasse a organizá-las.
- E...?
- Terminamos por volta das 17h e fomos aos aposentos da senhora Lamarck para saber se precisava de algo.
- E ela precisava?
- De mim, não. Mas segurou a governanta.
- E o que você fez?
- Voltei para a cozinha e fiquei lá até às 18h. Fui embora pela porta dos fundos.
- Só isso?
- Só.
- Então, pode ir.
- Obrigado.
Depois que o mordomo saiu, o policial Motta olhou para o detetive Gonçalo e bradou:
- Que caso difícil! Todos mentiram, como iremos desvendar este crime?
- Mas você não poderia estar mais enganado, meu caro amigo desatento. Este caso já está resolvido! Venha, vamos falar com a senhora Lamarck! São 17h20, em 40 minutos os empregados irão embora e não podemos deixar o bandido fugir. É possível que nossa presença o tenha deixado receoso e ele não retorne à casa. Vamos!
(Continua...)
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Férias no mato
Depois de muita insistência, Bia acabou cedendo ao convite da amiga Mari para passar uns dias na casa de seus primos. A relutância de Bia era porque os primos de Mari moravam no meio do mato, literalmente, e ela era uma urbanóide assumida.
- Tem certeza que não tem perigo, Mari?
- Deixa de besteira Bia, meus primos nasceram lá e eu já cansei de passar férias com eles. Estamos bem, não estamos?
- Hum, tá bom. – Bia respondeu, não muito satisfeita.
Sem muito entusiasmo, Bia fez a mala, não esquecendo as coisas que Mari havia indicado, como repelente (colocou logo dois!), sandálias confortáveis, tênis e um casaco.
E lá se foram Bia e Mari para o meio do mato. O receio da primeira só não era maior do que a empolgação da segunda. A viagem, menos desconfortável do que Bia imaginara, serviu para que ela começasse a diminuir a tensão. A receptividade dos primos de Mari, e o calor da casa simples, mas aconchegante, contribuiram ainda mais para que os temores de Bia se dissipassem. Até que, um dia, estavam todos sentados do lado de fora da casa, quando Bia sentiu uma espetada leve na lateral do tornozelo direito. Assim que olhou, deu um grito desesperado e começou a pular desengonçada. Gritava e sacudia o pé enquanto os demais tentavam acalmá-la para que pudessem ver o que era. Bia, finalmente, colocou o pé no chão e gritava apontando com o dedo:
- Ali, ali, vejam, tá grudado no meu tornozelo.
Mas ninguém via nada:
- Onde, Bia, cadê?
Inconformada que ninguém visse o “monstro” que ela estava vendo, criou coragem e abaixou-se para apontar.
(Neste ponto da história será necessário abrirmos um parêntese. Acontece que Bia era míope, mas não assumia. Sempre achou que dava para se virar sem precisar de óculos, até o presente momento. Agora, uma vez que nossos queridos leitores foram esclarecidos desse fato, continuemos a história).
Qual não foi a surpresa e o constrangimento de Bia quando percebeu que o tal “bicho” grudado no tornozelo, não passava da fivela preta de sua sandália, que, provavelmente, a espetara devido ao jeito que estava sentada por cima do pé.
Com o dedo sobre a fivela, teve vontade de sumir dali, desaparecer de vergonha. Ela ouvia as vozes das pessoas a sua volta, todas preocupadas em saber o que a havia picado. Sem coragem de admitir o mico diante de Mari e seus primos, continuou gemendo fingidamente e desabotoou a fivela. Aproveitando-se de uma sinal vermelho de nascença, o qual esperava que Mari nunca tivesse reparado, Bia levantou-se quicando num pé só e dizendo que estava ardendo muito.
Levaram-na para dentro de casa e colocaram seu pé “picado” sobre uma cadeira. Logo, todos estavam examinando o sinal de Bia como se fosse uma queimadura causada por algum bicho que conseguira escapar.
- Você já viu algo assim, primo? – Mari perguntou.
- Assim, assim, vi não, mas já ouvi falar. – e virando-se para o irmão. – O que cê acha?
- Tô achando que é sério... muito sério.
Bia começou a ficar preocupada com a proporção de sua mentira e resolveu diminuir o tamanho da “coisa”.
- Ah, gente, deixa isso pra lá. O bicho já foi embora e nem tá mais ardendo.
Ao dizer isso, os primos de Mari se entreolharam preocupados e o mais velho respondeu.
- Vou lhe dizer uma coisa. Só tem um bicho nessa região, capaz de fazer alguém pular como cê pulou, gritar como cê gritou, deixar essa manchona vermelha que nem queimadura e parar de arder assim, de repente.
- É verdade, meu irmão tá certo. Só tem um bichinho danado capaz de fazer isso.
- É o verme chupador zumbi! – falaram os dois ao mesmo tempo.
- O quêêê???? – Bia e Mari seguraram a mão uma da outra apavoradas. A primeira pelo tamanho da mentira que havia criado e a segunda pelo medo do que aconteceria à amiga, pensando ser verdade.
- É isso mesmo. Só pode ter sido o verme chupador zumbi que fez isso. – o primo mais novo de Mari falou com os olhos arregalados e muito gestual. – Ele gruda na pessoa, coloca os ovinhos invisíveis sob a pele, morre e cai.
- E mesmo que não caísse, do jeito que cê pulou, ia cair. Eu nem sei como seu pé continuou grudado na perna, parecia até que cê tava com os pés na brasa. – completou o primo mais velho.
- O que que a gente faz agora? – Mari perguntou desesperada, cheia de culpa. – O que que vai acontecer com o pé da Bia?
Os primos se entreolharam de novo. Bia estava catatônica. Jamais imaginou que uma mentirinha fosse tão longe. Como voltar atrás e dizer que foi só a fivela da sandália que ela confundiu com um bicho porque se recusa a usar óculos?
- Vamos levá-la ao hospital?! – Mari deu um pulo e pegou sua bolsa.
- Tá doida prima? – bradou o primo mais velho. – O hospital mais próximo fica a duas horas daqui, até lá, os ovinhos já se espalharam pelo pé, pela perna e os bichinhos vão nascer dentro dela e ela vai morrer em menos de 24h!
- O quêêê???? – Bia e Mari começaram a chorar, ambas pelo remorso.
- Morrer? Minha amiga não pode morrer! – Mari gritou.
- E não vai! Nós sabemos exatamente o que fazer! – disseram os primos.
- E o que é? – perguntaram as garotas.
- A gente vai colocar álcool nessa mancha e tacar fogo.
- Como é que é???? – Bia e Mari olharam com incredulidade.
Colocar fogo no próprio pé já era demais. Ela ia confessar a mentira. Bia respirou fundo e criou coragem.
- Pessoal, pessoal, preciso que vocês prestem atenção no que eu vou dizer. Não teve verme chupador zumbi nenhum. Eu inventei essa queimadura, que na verdade é um sinal de nascença, porque eu confundi a fivela da minha sandália com um bicho e fiquei com vergonha do mico. Mas, agora, isso chegou longe demais. Me desculpem pela encenação, mas tá tudo bem.
Os irmãos e Mari se entreolharam.
- Hahahahahahahahahahahahahaha. – os três riram, até que Mari transformou seu riso em lágrimas de compaixão.
- Ela tá com medo. – disse Mari fungando.
- Ela não tá acreditando que vai morrer. – disse o primo mais novo balançando a cabeça.
- Vamos ter que fazer isso na marra. – completou o primo mais velho determinado.
(E, agora, faz-se necessário um segundo e último parêntese. Seria de mau gosto descrever o desespero de Bia quando os dois irmãos partiram para cima dela, enquanto Mari foi correndo à cozinha buscar o álcool e o fósforo. E de pior gosto, ainda, o momento em que o ato se concretizou).
Meses depois, Mari mudou de emprego e nunca mais teve coragem de procurar Bia.
Seus primos, agora, vão de vilarejo em vilarejo dando o depoimento de como salvaram a vida de uma pessoa, vítima do verme zumbi chupador.
E Bia, bem, ela faz um tratamento carésimo para melhorar o aspecto da pele queimada e, por causa disso, ainda não teve grana para comprar os óculos. Mas vai ter em breve porque, outro dia, ela confundiu uma garrafa de desinfetante com bebida isotônica e fez um estrago no estômago. Só que, dessa vez, ela arrumou um advogado, processou o fabricante e vai ganhar um bom dinheiro. Pena que a maior parte dele vai ter que ser usada para reconstruir o dedão do pé direito, que foi parcialmente decepado quando ela caiu da bicicleta porque não enxergou uma pedra no meio do caminho. Mas um dia ela vai fazer seus óculos, ah, vai!
- Tem certeza que não tem perigo, Mari?
- Deixa de besteira Bia, meus primos nasceram lá e eu já cansei de passar férias com eles. Estamos bem, não estamos?
- Hum, tá bom. – Bia respondeu, não muito satisfeita.
Sem muito entusiasmo, Bia fez a mala, não esquecendo as coisas que Mari havia indicado, como repelente (colocou logo dois!), sandálias confortáveis, tênis e um casaco.
E lá se foram Bia e Mari para o meio do mato. O receio da primeira só não era maior do que a empolgação da segunda. A viagem, menos desconfortável do que Bia imaginara, serviu para que ela começasse a diminuir a tensão. A receptividade dos primos de Mari, e o calor da casa simples, mas aconchegante, contribuiram ainda mais para que os temores de Bia se dissipassem. Até que, um dia, estavam todos sentados do lado de fora da casa, quando Bia sentiu uma espetada leve na lateral do tornozelo direito. Assim que olhou, deu um grito desesperado e começou a pular desengonçada. Gritava e sacudia o pé enquanto os demais tentavam acalmá-la para que pudessem ver o que era. Bia, finalmente, colocou o pé no chão e gritava apontando com o dedo:
- Ali, ali, vejam, tá grudado no meu tornozelo.
Mas ninguém via nada:
- Onde, Bia, cadê?
Inconformada que ninguém visse o “monstro” que ela estava vendo, criou coragem e abaixou-se para apontar.
(Neste ponto da história será necessário abrirmos um parêntese. Acontece que Bia era míope, mas não assumia. Sempre achou que dava para se virar sem precisar de óculos, até o presente momento. Agora, uma vez que nossos queridos leitores foram esclarecidos desse fato, continuemos a história).
Qual não foi a surpresa e o constrangimento de Bia quando percebeu que o tal “bicho” grudado no tornozelo, não passava da fivela preta de sua sandália, que, provavelmente, a espetara devido ao jeito que estava sentada por cima do pé.
Com o dedo sobre a fivela, teve vontade de sumir dali, desaparecer de vergonha. Ela ouvia as vozes das pessoas a sua volta, todas preocupadas em saber o que a havia picado. Sem coragem de admitir o mico diante de Mari e seus primos, continuou gemendo fingidamente e desabotoou a fivela. Aproveitando-se de uma sinal vermelho de nascença, o qual esperava que Mari nunca tivesse reparado, Bia levantou-se quicando num pé só e dizendo que estava ardendo muito.
Levaram-na para dentro de casa e colocaram seu pé “picado” sobre uma cadeira. Logo, todos estavam examinando o sinal de Bia como se fosse uma queimadura causada por algum bicho que conseguira escapar.
- Você já viu algo assim, primo? – Mari perguntou.
- Assim, assim, vi não, mas já ouvi falar. – e virando-se para o irmão. – O que cê acha?
- Tô achando que é sério... muito sério.
Bia começou a ficar preocupada com a proporção de sua mentira e resolveu diminuir o tamanho da “coisa”.
- Ah, gente, deixa isso pra lá. O bicho já foi embora e nem tá mais ardendo.
Ao dizer isso, os primos de Mari se entreolharam preocupados e o mais velho respondeu.
- Vou lhe dizer uma coisa. Só tem um bicho nessa região, capaz de fazer alguém pular como cê pulou, gritar como cê gritou, deixar essa manchona vermelha que nem queimadura e parar de arder assim, de repente.
- É verdade, meu irmão tá certo. Só tem um bichinho danado capaz de fazer isso.
- É o verme chupador zumbi! – falaram os dois ao mesmo tempo.
- O quêêê???? – Bia e Mari seguraram a mão uma da outra apavoradas. A primeira pelo tamanho da mentira que havia criado e a segunda pelo medo do que aconteceria à amiga, pensando ser verdade.
- É isso mesmo. Só pode ter sido o verme chupador zumbi que fez isso. – o primo mais novo de Mari falou com os olhos arregalados e muito gestual. – Ele gruda na pessoa, coloca os ovinhos invisíveis sob a pele, morre e cai.
- E mesmo que não caísse, do jeito que cê pulou, ia cair. Eu nem sei como seu pé continuou grudado na perna, parecia até que cê tava com os pés na brasa. – completou o primo mais velho.
- O que que a gente faz agora? – Mari perguntou desesperada, cheia de culpa. – O que que vai acontecer com o pé da Bia?
Os primos se entreolharam de novo. Bia estava catatônica. Jamais imaginou que uma mentirinha fosse tão longe. Como voltar atrás e dizer que foi só a fivela da sandália que ela confundiu com um bicho porque se recusa a usar óculos?
- Vamos levá-la ao hospital?! – Mari deu um pulo e pegou sua bolsa.
- Tá doida prima? – bradou o primo mais velho. – O hospital mais próximo fica a duas horas daqui, até lá, os ovinhos já se espalharam pelo pé, pela perna e os bichinhos vão nascer dentro dela e ela vai morrer em menos de 24h!
- O quêêê???? – Bia e Mari começaram a chorar, ambas pelo remorso.
- Morrer? Minha amiga não pode morrer! – Mari gritou.
- E não vai! Nós sabemos exatamente o que fazer! – disseram os primos.
- E o que é? – perguntaram as garotas.
- A gente vai colocar álcool nessa mancha e tacar fogo.
- Como é que é???? – Bia e Mari olharam com incredulidade.
Colocar fogo no próprio pé já era demais. Ela ia confessar a mentira. Bia respirou fundo e criou coragem.
- Pessoal, pessoal, preciso que vocês prestem atenção no que eu vou dizer. Não teve verme chupador zumbi nenhum. Eu inventei essa queimadura, que na verdade é um sinal de nascença, porque eu confundi a fivela da minha sandália com um bicho e fiquei com vergonha do mico. Mas, agora, isso chegou longe demais. Me desculpem pela encenação, mas tá tudo bem.
Os irmãos e Mari se entreolharam.
- Hahahahahahahahahahahahahaha. – os três riram, até que Mari transformou seu riso em lágrimas de compaixão.
- Ela tá com medo. – disse Mari fungando.
- Ela não tá acreditando que vai morrer. – disse o primo mais novo balançando a cabeça.
- Vamos ter que fazer isso na marra. – completou o primo mais velho determinado.
(E, agora, faz-se necessário um segundo e último parêntese. Seria de mau gosto descrever o desespero de Bia quando os dois irmãos partiram para cima dela, enquanto Mari foi correndo à cozinha buscar o álcool e o fósforo. E de pior gosto, ainda, o momento em que o ato se concretizou).
Meses depois, Mari mudou de emprego e nunca mais teve coragem de procurar Bia.
Seus primos, agora, vão de vilarejo em vilarejo dando o depoimento de como salvaram a vida de uma pessoa, vítima do verme zumbi chupador.
E Bia, bem, ela faz um tratamento carésimo para melhorar o aspecto da pele queimada e, por causa disso, ainda não teve grana para comprar os óculos. Mas vai ter em breve porque, outro dia, ela confundiu uma garrafa de desinfetante com bebida isotônica e fez um estrago no estômago. Só que, dessa vez, ela arrumou um advogado, processou o fabricante e vai ganhar um bom dinheiro. Pena que a maior parte dele vai ter que ser usada para reconstruir o dedão do pé direito, que foi parcialmente decepado quando ela caiu da bicicleta porque não enxergou uma pedra no meio do caminho. Mas um dia ela vai fazer seus óculos, ah, vai!
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
O passarinho
Reginaldo era o faz-tudo da empresa. Não tinha nada que não pedissem a ele.
- Reginaldo, pega meu vestido na lavanderia? – pedia Clarisse.
- Reginaldo, vai lá no banco e paga essa conta pra mim. – mandava Daniel.
- Ô Reginaldo, o pé da cadeira quebrou, dá um jeito nisso faz favor? – era outro pedindo.
E, assim, o dia de trabalho passava rápido. Ele mal chegava, já estava na hora de ir embora. Sempre ocupado, sempre de um lado para o outro. Sempre disposto.
Era Sexta-feira, fim de expediente e o chefe mandou chamá-lo. Quando entrou na sala, Reginaldo logo reparou numa gaiola coberta em cima da mesa.
- Reginaldo, o negócio é o seguinte, preciso que você leve essa gaiola neste endereço. – e lhe entregou um papel com o nome da rua e o número de onde deveria ir. – A pessoa só vai estar lá até às 18h, então, pega o dinheiro do táxi com a Clarisse e se manda! E cuidado com isso, ok? Na Segunda-feira você vai buscar a gaiola antes de vir para cá.
- Sim senhor! – o faz-tudo respondeu com um sorriso.
Reginaldo pegou a gaiola com o maior cuidado e saiu da sala. Clarisse lhe deu um envelope com R$100 para o táxi de ida e de volta.
- O chefe disse que não precisa troco.
Então, ele pegou o dinheiro e foi embora carregando a gaiola. Chegando à rua, olhou o relógio e viu que ainda era quatro e meia da tarde. Foi aí que Reginaldo achou que seria uma boa ter aqueles R$100 no fim de semana e, para isso, bastaria ir de ônibus. Não titubeou. Olhou o endereço no papel que o chefe lhe dera e seguiu de busão mesmo. O que Reginaldo não contava é que um acidente envolvendo um caminhão tombado causaria um engarrafamento fora do comum, atrasando-o mais do que poderia. Nervoso, Reginaldo desceu do ônibus às 18h05 e, correndo com a gaiola na mão, chegou ao endereço quinze minutos depois da loja de animais já ter fechado. Sem ter o que fazer, resolveu levar a gaiola para casa.
- Caramba, o que que eu digo para o chefe na Segunda-feira?
Preocupado, Reginaldo chegou em casa e colocou a gaiola sobre a mesa da sala. A mulher foi logo perguntando do que se tratava.
- Que ideia é essa Reginaldo? Não vou ficar limpando caca de passarinho não, hein? Vou logo avisando!
- Esta gaiola não é minha não, é do chefe. Ele me pediu para levá-la numa loja, mas eu cheguei lá e já tinha fechado. O pior é que ele me deu o dinheiro para o táxi e eu resolvi ir de ônibus achando que daria tempo, mas me ferrei. Agora, nem sei o que digo a ele na Segunda-feira.
- E que passarinho que tem aí?
- Você sabe que eu nem olhei? Eu acho que a gaiola tá vazia, porque não ouvi um pio sequer.
- E pra quê que ele ia te dar uma gaiola vazia pra levar pra loja?
- Ah, sei lá, vai ver que ele comprou um passarinho e me mandou à loja justamente por isso.
- Você não perguntou homem de Deus?
- Eu não! Eu só faço o que me pedem. Não faço perguntas.
- Mas, então, levanta logo esse pano que eu quero ver se tem ou não um passarinho aí dentro!
E Reginaldo fez o que a mulher pediu. Mas foi só levantar o pano para ele perder a respiração e começar a gaguejar.
- Que... que... hã? Co-como assim?
- Fala homem, que que tem aí dentro? Um urubu?
- Não mulher, tem um passarinho morto!! Eu matei o passarinho do chefe!
- Morto? E agora? O que você vai fazer? Teu chefe vai te mandar embora por isso!
- Será?
E naquela noite Reginaldo não pregou o olho. Não parava de pensar na burrice que tinha feito pegando aquele ônibus lotado, tendo que sacudir a gaiola pra tudo que é lado. – É claro que o passarinho não aguentou o sacolejo e o calor infernal. Bateu as botas! O que é que eu faço?
A mulher, solidária ao jeito dela, contou pra vizinha o ocorrido e, em pouco tempo, o drama de Reginaldo se espalhou na vizinhança. Muitos vieram oferecer um passarinho vivo para ele substituir o pequeno defunto, mas eram completamente diferentes do passarinho do chefe.
- Toma aí Reginaldo, leva esse que lá em casa eu tenho muitos.
- Mas esse é amarelo e o morto é verde, não dá pra usar o teu.
- Tá, tudo bem, eu só queria ajudar. Quanta ingratidão!
Reginaldo estava desesperado. Já passava do meio-dia de Domingo e ele ainda não sabia o que fazer. Até que, por volta das 14h, a mulher entrou em casa gritando.
- Reginaldo, Reginaldo, corre aqui!
- Que que foi? Por que essa gritaria?
- O primo da dona Josefa tá aqui e disse que tem um monte de passarinho em casa, inclusive verde. Falou pra você ir lá com ele escolher que, com certeza, vai ter um igual.
E lá se foi Reginaldo correndo com a gaiola na mão, agarrado àquela possibilidade. Quatro horas depois, ele voltou sorridente para casa. Com a gaiola e um passarinho verde e vivo!
- Conseguiu Reginaldo? – perguntou a mulher.
- Consegui! Mas me custou os R$100 do táxi que eu quis economizar. No final, esse dinheiro não era para ser meu mesmo. Ah, mas eu tô aliviado. Graças a Deus! O chefe nem vai perceber, é igualzinho! Agora, eu vou dormir, porque eu tô um bagaço!
No dia seguinte, Reginaldo chegou mais tarde na empresa, para parecer que tinha passado na loja. Foi direto à sala do chefe e colocou a gaiola sobre a mesa.
- Obrigado Reginaldo. Eu estava ansioso para vê-lo. Você deu uma olhada nele?
- Dei não senhor. Do jeito que eu levei a gaiola, eu trouxe. Toda coberta.
- Então, fique aí para ver que belezinha.
Mas quando o chefe levantou o pano, fitou o passarinho verde, que piscava e olhava para todos os lados, e ficou mudo. Reginaldo não pôde acreditar. – Como ele reconheceu que não era o passarinho dele? Eram idênticos!
- Reginaldo, o que é isso?
- Ué, um passarinho verde chefe. – ele respondeu sentindo o coração apertar e pensando “estou frito”.
- Eu sei que é um passarinho verde, eu estou vendo isso!
- Então, não entendi sua pergunta...
- Reginaldo, o passarinho que estava nessa gaiola, estava morto! Eu te mandei levá-lo na loja, porque minha filha estava inconformada e eu prometi que iria mandar empalhá-lo!
- Reginaldo, pega meu vestido na lavanderia? – pedia Clarisse.
- Reginaldo, vai lá no banco e paga essa conta pra mim. – mandava Daniel.
- Ô Reginaldo, o pé da cadeira quebrou, dá um jeito nisso faz favor? – era outro pedindo.
E, assim, o dia de trabalho passava rápido. Ele mal chegava, já estava na hora de ir embora. Sempre ocupado, sempre de um lado para o outro. Sempre disposto.
Era Sexta-feira, fim de expediente e o chefe mandou chamá-lo. Quando entrou na sala, Reginaldo logo reparou numa gaiola coberta em cima da mesa.
- Reginaldo, o negócio é o seguinte, preciso que você leve essa gaiola neste endereço. – e lhe entregou um papel com o nome da rua e o número de onde deveria ir. – A pessoa só vai estar lá até às 18h, então, pega o dinheiro do táxi com a Clarisse e se manda! E cuidado com isso, ok? Na Segunda-feira você vai buscar a gaiola antes de vir para cá.
- Sim senhor! – o faz-tudo respondeu com um sorriso.
Reginaldo pegou a gaiola com o maior cuidado e saiu da sala. Clarisse lhe deu um envelope com R$100 para o táxi de ida e de volta.
- O chefe disse que não precisa troco.
Então, ele pegou o dinheiro e foi embora carregando a gaiola. Chegando à rua, olhou o relógio e viu que ainda era quatro e meia da tarde. Foi aí que Reginaldo achou que seria uma boa ter aqueles R$100 no fim de semana e, para isso, bastaria ir de ônibus. Não titubeou. Olhou o endereço no papel que o chefe lhe dera e seguiu de busão mesmo. O que Reginaldo não contava é que um acidente envolvendo um caminhão tombado causaria um engarrafamento fora do comum, atrasando-o mais do que poderia. Nervoso, Reginaldo desceu do ônibus às 18h05 e, correndo com a gaiola na mão, chegou ao endereço quinze minutos depois da loja de animais já ter fechado. Sem ter o que fazer, resolveu levar a gaiola para casa.
- Caramba, o que que eu digo para o chefe na Segunda-feira?
Preocupado, Reginaldo chegou em casa e colocou a gaiola sobre a mesa da sala. A mulher foi logo perguntando do que se tratava.
- Que ideia é essa Reginaldo? Não vou ficar limpando caca de passarinho não, hein? Vou logo avisando!
- Esta gaiola não é minha não, é do chefe. Ele me pediu para levá-la numa loja, mas eu cheguei lá e já tinha fechado. O pior é que ele me deu o dinheiro para o táxi e eu resolvi ir de ônibus achando que daria tempo, mas me ferrei. Agora, nem sei o que digo a ele na Segunda-feira.
- E que passarinho que tem aí?
- Você sabe que eu nem olhei? Eu acho que a gaiola tá vazia, porque não ouvi um pio sequer.
- E pra quê que ele ia te dar uma gaiola vazia pra levar pra loja?
- Ah, sei lá, vai ver que ele comprou um passarinho e me mandou à loja justamente por isso.
- Você não perguntou homem de Deus?
- Eu não! Eu só faço o que me pedem. Não faço perguntas.
- Mas, então, levanta logo esse pano que eu quero ver se tem ou não um passarinho aí dentro!
E Reginaldo fez o que a mulher pediu. Mas foi só levantar o pano para ele perder a respiração e começar a gaguejar.
- Que... que... hã? Co-como assim?
- Fala homem, que que tem aí dentro? Um urubu?
- Não mulher, tem um passarinho morto!! Eu matei o passarinho do chefe!
- Morto? E agora? O que você vai fazer? Teu chefe vai te mandar embora por isso!
- Será?
E naquela noite Reginaldo não pregou o olho. Não parava de pensar na burrice que tinha feito pegando aquele ônibus lotado, tendo que sacudir a gaiola pra tudo que é lado. – É claro que o passarinho não aguentou o sacolejo e o calor infernal. Bateu as botas! O que é que eu faço?
A mulher, solidária ao jeito dela, contou pra vizinha o ocorrido e, em pouco tempo, o drama de Reginaldo se espalhou na vizinhança. Muitos vieram oferecer um passarinho vivo para ele substituir o pequeno defunto, mas eram completamente diferentes do passarinho do chefe.
- Toma aí Reginaldo, leva esse que lá em casa eu tenho muitos.
- Mas esse é amarelo e o morto é verde, não dá pra usar o teu.
- Tá, tudo bem, eu só queria ajudar. Quanta ingratidão!
Reginaldo estava desesperado. Já passava do meio-dia de Domingo e ele ainda não sabia o que fazer. Até que, por volta das 14h, a mulher entrou em casa gritando.
- Reginaldo, Reginaldo, corre aqui!
- Que que foi? Por que essa gritaria?
- O primo da dona Josefa tá aqui e disse que tem um monte de passarinho em casa, inclusive verde. Falou pra você ir lá com ele escolher que, com certeza, vai ter um igual.
E lá se foi Reginaldo correndo com a gaiola na mão, agarrado àquela possibilidade. Quatro horas depois, ele voltou sorridente para casa. Com a gaiola e um passarinho verde e vivo!
- Conseguiu Reginaldo? – perguntou a mulher.
- Consegui! Mas me custou os R$100 do táxi que eu quis economizar. No final, esse dinheiro não era para ser meu mesmo. Ah, mas eu tô aliviado. Graças a Deus! O chefe nem vai perceber, é igualzinho! Agora, eu vou dormir, porque eu tô um bagaço!
No dia seguinte, Reginaldo chegou mais tarde na empresa, para parecer que tinha passado na loja. Foi direto à sala do chefe e colocou a gaiola sobre a mesa.
- Obrigado Reginaldo. Eu estava ansioso para vê-lo. Você deu uma olhada nele?
- Dei não senhor. Do jeito que eu levei a gaiola, eu trouxe. Toda coberta.
- Então, fique aí para ver que belezinha.
Mas quando o chefe levantou o pano, fitou o passarinho verde, que piscava e olhava para todos os lados, e ficou mudo. Reginaldo não pôde acreditar. – Como ele reconheceu que não era o passarinho dele? Eram idênticos!
- Reginaldo, o que é isso?
- Ué, um passarinho verde chefe. – ele respondeu sentindo o coração apertar e pensando “estou frito”.
- Eu sei que é um passarinho verde, eu estou vendo isso!
- Então, não entendi sua pergunta...
- Reginaldo, o passarinho que estava nessa gaiola, estava morto! Eu te mandei levá-lo na loja, porque minha filha estava inconformada e eu prometi que iria mandar empalhá-lo!
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Diálogo
- Oi, como você está?
- Melhor agora, eu acho...
- Sente alguma dor? Alguma coisa o incomoda?
- Dor? Não. Estou mais leve.
- Que bom!
- Como estão as coisas?
- Está tudo bem, não se preocupe com nada.
- É difícil...
- Eu sei, mas estamos bem, tudo vai ficar bem.
- Quero acreditar nisso.
- Acredite. Pode ir em paz.
- Sinto saudade, mas creio que é natural sentir.
- Sim, é sim. Nós também sentimos, e muita!
- Eu sei.
- Nós te amamos e queremos que você fique bem.
- Eu também amo vocês.
- Então...
- Então, é adeus.
- Adeus, não. Até qualquer dia.
- Sim, até qualquer dia filha.
- Tchau, pai, fica com Deus. Vou te amar para sempre...
- Melhor agora, eu acho...
- Sente alguma dor? Alguma coisa o incomoda?
- Dor? Não. Estou mais leve.
- Que bom!
- Como estão as coisas?
- Está tudo bem, não se preocupe com nada.
- É difícil...
- Eu sei, mas estamos bem, tudo vai ficar bem.
- Quero acreditar nisso.
- Acredite. Pode ir em paz.
- Sinto saudade, mas creio que é natural sentir.
- Sim, é sim. Nós também sentimos, e muita!
- Eu sei.
- Nós te amamos e queremos que você fique bem.
- Eu também amo vocês.
- Então...
- Então, é adeus.
- Adeus, não. Até qualquer dia.
- Sim, até qualquer dia filha.
- Tchau, pai, fica com Deus. Vou te amar para sempre...
sábado, 17 de setembro de 2011
O Crime - Parte 2: o desfecho
O detetive Juarez estava em uma mesa ao fundo do bar e aguardava a chegada de seu colega Gonçalo que há duas semanas havia lhe pedido ajuda em um caso. Depois de analisar todos os depoimentos, estava certo de que não havia dúvidas quanto ao assassino de Julio Bittencourt, o homem encontrado morto em sua cama após ter sido atingido por uma réplica em bronze da Torre Eiffel, medindo 70 cm.
Ele fechou os olhos e repensou sobre tudo o que havia lido do caso nas últimas duas semanas.
- E então, chegou a alguma conclusão?
Juarez abriu os olhos e viu o detetive Gonçalo de pé, ao lado da mesa. As olheiras profundas indicavam que não dormia há dias.
- E aí, meu chapa? Sente-se, vamos tomar uma cerveja!
Depois de servidos, brindaram à profissão e foram direto ao motivo do encontro.
- O negócio é o seguinte, Gonçalo, não sei o que você pensa, mas acho que só há uma pessoa a quem você pode acusar e pedir a prisão preventiva. – o detetive Juarez bateu o fundo de sua long neck na mesa.
- Tenho certeza de que você percebeu a mesma falha que eu em um dos depoimentos. – disse Gonçalo esperançoso.
- A ex-esposa ficou quase quatro horas no salão... – Juarez iniciou a falar.
- Tempo demais não? – Gonçalo sorriu.
- Sim, como elas conseguem? – Juarez perguntou com visível sinceridade.
- Não sei, mas minha esposa e minha filha nunca ficam menos do que isso. – Gonçalo balançou a cabeça negativamente.
- E lá em casa, então? Se eu somar todo o tempo que minha mulher e minhas duas gurias passam dentro de um salão de beleza, acho que dá mais do que o tempo que eu passo no Departamento! – Juarez deu uma risada sofrida.
- Nada inverossímel o depoimento da ex-mulher. – Gonçalo concluiu.
- De forma alguma! – Juarez atestou. – Eu estranharia se ela tivesse dito que só tinha ficado uma hora lá.
- Já o namorado... – Gonçalo não continuou.
- Você foi mesmo obrigado a ouvir os detalhes? – Juarez perguntou com deboche.
- Ah, melhor pular esse suspeito, não foi ele mesmo.
- Você está certo. Com a passionalidade desse cara, ele teria caído em prantos de culpa. – Juarez falou lembrando do depoimento que leu.
- Então, ficamos com os dois mentirosos. Qual a sua impressão de cada um? – Gonçalo encarou o colega.
- Dois caras de pau! – sentenciou Juarez.
- Você reparou que nem a ex-mulher, nem o namorado mencionaram ter encontrado a empregada na casa?
- É claro que não encontraram! Você já viu alguma empregada que, na ausência do patrão, chegue cedo e vá embora tarde? – Juarez gargalhou em alto e bom som.
- Tô pagando pra ver! Na hora do crime essa mulher já estava em casa há muito tempo! – Gonçalo bateu com a palma da mão na mesa e acompanhou o colega na gargalhada.
- Então, vamos pegar o outro cara de pau! – declarou Juarez.
- Vamos! – concordou Gonçalo e virando-se para trás gritou: - Ô meu camarada, fecha a conta!
Quatro horas depois, o detetive Gonçalo, acompanhado do detetive Juarez e mais três policiais armados, chegava à Taquara, na residência de Jorge Fraga, o sócio da vítima.
(Pancadas na porta).
- Senhor, abra a porta, é a polícia!
Segundos depois, Jorge Fraga abria a porta trajando apenas uma cueca samba canção e com ar sonolento.
- Pois não, polícia? Mas o quê...?
O homem não teve tempo de concluir a frase. Imediatamente (mas de forma gentil), ele foi imobilizado e algemado com as mãos às costas.
- O senhor está preso! Acusado pelo assassinato de seu sócio Júlio Bittencourt. – Gonçalo informou mostrando a ordem de prisão que tinha em mãos.
- Como assim? – protestou Jorge Fraga. – baseado em quê o senhor está me prendendo?
Gonçalo e Juarez trocaram olhares, mas foi este último quem disse:
- Baseado em seu depoimento utópico meu amigo. Fala sério! Onde já se viu sair da Zona Sul, ir ao Recreio, esperar uma pessoa por quarenta minutos e às 22h estar na Taquara, de banho tomado e vendo televisão? – nessa hora detetives e policiais riram juntos. – Nem que você estivesse com o carro da polícia e a sirene ligada! No trânsito do Rio? Só se fosse de helicóptero! Vai mentir lá no xilindró, ‘simbora’ cara de pau!
Ele fechou os olhos e repensou sobre tudo o que havia lido do caso nas últimas duas semanas.
- E então, chegou a alguma conclusão?
Juarez abriu os olhos e viu o detetive Gonçalo de pé, ao lado da mesa. As olheiras profundas indicavam que não dormia há dias.
- E aí, meu chapa? Sente-se, vamos tomar uma cerveja!
Depois de servidos, brindaram à profissão e foram direto ao motivo do encontro.
- O negócio é o seguinte, Gonçalo, não sei o que você pensa, mas acho que só há uma pessoa a quem você pode acusar e pedir a prisão preventiva. – o detetive Juarez bateu o fundo de sua long neck na mesa.
- Tenho certeza de que você percebeu a mesma falha que eu em um dos depoimentos. – disse Gonçalo esperançoso.
- A ex-esposa ficou quase quatro horas no salão... – Juarez iniciou a falar.
- Tempo demais não? – Gonçalo sorriu.
- Sim, como elas conseguem? – Juarez perguntou com visível sinceridade.
- Não sei, mas minha esposa e minha filha nunca ficam menos do que isso. – Gonçalo balançou a cabeça negativamente.
- E lá em casa, então? Se eu somar todo o tempo que minha mulher e minhas duas gurias passam dentro de um salão de beleza, acho que dá mais do que o tempo que eu passo no Departamento! – Juarez deu uma risada sofrida.
- Nada inverossímel o depoimento da ex-mulher. – Gonçalo concluiu.
- De forma alguma! – Juarez atestou. – Eu estranharia se ela tivesse dito que só tinha ficado uma hora lá.
- Já o namorado... – Gonçalo não continuou.
- Você foi mesmo obrigado a ouvir os detalhes? – Juarez perguntou com deboche.
- Ah, melhor pular esse suspeito, não foi ele mesmo.
- Você está certo. Com a passionalidade desse cara, ele teria caído em prantos de culpa. – Juarez falou lembrando do depoimento que leu.
- Então, ficamos com os dois mentirosos. Qual a sua impressão de cada um? – Gonçalo encarou o colega.
- Dois caras de pau! – sentenciou Juarez.
- Você reparou que nem a ex-mulher, nem o namorado mencionaram ter encontrado a empregada na casa?
- É claro que não encontraram! Você já viu alguma empregada que, na ausência do patrão, chegue cedo e vá embora tarde? – Juarez gargalhou em alto e bom som.
- Tô pagando pra ver! Na hora do crime essa mulher já estava em casa há muito tempo! – Gonçalo bateu com a palma da mão na mesa e acompanhou o colega na gargalhada.
- Então, vamos pegar o outro cara de pau! – declarou Juarez.
- Vamos! – concordou Gonçalo e virando-se para trás gritou: - Ô meu camarada, fecha a conta!
Quatro horas depois, o detetive Gonçalo, acompanhado do detetive Juarez e mais três policiais armados, chegava à Taquara, na residência de Jorge Fraga, o sócio da vítima.
(Pancadas na porta).
- Senhor, abra a porta, é a polícia!
Segundos depois, Jorge Fraga abria a porta trajando apenas uma cueca samba canção e com ar sonolento.
- Pois não, polícia? Mas o quê...?
O homem não teve tempo de concluir a frase. Imediatamente (mas de forma gentil), ele foi imobilizado e algemado com as mãos às costas.
- O senhor está preso! Acusado pelo assassinato de seu sócio Júlio Bittencourt. – Gonçalo informou mostrando a ordem de prisão que tinha em mãos.
- Como assim? – protestou Jorge Fraga. – baseado em quê o senhor está me prendendo?
Gonçalo e Juarez trocaram olhares, mas foi este último quem disse:
- Baseado em seu depoimento utópico meu amigo. Fala sério! Onde já se viu sair da Zona Sul, ir ao Recreio, esperar uma pessoa por quarenta minutos e às 22h estar na Taquara, de banho tomado e vendo televisão? – nessa hora detetives e policiais riram juntos. – Nem que você estivesse com o carro da polícia e a sirene ligada! No trânsito do Rio? Só se fosse de helicóptero! Vai mentir lá no xilindró, ‘simbora’ cara de pau!
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
O Crime - Parte 1: o caso
Sexta-feira, 10 horas da manhã. O corpo do homem estava de bruços na cama e envolto em sangue já coagulado. Segundo o legista, a morte havia ocorrido há, aproximadamente, 12 horas. A arma do crime ainda estava no corpo: uma réplica da Torre Eiffel em bronze, medindo 70 cm.
- O assassino segurou a torre pela base e, aproveitando que a vítima estava dormindo, cravou-a na lateral do pescoço. – disse o legista.
- Entendo... – comentou o detetive Gonçalo. – Digitais?
- O detector não identificou nenhuma.
- Entendo... – o detetive Gonçalo disse uma segunda vez. – Testemunhas?
- Nenhuma até agora. O prédio não tem porteiro à noite e nenhum dos vizinhos viu ou ouviu qualquer coisa. – foi a vez do policial Motta responder.
- Entendo... – disse pela terceira e última vez o detetive. – Pistas?
- Um dos vizinhos disse que quatro pessoas possuem a chave do apartamento: a ex-mulher da vítima, o sócio, a diarista e o atual namorado. – respondeu o policial.
- Namorado? – perguntou surpreso o detetive Gonçalo.
- Sim. Segundo esse mesmo vizinho, a vítima passou a namorar uma pessoa do mesmo sexo, logo após ele e a esposa terem se separado.
- Compreendo... - disse pensativo o detetive. – Localize essas pessoas. Vamos interrogá-las!
- Sim, senhor! – disse o policial Motta já saindo do quarto.
Passado o tempo necessário para que os quatro interrogatórios fossem feitos, o detetive Gonçalo decidiu ficar até mais tarde no trabalho para fazer um resumo de todos os depoimentos. Após terminar, releu um por um:
Suspeito 1
Nome: Rebeca Paiva
Relação com a vítima: Ex-esposa
Depoimento: Mantinha uma relação de “negócios” com a vítima. O casamento tinha sido arranjado para que ele tivesse direito à herança da madrinha. Assim que “a velha passou desta para melhor”, se separaram e ele assumiu o namorado. Esteve no apartamento no dia do crime por volta das 17h para cobrar a “pensão” de R$10 mil do ex-marido, parte do acordo que fizeram para que ela aceitasse se casar com ele, já que não ia “rolar sexo” enquanto estivesse casada e ela seria obrigada a ser discreta em suas relações extra-conjugais para que ninguém desconfiasse, principalmente, a madrinha. A vítima não atendia as ligações dela, então, resolveu ir cobrar pessoalmente. Esperou por meia hora, mas teve que ir embora porque tinha salão marcado para as 18h em um shopping próximo ao prédio. Ficou quase quatro horas no salão e decidiu não retornar, pois já era tarde e estava cansada, comeu alguma coisa na praça de alimentação e foi direto para casa, também no Recreio.
Álibi: O salão confirma seu horário para às 18h e diz que ela compareceu. O ticket de estacionamento registrou que ela saiu às 22h20.
Motivo: Herdaria 5% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$200 mil. A suspeita possui dívidas em cartões de crédito no montante de 50 mil reais e teve um carro de R$70 mil destruído pela queda de uma árvore que o seguro não reembolsou.
Suspeito 2
Nome: Jorge Fraga
Relação com a vítima: Sócio em uma franquia bem sucedida de fast food.
Depoimento: Conhecia a vítima há 14 anos. Foram amigos de faculdade, estudaram Gastronomia e, antes de formados, haviam decidido que tentariam abrir um restaurante. Depois de dez anos “dando cabeçadas”, a vítima herdara uma boa quantia em dinheiro e propôs a sociedade na franquia. Como ele não tinha grana, ficou com toda a mão de obra do negócio. “Ralava” sozinho, enquanto o amigo “só viva na esbórnia”. Recebia apenas 8% do lucro líquido das lojas, eram sete ao todo. No dia do crime, saiu de uma das lojas na Zona Sul do Rio de Janeiro às 19h30 e foi em direção à loja da Barra da Tijuca. No caminho, resolveu passar direto e foi ao apartamento da vítima, no Recreio. Queria, mais uma vez, renegociar o valor da porcentagem que recebia, desejava aumentá-la para 10%. Esperou o sócio por 40 minutos, como ele não chegava, desisitiu de esperar. “Puto da vida”, não compareceu a mais nenhuma loja e às 22h já estava em casa, na Taquara, de banho tomado e vendo televisão.
Álibi: Os funcionários da loja da Zona Sul confirmaram que o “patrão” saiu às 19h30, no entanto, como mora sozinho, não pode comprovar a hora que chegou em casa.
Motivo: Insatisfação com o percentual recebido na sociedade. Despeito e inveja pela condição financeira e postura da vítima em relação ao negócio. Com a morte do sócio, teria direito a quatro das sete lojas da franquia. O suspeito comprou uma cobertura na Barra da Tijuca, ainda na planta, no valor de R$1,2 milhão com financiamento de 20 anos por um banco privado.
Suspeito 3
Nome: Lindalva da Silva
Relação com a vítima: Diarista há cinco anos
Depoimento: Era dia de faxina. Declarou ter chegado “cedo” no apartamento da vítima porque gosta de fazer seu serviço “bem caprichado”. Ficou até “tarde” e só saiu por volta das 19h, quando tudo já estava “bem limpinho”. Pegou um ônibus que “vai pela Linha Amarela” e chegou em Queimados, onde mora, “sabe Deus que horas!”
Álibi: Nenhum. O marido chegou bêbado às 5h da Quinta-Feira e desmaiou na cama. Não viu que horas a mulher saiu de casa. Quando acordou, passou o dia bebendo e só retornou na madrugada seguinte, desmaiando no sofá da sala, sem saber se a esposa estava em casa ou não.
Motivo: Herdaria 2% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$80 mil. A suspeita sonha em comprar uma “casinha na rua asfaltada”, com piscina e churrasqueira e “dar um chute na bunda” do “beberrão” do marido.
Suspeito 4
Nome: Claudio Marins
Relação com a vítima: Namorado
Depoimento: Namoravam há oito anos, mas só haviam assumido o relacionamento há menos de um ano, depois da morte da “velha”. Ficou ressentido por não terem ido “morar junto”, uma vez que já estavam “assumidos”. No dia do crime, passou no apartamento da vítima por volta das 15h para deixar flores frescas no vaso da sala e colocar essência de jasmim nos lençóis da cama, pois pretendia dormir lá naquela noite e queria que tudo estivesse “perfeito”. Deitou no sofá para assistir TV e cochilou, acordou às 16h e telefonou para o celular da vítima, que o atendeu, mas disse que preferia dormir sozinho, pois havia acabado de chegar de viagem (ainda estava no aeroporto) e estava cansado para “namorar”. O suspeito, então, descarregou um tudo de inseticida nos lençóis da cama para tirar o cheiro da essência de jasmim, jogou o vaso de flores pela janela e foi embora. Às 22h estava “dando” para o seu personal trainer todo o “amor” que seu namorado recusara receber.
Álibi: Foi confirmada uma grande quantidade de inseticida no lençol da cama da vítima, que poderia ter morrido envenenada se não tivesse sido agredida com a Torre Eiffel no pescoço. Um homem deu queixa na delegacia, por volta das 16h40, por ter encontrado seu carro, estacionado em frente ao prédio da vítima, danificado por um vaso de flores, deixando o capô completamente arruinado. O personal trainer confirmou o horário e contou os “detalhes” do encontro (desnecessário isso, mas ele fez questão).
Motivo: Herdaria 93% dos bens da vítima (mais três das sete lojas da franquia). O suspeito não possui nenhuma dívida conhecida, mas tem temperamento ciumento e passional.
Após reler os depoimentos por mais algumas vezes, o detetive Gonçalo chegou à conclusão que duas pessoas estavam mentindo sobre seus horários, mas somente uma o fez para esconder o assassinato. Ligou para o detetive Juarez, de outra jurisdição, e convidou-o para almoçar no dia seguinte. Queria discutir o caso com um colega de profissão, para saber se teriam a mesma percepção. Caso positivo, daria voz de prisão ao assassino (ou assassina, caro leitor) imediatamente.
(Continua...)
- O assassino segurou a torre pela base e, aproveitando que a vítima estava dormindo, cravou-a na lateral do pescoço. – disse o legista.
- Entendo... – comentou o detetive Gonçalo. – Digitais?
- O detector não identificou nenhuma.
- Entendo... – o detetive Gonçalo disse uma segunda vez. – Testemunhas?
- Nenhuma até agora. O prédio não tem porteiro à noite e nenhum dos vizinhos viu ou ouviu qualquer coisa. – foi a vez do policial Motta responder.
- Entendo... – disse pela terceira e última vez o detetive. – Pistas?
- Um dos vizinhos disse que quatro pessoas possuem a chave do apartamento: a ex-mulher da vítima, o sócio, a diarista e o atual namorado. – respondeu o policial.
- Namorado? – perguntou surpreso o detetive Gonçalo.
- Sim. Segundo esse mesmo vizinho, a vítima passou a namorar uma pessoa do mesmo sexo, logo após ele e a esposa terem se separado.
- Compreendo... - disse pensativo o detetive. – Localize essas pessoas. Vamos interrogá-las!
- Sim, senhor! – disse o policial Motta já saindo do quarto.
Passado o tempo necessário para que os quatro interrogatórios fossem feitos, o detetive Gonçalo decidiu ficar até mais tarde no trabalho para fazer um resumo de todos os depoimentos. Após terminar, releu um por um:
Suspeito 1
Nome: Rebeca Paiva
Relação com a vítima: Ex-esposa
Depoimento: Mantinha uma relação de “negócios” com a vítima. O casamento tinha sido arranjado para que ele tivesse direito à herança da madrinha. Assim que “a velha passou desta para melhor”, se separaram e ele assumiu o namorado. Esteve no apartamento no dia do crime por volta das 17h para cobrar a “pensão” de R$10 mil do ex-marido, parte do acordo que fizeram para que ela aceitasse se casar com ele, já que não ia “rolar sexo” enquanto estivesse casada e ela seria obrigada a ser discreta em suas relações extra-conjugais para que ninguém desconfiasse, principalmente, a madrinha. A vítima não atendia as ligações dela, então, resolveu ir cobrar pessoalmente. Esperou por meia hora, mas teve que ir embora porque tinha salão marcado para as 18h em um shopping próximo ao prédio. Ficou quase quatro horas no salão e decidiu não retornar, pois já era tarde e estava cansada, comeu alguma coisa na praça de alimentação e foi direto para casa, também no Recreio.
Álibi: O salão confirma seu horário para às 18h e diz que ela compareceu. O ticket de estacionamento registrou que ela saiu às 22h20.
Motivo: Herdaria 5% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$200 mil. A suspeita possui dívidas em cartões de crédito no montante de 50 mil reais e teve um carro de R$70 mil destruído pela queda de uma árvore que o seguro não reembolsou.
Suspeito 2
Nome: Jorge Fraga
Relação com a vítima: Sócio em uma franquia bem sucedida de fast food.
Depoimento: Conhecia a vítima há 14 anos. Foram amigos de faculdade, estudaram Gastronomia e, antes de formados, haviam decidido que tentariam abrir um restaurante. Depois de dez anos “dando cabeçadas”, a vítima herdara uma boa quantia em dinheiro e propôs a sociedade na franquia. Como ele não tinha grana, ficou com toda a mão de obra do negócio. “Ralava” sozinho, enquanto o amigo “só viva na esbórnia”. Recebia apenas 8% do lucro líquido das lojas, eram sete ao todo. No dia do crime, saiu de uma das lojas na Zona Sul do Rio de Janeiro às 19h30 e foi em direção à loja da Barra da Tijuca. No caminho, resolveu passar direto e foi ao apartamento da vítima, no Recreio. Queria, mais uma vez, renegociar o valor da porcentagem que recebia, desejava aumentá-la para 10%. Esperou o sócio por 40 minutos, como ele não chegava, desisitiu de esperar. “Puto da vida”, não compareceu a mais nenhuma loja e às 22h já estava em casa, na Taquara, de banho tomado e vendo televisão.
Álibi: Os funcionários da loja da Zona Sul confirmaram que o “patrão” saiu às 19h30, no entanto, como mora sozinho, não pode comprovar a hora que chegou em casa.
Motivo: Insatisfação com o percentual recebido na sociedade. Despeito e inveja pela condição financeira e postura da vítima em relação ao negócio. Com a morte do sócio, teria direito a quatro das sete lojas da franquia. O suspeito comprou uma cobertura na Barra da Tijuca, ainda na planta, no valor de R$1,2 milhão com financiamento de 20 anos por um banco privado.
Suspeito 3
Nome: Lindalva da Silva
Relação com a vítima: Diarista há cinco anos
Depoimento: Era dia de faxina. Declarou ter chegado “cedo” no apartamento da vítima porque gosta de fazer seu serviço “bem caprichado”. Ficou até “tarde” e só saiu por volta das 19h, quando tudo já estava “bem limpinho”. Pegou um ônibus que “vai pela Linha Amarela” e chegou em Queimados, onde mora, “sabe Deus que horas!”
Álibi: Nenhum. O marido chegou bêbado às 5h da Quinta-Feira e desmaiou na cama. Não viu que horas a mulher saiu de casa. Quando acordou, passou o dia bebendo e só retornou na madrugada seguinte, desmaiando no sofá da sala, sem saber se a esposa estava em casa ou não.
Motivo: Herdaria 2% dos bens da vítima (exceto as lojas) em caso de morte, o equivalente a R$80 mil. A suspeita sonha em comprar uma “casinha na rua asfaltada”, com piscina e churrasqueira e “dar um chute na bunda” do “beberrão” do marido.
Suspeito 4
Nome: Claudio Marins
Relação com a vítima: Namorado
Depoimento: Namoravam há oito anos, mas só haviam assumido o relacionamento há menos de um ano, depois da morte da “velha”. Ficou ressentido por não terem ido “morar junto”, uma vez que já estavam “assumidos”. No dia do crime, passou no apartamento da vítima por volta das 15h para deixar flores frescas no vaso da sala e colocar essência de jasmim nos lençóis da cama, pois pretendia dormir lá naquela noite e queria que tudo estivesse “perfeito”. Deitou no sofá para assistir TV e cochilou, acordou às 16h e telefonou para o celular da vítima, que o atendeu, mas disse que preferia dormir sozinho, pois havia acabado de chegar de viagem (ainda estava no aeroporto) e estava cansado para “namorar”. O suspeito, então, descarregou um tudo de inseticida nos lençóis da cama para tirar o cheiro da essência de jasmim, jogou o vaso de flores pela janela e foi embora. Às 22h estava “dando” para o seu personal trainer todo o “amor” que seu namorado recusara receber.
Álibi: Foi confirmada uma grande quantidade de inseticida no lençol da cama da vítima, que poderia ter morrido envenenada se não tivesse sido agredida com a Torre Eiffel no pescoço. Um homem deu queixa na delegacia, por volta das 16h40, por ter encontrado seu carro, estacionado em frente ao prédio da vítima, danificado por um vaso de flores, deixando o capô completamente arruinado. O personal trainer confirmou o horário e contou os “detalhes” do encontro (desnecessário isso, mas ele fez questão).
Motivo: Herdaria 93% dos bens da vítima (mais três das sete lojas da franquia). O suspeito não possui nenhuma dívida conhecida, mas tem temperamento ciumento e passional.
Após reler os depoimentos por mais algumas vezes, o detetive Gonçalo chegou à conclusão que duas pessoas estavam mentindo sobre seus horários, mas somente uma o fez para esconder o assassinato. Ligou para o detetive Juarez, de outra jurisdição, e convidou-o para almoçar no dia seguinte. Queria discutir o caso com um colega de profissão, para saber se teriam a mesma percepção. Caso positivo, daria voz de prisão ao assassino (ou assassina, caro leitor) imediatamente.
(Continua...)
terça-feira, 13 de setembro de 2011
PAI
Pai, quero dizer que te amo!
Ainda não sei o que vai acontecer, mas
Imploro aos céus que seja o melhor para ti.
Eu sei que sou egoísta
Um sentimento de te ter para sempre
Tô do teu lado, segurando tua mão
Exatamente como você fez quando operei a amígdala
Ah, você me levou sorvete no quarto depois, lembra?
Mas, agora, você apenas me pede água com um gesto
Oh, Deus, me perdoa, não estou preparada, ainda não...
Ainda não sei o que vai acontecer, mas
Imploro aos céus que seja o melhor para ti.
Eu sei que sou egoísta
Um sentimento de te ter para sempre
Tô do teu lado, segurando tua mão
Exatamente como você fez quando operei a amígdala
Ah, você me levou sorvete no quarto depois, lembra?
Mas, agora, você apenas me pede água com um gesto
Oh, Deus, me perdoa, não estou preparada, ainda não...
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
É duro perder a memória...
Clodoaldo, pai de Omar, tinha 17 anos quando começou a namorar Maria. Nessa época, a doce menina tinha 15 anos e Clodoaldo já era pescador experiente no barco do pai, seu Argemiro.
O pai de Maria, seu Poliano, também era pescador e as famílias eram muito amigas. Todos os dias, enquanto os homens estavam no mar, dona Regina e dona Matilde, as mães de Clodoaldo e Maria, respectivamente, passavam o dia fazendo rendas, ofício no qual Maria já demonstrava talento.
Ao completar 18 anos, Clodoaldo se casou com Maria e, juntos, começaram uma nova família. Não demorou muito para que a moça apresentasse os sintomas da primeira gravidez, dando à luz a um saudável menino. Sendo o casal muito jovem, as famílias tentaram interferir no nome da criança, mas Clodoaldo e Maria foram inflexíveis aos apelos dos pais e decidiram que eles mesmos escolheriam o nome. Uma semana depois de nascido o bebê, Clodoaldo registrou o moleque como Marialdo, a junção de seus nomes, já que ele era fruto do amor do casal.
Passado um tempo, Maria engravidou pela segunda vez e, antes que a criança nascesse, dona Regina veio a falecer, vítima de uma pneumonia não tratada. Entre a tristeza da morte da mãe e a alegria de uma nova vida sendo gerada no ventre de Maria, Clodoaldo decidiu que homenagearia dona Regina, dando parte de seu nome ao próximo filho. E, assim, nasceu Reginaldo, saudável como o irmão.
Os meninos já estavam na escola quando Maria sentiu, pela terceira vez, os seios inchados e doloridos, e percebeu que a regra já não vinha há dois meses. Dessa vez, a barriga ficara maior do que as anteriores, pré-anunciando que a prole iria dobrar. Aos sete meses de gravidez, a bolsa estourou e, com ajuda de dona Matilde, Maria colocou nesse mundão de Deus, um casal de gêmeos, Clotilde e Clodomiro, este último em homenagem ao pai Argemiro.
Quando Maria soube o nome que o marido havia dado aos filhos ficou chateada, pois, apesar dele ter homenageado dona Matilde também, o nome dele prevaleceu nas crianças, enquanto o dela foi esquecido totalmente.
Os anos se passaram e Maria nunca perdoou Clodoaldo pela desfeita, aliás, nem seu Poliano perdoou, afinal, ele foi o único que não teve o prazer de ter parte de seu nome na certidão de um neto. Mas o destino foi bondoso com o casal e, aos 40 anos, Maria engravidou pela quarta e última vez. Nasceu um menino.
Eis, agora, o grande sofrimento de Clodoaldo. Isso aconteceu há 42 anos atrás. Maria já faleceu e ele está com 84 anos, entre a vida e a morte. Deitado em seu leito, rodeado pelos filhos e netos, Clodoaldo segura a mão de seu caçula, o único que não seguiu o ofício de pescador. Estudou mais do que os irmãos e virou professor. Mudou-se para a Capital e há anos que não visitava a família. Ele olha Clodoaldo imaginando que seu ar de sofrimento é devido à dor, mas não é. Clodoaldo, por mais que se esforce, não lembra o nome do filho... e agora? Está prestes a dar o último suspiro, mas não dá. A única coisa que o mantém vivo é a determinação em lembrar o nome do rebento. - Ah, Maria, se você estivesse aqui, com certeza lembraria! – Clodoaldo vira o rosto e olha pela janela, e enquanto admira o seu último pôr-do-sol, ele sorri satisfeito. – É isso! – Volta os olhos para o filho já grisalho e o chama pelo nome para, em seguida, fechar os olhos de vez.
E você, leitor, saberia dizer qual é o nome do quinto filho de Maria e Clodoaldo?
O pai de Maria, seu Poliano, também era pescador e as famílias eram muito amigas. Todos os dias, enquanto os homens estavam no mar, dona Regina e dona Matilde, as mães de Clodoaldo e Maria, respectivamente, passavam o dia fazendo rendas, ofício no qual Maria já demonstrava talento.
Ao completar 18 anos, Clodoaldo se casou com Maria e, juntos, começaram uma nova família. Não demorou muito para que a moça apresentasse os sintomas da primeira gravidez, dando à luz a um saudável menino. Sendo o casal muito jovem, as famílias tentaram interferir no nome da criança, mas Clodoaldo e Maria foram inflexíveis aos apelos dos pais e decidiram que eles mesmos escolheriam o nome. Uma semana depois de nascido o bebê, Clodoaldo registrou o moleque como Marialdo, a junção de seus nomes, já que ele era fruto do amor do casal.
Passado um tempo, Maria engravidou pela segunda vez e, antes que a criança nascesse, dona Regina veio a falecer, vítima de uma pneumonia não tratada. Entre a tristeza da morte da mãe e a alegria de uma nova vida sendo gerada no ventre de Maria, Clodoaldo decidiu que homenagearia dona Regina, dando parte de seu nome ao próximo filho. E, assim, nasceu Reginaldo, saudável como o irmão.
Os meninos já estavam na escola quando Maria sentiu, pela terceira vez, os seios inchados e doloridos, e percebeu que a regra já não vinha há dois meses. Dessa vez, a barriga ficara maior do que as anteriores, pré-anunciando que a prole iria dobrar. Aos sete meses de gravidez, a bolsa estourou e, com ajuda de dona Matilde, Maria colocou nesse mundão de Deus, um casal de gêmeos, Clotilde e Clodomiro, este último em homenagem ao pai Argemiro.
Quando Maria soube o nome que o marido havia dado aos filhos ficou chateada, pois, apesar dele ter homenageado dona Matilde também, o nome dele prevaleceu nas crianças, enquanto o dela foi esquecido totalmente.
Os anos se passaram e Maria nunca perdoou Clodoaldo pela desfeita, aliás, nem seu Poliano perdoou, afinal, ele foi o único que não teve o prazer de ter parte de seu nome na certidão de um neto. Mas o destino foi bondoso com o casal e, aos 40 anos, Maria engravidou pela quarta e última vez. Nasceu um menino.
Eis, agora, o grande sofrimento de Clodoaldo. Isso aconteceu há 42 anos atrás. Maria já faleceu e ele está com 84 anos, entre a vida e a morte. Deitado em seu leito, rodeado pelos filhos e netos, Clodoaldo segura a mão de seu caçula, o único que não seguiu o ofício de pescador. Estudou mais do que os irmãos e virou professor. Mudou-se para a Capital e há anos que não visitava a família. Ele olha Clodoaldo imaginando que seu ar de sofrimento é devido à dor, mas não é. Clodoaldo, por mais que se esforce, não lembra o nome do filho... e agora? Está prestes a dar o último suspiro, mas não dá. A única coisa que o mantém vivo é a determinação em lembrar o nome do rebento. - Ah, Maria, se você estivesse aqui, com certeza lembraria! – Clodoaldo vira o rosto e olha pela janela, e enquanto admira o seu último pôr-do-sol, ele sorri satisfeito. – É isso! – Volta os olhos para o filho já grisalho e o chama pelo nome para, em seguida, fechar os olhos de vez.
E você, leitor, saberia dizer qual é o nome do quinto filho de Maria e Clodoaldo?
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Nunca ouça atrás da porta!
Ernesto chegou cedo ao trabalho e foi logo à sala do chefe. Queria sondar uma possível promoção. Há oito anos ingressara no Setor de Marketing da empresa e algumas de suas idéias já tinham proporcionado o aumento das vendas de diversos produtos. A companhia vinha crescendo aos poucos e ele queria crescer junto. O pedido era justo!
Resolveu esperar no pequeno sofá do lado de fora. A bolsa de Rosa (Ah, Rosinha!), a secretária, estava pendurada na cadeira, mas nem sinal de sua dona (provavelmente, tinha ido à copa tomar um café). Ele olhou o relógio e achou que daria tempo de dar uma mijada antes. Levantou-se em direção à escada, pois só havia banheiro no andar de baixo (que saco!). Parou, de repente, lembrando que tinha um banheiro exclusivo na sala do chefe (se eu for rapidinho ninguém vai nem saber).
Ernesto deu uma batidinha na porta da sala, como não teve resposta, abriu-a bem devagar. Confirmou que ela estava vazia e foi direto ao banheiro. Ambiente espaçoso (se duvidar, é maior que minha sala, fala sério!) e bem decorado. Assim, ele se distraiu com o quadro na parede, as velas sobre a pia, a toalha de mão bordada com as iniciais do nome do chefe... e, antes que pudesse levantar a tampa do vaso, Ernesto ouviu a porta da sala se abrir. Reconheceu a voz do chefe e de Fernando, seu amigo engenheiro (por que ele estava ali tão cedo também?). Sentou sobre a tampa do vaso e procurou ficar calmo (droga! acabei nem mijando!).
- Pois é chefe, é como estou te dizendo, relutei muito em te contar isso, mas não dava mais para omitir algo tão sério.
- Você tem certeza do que está me dizendo?
- O senhor não sabe como me dói admitir a verdade, eu o acompanhei desde o início, mas a última explosão dele foi decisiva para que eu viesse lhe procurar.
- Nesse caso...
Mas, antes que o chefe pudesse concluir sua frase, um celular tocou. Ernesto não ouvia mais a voz de Fernando e não conseguia compreender direito o que o chefe conversava ao telefone, então, tentou imaginar sobre quem estariam falando. A empresa era relativamente pequena e ele começou a passar em mente todos os empregados, principalmente, algum mais marrento, que tivesse explodido recentemente (quem seria o mané “estouradinho”?). Ernesto percebeu que a conversa ao telefone cessara e resolveu ficar mais próximo da porta para ver se descobria quem era o tal fulano. Ao se levantar, no entanto, sentiu a primeira fisgada na bexiga (caraca, tô ficando apertado).
- Fernando, eu quero saber em que condições ele explodiu. Não pode ter sido assim, à toa.
- Na verdade, eu ainda não consegui encontrar o motivo, mas eu estava com ele na copa, não havia nenhum tipo de pressão a mais e ele de repente, boom, foi em cima da Rosa!
- Da Rosa? Coitada! Mas o que você estava fazendo com ele lá?
- Ah, chefe, era hora do almoço e a gente costuma trazer qualquer coisa para comer aqui mesmo.
- Procure a Rosa, por favor, peça que ela venha aqui. Quero saber qual foi a percepção dela.
Ernesto estava começando a ficar roxo. Primeiro, porque a vontade de urinar estava se tornando muito incômoda e, segundo, porque tinha certeza que o f-d-p do “amigo” Fernando estava falando dele (covarde! isso é o que ele é! como pode me trair pelas costas assim!?). Ele lembrou que na semana anterior havia acontecido um incidente na copa durante o almoço. Algum colega, de sacanagem, roubara o filé de salmão de sua quentinha e ele soltou os cachorros em quem estava lá. A Rosa ainda tentou contornar a situação, dividindo metade de seu filé de frango mas ele ficou mais puto ainda (onde já se viu, comparar um salmão grelhado com um frango desbotado?). Ernesto ouviu as vozes de Fernando e Rosa.
- Vai Rosa, conta para o chefe como foi horrível aquele dia.
- Ai, chefe, é verdade, ele veio em cima de mim e quase que eu me ferro. Juro que eu fiquei muito assustada.
(aquela vaca! só porque eu falei mal daquela carne anêmica na quentinha dela... como mulher é vingativa!)
Ernesto já estava com a mão grudada nas partes baixas, a vontade de urinar já não o deixava pensar direito. Ele ouviu a voz do chefe.
- Então, já que é assim como vocês estão dizendo, vamos ter que nos desfazer dele... que chato!
(desfazer de mim? vão me despedir? como assim? e quem roubou meu salmão?)
- Ehhh, tem mais uma coisa chefe. O Fernando não sabe e eu fico sem graça de contar porque eu sei que não deveria ter feito.
- Diga, Rosa, o que foi?
- Eu fui com ele para casa um dia...
(hãã? ela não vai contar isso!!! isso não!)
- Para sua casa?
- É...
- Mas por quê?
(cala a boca, cala a boca! ai meu Deus, eu vou me mijar todo já, já)
- Bem, isso foi antes desse outro dia que o Fernando contou. É que eu estava curiosa, queria experimentar...
(eu não acredito, ela vai contar que eu brochei em nosso único encontro? o que isso tem a ver? eu estava nervoso sua cretina!)
- E o que aconteceu?
- Ele meio que não deu conta...
(vaca, vaca, ai tá começando a escorrer)
- E...?
Nessa hora, Ernesto não aguentou. Sentindo que ia se mijar de tão apertado que estava, resolveu aloprar. Já ia ser demitido mesmo, então, que se danassem todos! O chefe bundão que fica dando ouvido a fofocas; o amigo urso que, provavelmente, está de olho na promoção e quer tirá-lo do caminho; a doce e falsa Rosa, que decidiu ridicularizá-lo publicamente! Abrindo a porta de supetão, Ernesto colocou o falo (com tesão de mijo) para fora da calça e começou a urinar ali mesmo, no meio da sala, diante dos olhares atônitos das três pessoas que sequer imaginavam sua presença ali e que estavam, nitidamente, com dificuldade para compreender o que ele estava fazendo.
- E agora, o que vocês dizem sobre isso? Estão surpresos? Acham que além de explosivo eu sou louco também?
- Ernesto! O que significa isto? – perguntou Fernando com cara de abobado, já que o chefe parecia nem respirar e Rosa faltava pouco para desmaiar.
- Eu é que pergunto, que conversa é esta pelas minhas costas?
- Cara, não estou entendendo, eu não sabia que você queria estar junto na hora de contarmos ao chefe que o protótipo do recipiente plástico para acondicionamento de líquidos em alta temperatura não está passando nos testes, que temos relatos de explosão, amolecimento do material...
- Protótipo... recipiente plástico? – Ernesto perguntou confuso segurando o falo já adormecido pela bexiga aliviada.
- É Ernesto, protótipo! Este que está em cima da mesa! Você tá maluco? Coloca esta coisa para dentro das calças! – Fernando ordenou nervoso.
- Você estava falando do protótipo também Rosa? – Ernesto se virou de rosto, corpo e membro na mão para a secretária.
- E eu ia falar de quê? Eu peguei um do mostruário para ver se suportava óleo fervendo, mas ele começou a amolecer! – Rosa falou aos gritos, tampando os olhos com falsa vergonha.
Nessa hora, o chefe, que até então permanecera calado, afastou Fernando e Rosa da sua frente e, com olhar de fúria, indagou Ernesto:
- Eu espero que o senhor tenha uma e-x-c-e-l-e-n-t-e explicação para estar esse tempo todo escondido no meu banheiro, ter mijado no meio da minha sala e ainda estar com o pau para fora das calças!
Foi então que Ernesto percebeu o tamanho da M... que tinha feito. Calmamente guardou o “fulaninho” e abotoou as calças. Respirou fundo e, olhando nos olhos do chefe, respondeu:
- Esta encenação foi apenas uma sugestão para a nova campanha da nossa marca. Pensei em um cara meio maluco saindo nu de dentro de uma caixa de presente gigante no meio de uma festa, gritando “Surpresa!”. Aí, nessa hora, a cena congela e ouve-se em off ...
Você quer muito fazer uma surpresa, mas tem medo de exagerar? Dê produtos Jelix, o jeito certo para surpreender e agradar!
- E, então? Aquela vaga de Supervisor já tem dono?
Resolveu esperar no pequeno sofá do lado de fora. A bolsa de Rosa (Ah, Rosinha!), a secretária, estava pendurada na cadeira, mas nem sinal de sua dona (provavelmente, tinha ido à copa tomar um café). Ele olhou o relógio e achou que daria tempo de dar uma mijada antes. Levantou-se em direção à escada, pois só havia banheiro no andar de baixo (que saco!). Parou, de repente, lembrando que tinha um banheiro exclusivo na sala do chefe (se eu for rapidinho ninguém vai nem saber).
Ernesto deu uma batidinha na porta da sala, como não teve resposta, abriu-a bem devagar. Confirmou que ela estava vazia e foi direto ao banheiro. Ambiente espaçoso (se duvidar, é maior que minha sala, fala sério!) e bem decorado. Assim, ele se distraiu com o quadro na parede, as velas sobre a pia, a toalha de mão bordada com as iniciais do nome do chefe... e, antes que pudesse levantar a tampa do vaso, Ernesto ouviu a porta da sala se abrir. Reconheceu a voz do chefe e de Fernando, seu amigo engenheiro (por que ele estava ali tão cedo também?). Sentou sobre a tampa do vaso e procurou ficar calmo (droga! acabei nem mijando!).
- Pois é chefe, é como estou te dizendo, relutei muito em te contar isso, mas não dava mais para omitir algo tão sério.
- Você tem certeza do que está me dizendo?
- O senhor não sabe como me dói admitir a verdade, eu o acompanhei desde o início, mas a última explosão dele foi decisiva para que eu viesse lhe procurar.
- Nesse caso...
Mas, antes que o chefe pudesse concluir sua frase, um celular tocou. Ernesto não ouvia mais a voz de Fernando e não conseguia compreender direito o que o chefe conversava ao telefone, então, tentou imaginar sobre quem estariam falando. A empresa era relativamente pequena e ele começou a passar em mente todos os empregados, principalmente, algum mais marrento, que tivesse explodido recentemente (quem seria o mané “estouradinho”?). Ernesto percebeu que a conversa ao telefone cessara e resolveu ficar mais próximo da porta para ver se descobria quem era o tal fulano. Ao se levantar, no entanto, sentiu a primeira fisgada na bexiga (caraca, tô ficando apertado).
- Fernando, eu quero saber em que condições ele explodiu. Não pode ter sido assim, à toa.
- Na verdade, eu ainda não consegui encontrar o motivo, mas eu estava com ele na copa, não havia nenhum tipo de pressão a mais e ele de repente, boom, foi em cima da Rosa!
- Da Rosa? Coitada! Mas o que você estava fazendo com ele lá?
- Ah, chefe, era hora do almoço e a gente costuma trazer qualquer coisa para comer aqui mesmo.
- Procure a Rosa, por favor, peça que ela venha aqui. Quero saber qual foi a percepção dela.
Ernesto estava começando a ficar roxo. Primeiro, porque a vontade de urinar estava se tornando muito incômoda e, segundo, porque tinha certeza que o f-d-p do “amigo” Fernando estava falando dele (covarde! isso é o que ele é! como pode me trair pelas costas assim!?). Ele lembrou que na semana anterior havia acontecido um incidente na copa durante o almoço. Algum colega, de sacanagem, roubara o filé de salmão de sua quentinha e ele soltou os cachorros em quem estava lá. A Rosa ainda tentou contornar a situação, dividindo metade de seu filé de frango mas ele ficou mais puto ainda (onde já se viu, comparar um salmão grelhado com um frango desbotado?). Ernesto ouviu as vozes de Fernando e Rosa.
- Vai Rosa, conta para o chefe como foi horrível aquele dia.
- Ai, chefe, é verdade, ele veio em cima de mim e quase que eu me ferro. Juro que eu fiquei muito assustada.
(aquela vaca! só porque eu falei mal daquela carne anêmica na quentinha dela... como mulher é vingativa!)
Ernesto já estava com a mão grudada nas partes baixas, a vontade de urinar já não o deixava pensar direito. Ele ouviu a voz do chefe.
- Então, já que é assim como vocês estão dizendo, vamos ter que nos desfazer dele... que chato!
(desfazer de mim? vão me despedir? como assim? e quem roubou meu salmão?)
- Ehhh, tem mais uma coisa chefe. O Fernando não sabe e eu fico sem graça de contar porque eu sei que não deveria ter feito.
- Diga, Rosa, o que foi?
- Eu fui com ele para casa um dia...
(hãã? ela não vai contar isso!!! isso não!)
- Para sua casa?
- É...
- Mas por quê?
(cala a boca, cala a boca! ai meu Deus, eu vou me mijar todo já, já)
- Bem, isso foi antes desse outro dia que o Fernando contou. É que eu estava curiosa, queria experimentar...
(eu não acredito, ela vai contar que eu brochei em nosso único encontro? o que isso tem a ver? eu estava nervoso sua cretina!)
- E o que aconteceu?
- Ele meio que não deu conta...
(vaca, vaca, ai tá começando a escorrer)
- E...?
Nessa hora, Ernesto não aguentou. Sentindo que ia se mijar de tão apertado que estava, resolveu aloprar. Já ia ser demitido mesmo, então, que se danassem todos! O chefe bundão que fica dando ouvido a fofocas; o amigo urso que, provavelmente, está de olho na promoção e quer tirá-lo do caminho; a doce e falsa Rosa, que decidiu ridicularizá-lo publicamente! Abrindo a porta de supetão, Ernesto colocou o falo (com tesão de mijo) para fora da calça e começou a urinar ali mesmo, no meio da sala, diante dos olhares atônitos das três pessoas que sequer imaginavam sua presença ali e que estavam, nitidamente, com dificuldade para compreender o que ele estava fazendo.
- E agora, o que vocês dizem sobre isso? Estão surpresos? Acham que além de explosivo eu sou louco também?
- Ernesto! O que significa isto? – perguntou Fernando com cara de abobado, já que o chefe parecia nem respirar e Rosa faltava pouco para desmaiar.
- Eu é que pergunto, que conversa é esta pelas minhas costas?
- Cara, não estou entendendo, eu não sabia que você queria estar junto na hora de contarmos ao chefe que o protótipo do recipiente plástico para acondicionamento de líquidos em alta temperatura não está passando nos testes, que temos relatos de explosão, amolecimento do material...
- Protótipo... recipiente plástico? – Ernesto perguntou confuso segurando o falo já adormecido pela bexiga aliviada.
- É Ernesto, protótipo! Este que está em cima da mesa! Você tá maluco? Coloca esta coisa para dentro das calças! – Fernando ordenou nervoso.
- Você estava falando do protótipo também Rosa? – Ernesto se virou de rosto, corpo e membro na mão para a secretária.
- E eu ia falar de quê? Eu peguei um do mostruário para ver se suportava óleo fervendo, mas ele começou a amolecer! – Rosa falou aos gritos, tampando os olhos com falsa vergonha.
Nessa hora, o chefe, que até então permanecera calado, afastou Fernando e Rosa da sua frente e, com olhar de fúria, indagou Ernesto:
- Eu espero que o senhor tenha uma e-x-c-e-l-e-n-t-e explicação para estar esse tempo todo escondido no meu banheiro, ter mijado no meio da minha sala e ainda estar com o pau para fora das calças!
Foi então que Ernesto percebeu o tamanho da M... que tinha feito. Calmamente guardou o “fulaninho” e abotoou as calças. Respirou fundo e, olhando nos olhos do chefe, respondeu:
- Esta encenação foi apenas uma sugestão para a nova campanha da nossa marca. Pensei em um cara meio maluco saindo nu de dentro de uma caixa de presente gigante no meio de uma festa, gritando “Surpresa!”. Aí, nessa hora, a cena congela e ouve-se em off ...
Você quer muito fazer uma surpresa, mas tem medo de exagerar? Dê produtos Jelix, o jeito certo para surpreender e agradar!
- E, então? Aquela vaga de Supervisor já tem dono?
domingo, 7 de agosto de 2011
Sexta-feira!
Gilda atravessou a passarela a passos rápidos. Para variar, estava atrasada. Desceu as escadas com dificuldade, pois o vestidinho preto comprimia suas coxas e o salto alto tirava-lhe o equilíbrio. Para completar o visual, uma meia-calça preta e os cabelos bem produzidos. Ia sair para dançar com a turma do trabalho após o expediente. Olhou o relógio que marcava 7h.
- Impossível chegar antes das sete e meia. Vou perder o café da manhã!
Alguns metros adiante, passou em frente a uma lanchonete. O cheiro era irresistível.
- Já perdi o café mesmo...
Gilda entrou na loja e examinou o balcão de salgados. O atendente estava colocando uma bandeja de bolinhos de carne quentinhos. Ela não resistiu. Sabia que não deveria comer fritura, mas a aparência estava ótima.
- Moço, me vê um bolinho deste?
- Pra levar ou pra comer agora?
- Pra levar.
O rapaz se virou e puxou um pedaço de papel cor de rosa do rolo atrás dele. Embrulhou o bolinho e o entregou à Gilda.
- R$2,00, paga no caixa por favor.
Gilda pegou o bolinho já com crise na consciência. O papel, mal tocara no salgado, ficara cheio de rodelas de gordura.
- Caraca, quanto óleo! Mas uma vezinha só não faz mal...
Ela pagou os R$2,00, colocou o bolinho dentro da pasta (na bolsa não, pois iria deixá-la com cheiro de fritura) e foi caminhando em direção ao ponto de ônibus. De longe, já pode ver o Madureira x Curicica parado. Olhou o relógio novamente: 7h10. Resolveu correr, mas, nem bem dera meia dúzia de passos, o ônibus começou a andar lentamente. Gilda parou, mas o sinal fechara a uns quinze metros dela e o motorista foi obrigado a parar também. Percebendo a chance, Gilda esqueceu o vestidinho justo e o salto alto e decidiu correr de verdade. Um pé a frente do outro, bolsa no ombro e pasta (com o bolinho de carne gorduroso) debaixo do braço. Mas, quem é capaz de perceber quando atravessa a fronteira que conduz à tragédia, ao caos? Bastaram dois segundos e uma pisada em falso para que Gilda se desequilibrasse. Não fosse o fato de estar no embalo da corrida, e ter tropeçado em um desnível do asfalto, ela teria caído ali mesmo.
O fato é que Gilda não caiu. Não, de forma alguma. O tropeço fez Gilda, simplesmente, decolar. Ela foi arremessada a cinco metros de distância de onde estava, em direção ao ônibus. Enquanto passava pelas pessoas, literalmente, voando e gritando, seus braços sacudiam-se, igual boneco de ar de posto de gasolina, procurarado apoio. A bolsa foi para um lado, a pasta foi para outro e tudo foi ao chão ao mesmo tempo. Gilda só parou quando sua cabeça encontrou o pneu do ônibus. O braço direito, ainda no ar, chocou-se violentamente contra o metal do veículo.
Tudo à sua volta congelou, ninguém se mexia, exceto o bolinho, que saiu rolando da pasta como se estivesse desfilando em uma passarela, embrulhado em seu papel cor de rosa e suas rodelas de óleo, que agora já eram manchas gigantes. Além de seus cigarros, que fugiram do maço (que também estava na pasta), indo um para cada lado, lembrando uma fuga coletiva.
A pancada na cabeça fizera Gilda cegar por dois ou três segundos, mas, naquele momento, ela desejou que tivesse sido por dois ou três séculos! Quando tentou se apoiar com a mão direita, não conseguiu. A batida na lateral do ônibus deixara o punho sem reflexo. As pessoas começaram a rodeá-la. Todos os passageiros colocaram suas cabeças para o lado de fora das janelas tentando entender de onde teria vindo o barulho da pancada. O sinal abriu, mas o ônibus permaneceu no lugar. Ajudaram Gilda a se levantar, sem entender que ela estava esperando que um buraco se abrisse para que ela fosse enterrada viva ali mesmo. O vestido subira, a meia-calça preta rasgara nos joelhos, que sangravam. Uma moça lhe entregou a bolsa, enquanto um rapaz corria atrás de seus cigarros espalhados no asfalto enfiando-os à força no maço vazio. Um menino fechou sua pasta e lhe deu. Mancando, Gilda deu o primeiro passo. Um homem se aproximou e perguntou de mão estendida:
- Isto é seu?
Gilda olhou o papel cor de rosa, a essa altura totalmente ensopado de óleo e pensou em desdenhar daquilo, mas lembrou-se que ficaria sem comer até o meio-dia. Então, respirando fundo, deu meio sorriso e pegou seu bolinho.
- Obrigada.
Em seguida, da mesma forma que Moisés separou o Mar Vermelho, Gilda foi abrindo passagem entre as pessoas que já se amontoavam querendo saber se alguém havia morrido ali no meio da multidão (e ela chegou a pensar que teria sido uma boa coisa). Subiu os degraus do ônibus, afastando os demais passageiros que tulmutuavam a porta. Encostou na roleta e o trocador perguntou:
- Machucou?
Ao que Gilda respondeu:
- Só o orgulho moço, só o orgulho...
- Impossível chegar antes das sete e meia. Vou perder o café da manhã!
Alguns metros adiante, passou em frente a uma lanchonete. O cheiro era irresistível.
- Já perdi o café mesmo...
Gilda entrou na loja e examinou o balcão de salgados. O atendente estava colocando uma bandeja de bolinhos de carne quentinhos. Ela não resistiu. Sabia que não deveria comer fritura, mas a aparência estava ótima.
- Moço, me vê um bolinho deste?
- Pra levar ou pra comer agora?
- Pra levar.
O rapaz se virou e puxou um pedaço de papel cor de rosa do rolo atrás dele. Embrulhou o bolinho e o entregou à Gilda.
- R$2,00, paga no caixa por favor.
Gilda pegou o bolinho já com crise na consciência. O papel, mal tocara no salgado, ficara cheio de rodelas de gordura.
- Caraca, quanto óleo! Mas uma vezinha só não faz mal...
Ela pagou os R$2,00, colocou o bolinho dentro da pasta (na bolsa não, pois iria deixá-la com cheiro de fritura) e foi caminhando em direção ao ponto de ônibus. De longe, já pode ver o Madureira x Curicica parado. Olhou o relógio novamente: 7h10. Resolveu correr, mas, nem bem dera meia dúzia de passos, o ônibus começou a andar lentamente. Gilda parou, mas o sinal fechara a uns quinze metros dela e o motorista foi obrigado a parar também. Percebendo a chance, Gilda esqueceu o vestidinho justo e o salto alto e decidiu correr de verdade. Um pé a frente do outro, bolsa no ombro e pasta (com o bolinho de carne gorduroso) debaixo do braço. Mas, quem é capaz de perceber quando atravessa a fronteira que conduz à tragédia, ao caos? Bastaram dois segundos e uma pisada em falso para que Gilda se desequilibrasse. Não fosse o fato de estar no embalo da corrida, e ter tropeçado em um desnível do asfalto, ela teria caído ali mesmo.
O fato é que Gilda não caiu. Não, de forma alguma. O tropeço fez Gilda, simplesmente, decolar. Ela foi arremessada a cinco metros de distância de onde estava, em direção ao ônibus. Enquanto passava pelas pessoas, literalmente, voando e gritando, seus braços sacudiam-se, igual boneco de ar de posto de gasolina, procurarado apoio. A bolsa foi para um lado, a pasta foi para outro e tudo foi ao chão ao mesmo tempo. Gilda só parou quando sua cabeça encontrou o pneu do ônibus. O braço direito, ainda no ar, chocou-se violentamente contra o metal do veículo.
Tudo à sua volta congelou, ninguém se mexia, exceto o bolinho, que saiu rolando da pasta como se estivesse desfilando em uma passarela, embrulhado em seu papel cor de rosa e suas rodelas de óleo, que agora já eram manchas gigantes. Além de seus cigarros, que fugiram do maço (que também estava na pasta), indo um para cada lado, lembrando uma fuga coletiva.
A pancada na cabeça fizera Gilda cegar por dois ou três segundos, mas, naquele momento, ela desejou que tivesse sido por dois ou três séculos! Quando tentou se apoiar com a mão direita, não conseguiu. A batida na lateral do ônibus deixara o punho sem reflexo. As pessoas começaram a rodeá-la. Todos os passageiros colocaram suas cabeças para o lado de fora das janelas tentando entender de onde teria vindo o barulho da pancada. O sinal abriu, mas o ônibus permaneceu no lugar. Ajudaram Gilda a se levantar, sem entender que ela estava esperando que um buraco se abrisse para que ela fosse enterrada viva ali mesmo. O vestido subira, a meia-calça preta rasgara nos joelhos, que sangravam. Uma moça lhe entregou a bolsa, enquanto um rapaz corria atrás de seus cigarros espalhados no asfalto enfiando-os à força no maço vazio. Um menino fechou sua pasta e lhe deu. Mancando, Gilda deu o primeiro passo. Um homem se aproximou e perguntou de mão estendida:
- Isto é seu?
Gilda olhou o papel cor de rosa, a essa altura totalmente ensopado de óleo e pensou em desdenhar daquilo, mas lembrou-se que ficaria sem comer até o meio-dia. Então, respirando fundo, deu meio sorriso e pegou seu bolinho.
- Obrigada.
Em seguida, da mesma forma que Moisés separou o Mar Vermelho, Gilda foi abrindo passagem entre as pessoas que já se amontoavam querendo saber se alguém havia morrido ali no meio da multidão (e ela chegou a pensar que teria sido uma boa coisa). Subiu os degraus do ônibus, afastando os demais passageiros que tulmutuavam a porta. Encostou na roleta e o trocador perguntou:
- Machucou?
Ao que Gilda respondeu:
- Só o orgulho moço, só o orgulho...
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
O primeiro encontro a gente nunca esquece...
Zuleide sempre foi uma mulher de personalidade forte. Mas, apesar disso e da beleza radiante, era uma pessoa tímida para encontros. No trabalho se destacava pelo poder de liderança. Na vida pessoal estava sempre rodeada de amigos que a admiravam muito, no entanto, quando o assunto era ‘relacionamento’, Zuleide amarelava. Ficava sem graça, desconversava, fazia que não entendia o flerte.
Acontece que o tempo foi passando, os amigos de Zuleide foram namorando, casando ou ‘se enrolando’ e ela sempre sozinha. Um dia, uma amiga deu-lhe um ultimato:
– Menina (e Zuleide já não era tão menina assim, mas amiga que é amiga serve para dar essa enganada na gente, certo?), você precisa parar com essa fobia de homem!
– E quem disse que eu tenho isso? – ela repondeu ofendida.
– Ah, pra cima de mim, Zu? Tá na cara que você vive fugindo de tudo que é encontro.
– Não é bem assim...
– Claro que é! Ou você vai no encontro que eu te arrumei ou eu paro de sair contigo. Onde já se viu? Uma mulher tão bonita e inteligente que não sabe se relacionar com o sexo oposto!
– Mas é que eu nunca sei o que dizer. Fico insegura, acho que vou cometer alguma gafe horrível, vou pagar mico, sei lá.
– Nada disso, Zu. Você é uma mulher incrível e sua conversa é ótima! Basta ser você mesma. Além disso, o Maurinho é um cara super legal, além de bonito e sensível, coisa rara. O encontro é na Sexta e ele vai te buscar na saída do trabalho, não tem conversa.
Diante da decisão da amiga, Zuleide não teve como fugir. Na Quinta antes do tal encontro, saiu mais cedo do trabalho e encarou o ritual padrão. Depilou o que tinha que ser depilado (apostou na clássica pista de pouso francesa, para ficar no meio termo), foi à manicure, fez escova, sobrancelha e, para finalizar, se submeteu a um banho de lua.
Na Sexta, parecia que todo mundo já sabia que Zuleide ia sair com alguém. Alguns comentários vagos, piscadelas de olho e, claro, o famoso ‘mala’ que não perde a oportunidade para ser inconveniente: – Aí, gostei de ver, hoje tem em Zuzu!
Finalmente, o dia acabou e o telefone tocou, era da Portaria. O sr. Mauro a aguardava. Zuleide olhou para o relógio que marcava 19h e computou um ponto positivo para o rapaz. Era pontual. Ela pegou um espelhinho na bolsa e deu uma última olhada em si mesma, retocou o batom e desceu. “Seja o que Deus quiser!”
O porteiro indicou à Zuleide quem era o rapaz que a esperava. Os dois se cumprimentaram, ele a levou ao carro e seguiram para o restaurante. Mauro era exatamente como a amiga dissera: legal, bonito e sensível. Desde o primeiro instante fez Zuleide se sentir super à vontade. Contou piadas para relaxar, mas não errou na dose. Colocou músicas conhecidas para que ela se distraísse e não deixou o papo cair. Quando estacionou, fez questão que ela esperasse no carro para que pudesse abrir a porta e ajudá-la a sair. No salão do restaurante, puxou a cadeira para ela sentar e orientou-a na escolha do prato, pois era a primeira vez que Zuleide ia àquele restaurante e Mauro já conhecia o menu.
As horas foram passando e alguns espumantes depois, Zuleide já estava totalmente relaxada. A conversa fluía naturalmente e ela estava super feliz de ter aceitado o encontro. Sentia que aquele era apenas o primeiro de uma série. Mas em dado momento, a ingestão de líquidos se fez valer e Zuleide pediu licença para ir ao toilette.
Ocorre que determinadas situações só acontecem no Rio de Janeiro. Apesar do restaurante ter uma cozinha maravilhosa e uma boa aparência, o banheiro era um lixo. Para começar, só havia um! Teve que esperar, pacientemente, que as cinco mulheres a sua frente entrassem uma de cada vez. E todas sairam indignadas, reclamando da imundície lá dentro. Mas ouvir não é a mesma coisa que ver, e Zuleide teve vontade de vomitar com a situação grotesca. O local era um cubículo e ela teve o máximo cuidado para que a saia longa não tocasse em nada. O vaso estava todo manchado de vermelho e havia mijo para todo o lado, um desastre!
– Por que essas mulheres são tão porcas? Que nojo!
Zuleide pensou em desistir, mas não queria estragar a noite tão agradável pedindo para ir embora, pois não aguentaria ficar mais vinte minutos com a bexiga cheia. O jeito era encarar, tomando os devidos cuidados, claro. Primeiro, ela cuidou da saia. Puxou-a toda para a frente, fez um enrolado com o tecido e o prendeu no elástico da cintura. Em seguida, quase sem respirar e se movendo lentamente, tirou a calcinha (pois iria mijar em pé) e, com muita criatividade, pendurou-a de forma que não tocasse em nada. Abriu e arqueou as pernas o suficiente para não tocar nem no vaso, nem nas paredes laterais, e deixou o xixi sair, rezando para que não corresse pelas coxas. Após alguns minutos de tensão (ela esta muuuito apertada), Zuleide concluiu a tarefa. Aliviada, soltou a saia e se ajeitou como deu ali naquele cubículo. Para fugir do tumulto na porta do banheiro (a fila já estava com umas dez mulheres desesperadas), usou o gel ao lado da porta do banheiro masculino para higienizar as mãos e voltou para a mesa.
Atravessou o salão quase correndo, preocupada em ter deixado Maurinho tanto tempo sozinho. Avistou o rapaz que a olhava com surpresa e ao sentar já foi se explicando:
– Desculpe-me por ter demorado tanto, mas você não imagina a confusão que está no banheiro feminino.
– Tudo bem, é que...
– Eu sei, eu sei, você já devia estar preocupado, não?
– Sim, mas...
– Ah, pensou que eu fosse fugir, hein? – Zuleide riu, cheia de confiança, já se sentindo íntima do rapaz.
– Não é isso...
O garçom encostou e olhou sorrindo para Zuleide.
– Você pode me trazer o menu da sobremesa? - ela pediu.
Maurinho segurou as mãos de Zuleide firmemente:
– Zu, olha pra mim!
Estranhando a reação do moço, ela perguntou desconfiada:
– O que foi Mauro, você não quer que eu peça sobremesa?
– Não é nada disso...
– O que foi, então?
E Maurinho resolveu dizer logo, antes que ela o interrompesse mais uma vez:
– Zuleide, eu não sei o que aconteceu lá dentro, mas você está com uma calcinha vermelha em volta da cabeça!
Acontece que o tempo foi passando, os amigos de Zuleide foram namorando, casando ou ‘se enrolando’ e ela sempre sozinha. Um dia, uma amiga deu-lhe um ultimato:
– Menina (e Zuleide já não era tão menina assim, mas amiga que é amiga serve para dar essa enganada na gente, certo?), você precisa parar com essa fobia de homem!
– E quem disse que eu tenho isso? – ela repondeu ofendida.
– Ah, pra cima de mim, Zu? Tá na cara que você vive fugindo de tudo que é encontro.
– Não é bem assim...
– Claro que é! Ou você vai no encontro que eu te arrumei ou eu paro de sair contigo. Onde já se viu? Uma mulher tão bonita e inteligente que não sabe se relacionar com o sexo oposto!
– Mas é que eu nunca sei o que dizer. Fico insegura, acho que vou cometer alguma gafe horrível, vou pagar mico, sei lá.
– Nada disso, Zu. Você é uma mulher incrível e sua conversa é ótima! Basta ser você mesma. Além disso, o Maurinho é um cara super legal, além de bonito e sensível, coisa rara. O encontro é na Sexta e ele vai te buscar na saída do trabalho, não tem conversa.
Diante da decisão da amiga, Zuleide não teve como fugir. Na Quinta antes do tal encontro, saiu mais cedo do trabalho e encarou o ritual padrão. Depilou o que tinha que ser depilado (apostou na clássica pista de pouso francesa, para ficar no meio termo), foi à manicure, fez escova, sobrancelha e, para finalizar, se submeteu a um banho de lua.
Na Sexta, parecia que todo mundo já sabia que Zuleide ia sair com alguém. Alguns comentários vagos, piscadelas de olho e, claro, o famoso ‘mala’ que não perde a oportunidade para ser inconveniente: – Aí, gostei de ver, hoje tem em Zuzu!
Finalmente, o dia acabou e o telefone tocou, era da Portaria. O sr. Mauro a aguardava. Zuleide olhou para o relógio que marcava 19h e computou um ponto positivo para o rapaz. Era pontual. Ela pegou um espelhinho na bolsa e deu uma última olhada em si mesma, retocou o batom e desceu. “Seja o que Deus quiser!”
O porteiro indicou à Zuleide quem era o rapaz que a esperava. Os dois se cumprimentaram, ele a levou ao carro e seguiram para o restaurante. Mauro era exatamente como a amiga dissera: legal, bonito e sensível. Desde o primeiro instante fez Zuleide se sentir super à vontade. Contou piadas para relaxar, mas não errou na dose. Colocou músicas conhecidas para que ela se distraísse e não deixou o papo cair. Quando estacionou, fez questão que ela esperasse no carro para que pudesse abrir a porta e ajudá-la a sair. No salão do restaurante, puxou a cadeira para ela sentar e orientou-a na escolha do prato, pois era a primeira vez que Zuleide ia àquele restaurante e Mauro já conhecia o menu.
As horas foram passando e alguns espumantes depois, Zuleide já estava totalmente relaxada. A conversa fluía naturalmente e ela estava super feliz de ter aceitado o encontro. Sentia que aquele era apenas o primeiro de uma série. Mas em dado momento, a ingestão de líquidos se fez valer e Zuleide pediu licença para ir ao toilette.
Ocorre que determinadas situações só acontecem no Rio de Janeiro. Apesar do restaurante ter uma cozinha maravilhosa e uma boa aparência, o banheiro era um lixo. Para começar, só havia um! Teve que esperar, pacientemente, que as cinco mulheres a sua frente entrassem uma de cada vez. E todas sairam indignadas, reclamando da imundície lá dentro. Mas ouvir não é a mesma coisa que ver, e Zuleide teve vontade de vomitar com a situação grotesca. O local era um cubículo e ela teve o máximo cuidado para que a saia longa não tocasse em nada. O vaso estava todo manchado de vermelho e havia mijo para todo o lado, um desastre!
– Por que essas mulheres são tão porcas? Que nojo!
Zuleide pensou em desistir, mas não queria estragar a noite tão agradável pedindo para ir embora, pois não aguentaria ficar mais vinte minutos com a bexiga cheia. O jeito era encarar, tomando os devidos cuidados, claro. Primeiro, ela cuidou da saia. Puxou-a toda para a frente, fez um enrolado com o tecido e o prendeu no elástico da cintura. Em seguida, quase sem respirar e se movendo lentamente, tirou a calcinha (pois iria mijar em pé) e, com muita criatividade, pendurou-a de forma que não tocasse em nada. Abriu e arqueou as pernas o suficiente para não tocar nem no vaso, nem nas paredes laterais, e deixou o xixi sair, rezando para que não corresse pelas coxas. Após alguns minutos de tensão (ela esta muuuito apertada), Zuleide concluiu a tarefa. Aliviada, soltou a saia e se ajeitou como deu ali naquele cubículo. Para fugir do tumulto na porta do banheiro (a fila já estava com umas dez mulheres desesperadas), usou o gel ao lado da porta do banheiro masculino para higienizar as mãos e voltou para a mesa.
Atravessou o salão quase correndo, preocupada em ter deixado Maurinho tanto tempo sozinho. Avistou o rapaz que a olhava com surpresa e ao sentar já foi se explicando:
– Desculpe-me por ter demorado tanto, mas você não imagina a confusão que está no banheiro feminino.
– Tudo bem, é que...
– Eu sei, eu sei, você já devia estar preocupado, não?
– Sim, mas...
– Ah, pensou que eu fosse fugir, hein? – Zuleide riu, cheia de confiança, já se sentindo íntima do rapaz.
– Não é isso...
O garçom encostou e olhou sorrindo para Zuleide.
– Você pode me trazer o menu da sobremesa? - ela pediu.
Maurinho segurou as mãos de Zuleide firmemente:
– Zu, olha pra mim!
Estranhando a reação do moço, ela perguntou desconfiada:
– O que foi Mauro, você não quer que eu peça sobremesa?
– Não é nada disso...
– O que foi, então?
E Maurinho resolveu dizer logo, antes que ela o interrompesse mais uma vez:
– Zuleide, eu não sei o que aconteceu lá dentro, mas você está com uma calcinha vermelha em volta da cabeça!
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Por que dói tanto perder alguém?
Que mecanismo é esse que é acionado dentro de nós quando somos privados daquela pessoa que tanto amamos?
Existem pessoas com as quais passamos semanas, meses e até anos sem ter qualquer contato mais próximo, mas sabemos que ela está disponível e que podemos procurá-la quando quisermos, ou pudermos, ou tivermos tempo...
Mas, de repente, tudo muda e essa pessoa sai de nossa vida repentinamente... o efeito lembra uma hemorragia interna. A gente parece bem por fora mas, por dentro, todo o organismo está comprometido. Os músculos vivem tensos, a cabeça está sempre distante, nostálgica, a respiração é apenas aquela suficiente para nos mantermos vivos, os olhos quase sempre vermelhos, e o coração... ah, o coração! Coitado! Este é o que mais sofre. Recebe toda a carga de dor, toda a pressão da culpa, da cobrança, do remorso, da saudade.
É aí que entra o “se...”. Nunca vi duas letrinhas tão prejudiciais quanto essas. O “se” nos mantém presos ao passado. Nos coloca em um looping do qual temos enorme dificuldade de sair. “Se eu tivesse feito assim”, ‘Se eu não tivesse dito aquilo”. Nada é mais cruel, porque não podemos voltar no tempo (ainda não!) e ficamos emperrados, não conseguimos ir adiante. Às vezes até saímos do lugar, mas são dois passos para frente e um para trás.
Eu queria, só por hoje, não sentir essa dor para a qual não existe analgésico, nem cura. Mas o máximo que é possível fazer é aprender a conviver com ela. E, nossa, como é difícil!
Perder um amor carnal é fácil. Dói igual topada com o dedinho do pé. Você acha que nunca vai passar, mas passa. Pode ser até que deixe uma marquinha, fique inchado um pouquinho, mas passa. Amor carnal é igual a prato predileto. Você jura que não vive sem comer a pizza do seu Pepe, até que descobre aquela empadinha de camarão da dona Jurema. No começo você frequenta os dois e fica assim, tentando se decidir. E quando acha que não é capaz de escolher entre um e outro, boom! Eis que abre logo ali na esquina, o pastel de catupiry do Betão. Aí ferrou, você larga tudo e cai de boca. Pois é, amor carnal é assim, volúvel demais.
O que dói mesmo, e não só no corpo, mas na alma também, é perder amor fraterno. Este, sim, é paulada na moleira. Porque amor fraterno é como um quebra-cabeça que você vai construindo ao longo da vida. Uma peça de cada vez... tá todo mundo lá, pai, mãe (biológicos ou do coração), irmãos (de sangue ou de fé), amigos... ah, os amigos! Estes seres que dão sentido à nossa vida. E, assim, formamos uma linda imagem, uma paisagem feita de laços indestrutíveis. Aí, você perde uma peça. Que coisa feia que fica. O cenário está lá, mas tem um espaço vago. Quanto menor o seu quebra-cabeça, maior o dano. Mas seja qual for o tamanho, a paisagem estará comprometida para sempre com a peça que se perdeu. Você até enxerga o todo e acha que dá para levar assim mesmo, mas quando fixa o olhar naquele espacinho vazio, como dói.
Dói porque você sabe que tinha uma peça ali. Você sabe o formato dela, sabe a cor, sabe exatamente que parte ela complementava, e nunca vai esquecer dela, porque mesmo que você não tenha completado o seu quebra-cabeça ainda, nenhuma outra peça vai preencher aquele vazio, ele é único e somente uma peça encaixa ali e é exatamente aquela que você perdeu...
Existem pessoas com as quais passamos semanas, meses e até anos sem ter qualquer contato mais próximo, mas sabemos que ela está disponível e que podemos procurá-la quando quisermos, ou pudermos, ou tivermos tempo...
Mas, de repente, tudo muda e essa pessoa sai de nossa vida repentinamente... o efeito lembra uma hemorragia interna. A gente parece bem por fora mas, por dentro, todo o organismo está comprometido. Os músculos vivem tensos, a cabeça está sempre distante, nostálgica, a respiração é apenas aquela suficiente para nos mantermos vivos, os olhos quase sempre vermelhos, e o coração... ah, o coração! Coitado! Este é o que mais sofre. Recebe toda a carga de dor, toda a pressão da culpa, da cobrança, do remorso, da saudade.
É aí que entra o “se...”. Nunca vi duas letrinhas tão prejudiciais quanto essas. O “se” nos mantém presos ao passado. Nos coloca em um looping do qual temos enorme dificuldade de sair. “Se eu tivesse feito assim”, ‘Se eu não tivesse dito aquilo”. Nada é mais cruel, porque não podemos voltar no tempo (ainda não!) e ficamos emperrados, não conseguimos ir adiante. Às vezes até saímos do lugar, mas são dois passos para frente e um para trás.
Eu queria, só por hoje, não sentir essa dor para a qual não existe analgésico, nem cura. Mas o máximo que é possível fazer é aprender a conviver com ela. E, nossa, como é difícil!
Perder um amor carnal é fácil. Dói igual topada com o dedinho do pé. Você acha que nunca vai passar, mas passa. Pode ser até que deixe uma marquinha, fique inchado um pouquinho, mas passa. Amor carnal é igual a prato predileto. Você jura que não vive sem comer a pizza do seu Pepe, até que descobre aquela empadinha de camarão da dona Jurema. No começo você frequenta os dois e fica assim, tentando se decidir. E quando acha que não é capaz de escolher entre um e outro, boom! Eis que abre logo ali na esquina, o pastel de catupiry do Betão. Aí ferrou, você larga tudo e cai de boca. Pois é, amor carnal é assim, volúvel demais.
O que dói mesmo, e não só no corpo, mas na alma também, é perder amor fraterno. Este, sim, é paulada na moleira. Porque amor fraterno é como um quebra-cabeça que você vai construindo ao longo da vida. Uma peça de cada vez... tá todo mundo lá, pai, mãe (biológicos ou do coração), irmãos (de sangue ou de fé), amigos... ah, os amigos! Estes seres que dão sentido à nossa vida. E, assim, formamos uma linda imagem, uma paisagem feita de laços indestrutíveis. Aí, você perde uma peça. Que coisa feia que fica. O cenário está lá, mas tem um espaço vago. Quanto menor o seu quebra-cabeça, maior o dano. Mas seja qual for o tamanho, a paisagem estará comprometida para sempre com a peça que se perdeu. Você até enxerga o todo e acha que dá para levar assim mesmo, mas quando fixa o olhar naquele espacinho vazio, como dói.
Dói porque você sabe que tinha uma peça ali. Você sabe o formato dela, sabe a cor, sabe exatamente que parte ela complementava, e nunca vai esquecer dela, porque mesmo que você não tenha completado o seu quebra-cabeça ainda, nenhuma outra peça vai preencher aquele vazio, ele é único e somente uma peça encaixa ali e é exatamente aquela que você perdeu...
terça-feira, 26 de julho de 2011
Remorso
No momento em que ouviu alguém chamá-lo, virou-se e viu sua mãe. Ela usava um vestido azul desbotado e um avental velho. Tinha o cabelo maltratado e calçava chinelos muito gastos, maiores que seus pés. No sorriso sincero lhe faltavam alguns dentes. Por um instante, ele quis correr até ela, mas sentiu uma enorme dor no peito que o impedia de se mexer. Há muito que não tinha notícias dela, nem dos irmãos mais novos. Tentou fingir que não a vira, nem ouvira, mas assim que lhe dera as costas, sua voz soou alto: – Chiquinho, meu filho, vem comigo, mamãe está aqui...
Como ela podia chamá-lo de Chiquinho na frente de todo mundo? – Fez um esforço para olhar em volta e só viu pessoas desconhecidas. Ele não entendia como sua mãe o achara ali, depois de tanto tempo e tão longe de casa. Havia ido embora aos 17 anos, levando consigo o relógio de ouro do pai, que tinha sido ganho numa aposta muito justa quando encontrou o Coronel Viriato na estrada, pronto a dar o tiro de misericórdia em um touro premiado que estava atolado na lama do rio. Quando seu pai se ofereceu para ajudar, o Coronel riu, era franzino demais, não teria força para tirar o bicho dali, melhor era acabar logo com aquilo metendo uma bala certeira entre os olhos do animal. Mas seu pai não desanimou e pediu ao Coronel que lhe desse uma chance e se ele não conseguisse, então, que o animal fosse morto. Mas o Coronel gostava de jogo e transformou aquilo numa aposta. – Se seu pai conseguisse tirar o touro do rio, sozinho, ele lhe arrumaria um pedacinho de chão e, também, o relógio que trazia no pulso; mas se perdesse, teria que trabalhar seis meses nas plantações do Coronel sem ganhar um tostão. – Ele lembrava que o pai sempre tremia quando contava essa parte da história, falando do frio que sentira na espinha só de imaginar se não tivesse conseguido cumprir o prometido. A mãe estava de barriga e ele, o mais velho, já tinha dois irmãos e uma irmã. – Como é que o pai iria fazer se tivesse que trabalhar seis meses de graça? – O problema é que seu pai só pensava no pedaço de chão que a aposta valia, pois isso era sonho que poucos homens como ele realizavam antes de morrer.
Dizem que o animal conhece o que se passa no coração de um homem e que, às vezes, age em nome da Providência, por isso, deixou que seu pai o retirasse do rio sem lhe fazer mal algum. Os peões ficaram de queixo caído e de cara murcha diante do feito. E sendo o Coronel um homem de palavra, na mesma hora, tirou o relógio do pulso. Seu pai – que nem sabia ver as horas – não queria receber o relógio, só desejava o tal pedacinho de chão. Mas o Coronel insistiu e disse que ele guardasse para uma necessidade futura, que aquilo era peça de muito valor e poderia ser útil para a educação dos filhos.
Ele estava tão envolvido nessa lembrança que mal percebeu duas ou três vozes que o chamavam com persistência. Sua mãe permanecia ali, sorrindo gentilmente a espera de um abraço. Era impossível olhá-la nos olhos depois de 40 anos. Ele partira uma semana depois do pai morrer de tuberculose. A mãe fizera uma trouxa de pano de algodão cru, que estava sendo guardado para o enxoval da irmã caçula, mas como ela só tinha oito anos, com certeza, ele já estaria de volta até o dia do casório, trazendo presentes e um futuro melhor para todos. Na trouxa improvisada ia um pouco de farinha, um pedaço de charque, três bananas e alguma água barrenta para beber no caminho. Roupa, só a do corpo, e embrulhado num lenço encardido, ia o relógio de ouro do Coronel Viriato. Depois de duas semanas de carona em caminhão e de dormidas ao relento, rezando para não ser roubado, chegou ao destino. Com muita dificuldade conseguiu encontrar o amigo do Coronel, homem de boa índole, que o ajudou a obter um preço justo pelo relógio. Com o dinheiro, ele pagou sete meses de aluguel adiantados em uma vaga para rapazes. Vendo que era inteligente e esforçado, o amigo do Coronel lhe deu um emprego de contínuo na empresa da qual era dono. Aos poucos, foi se deixando seduzir pelas roupas que os homens usavam e pelos cabelos sedosos das mulheres. Tudo era tão diferente daquela terra miserável de onde viera. Decidiu estudar a noite e conseguiu uma vaga de Auxiliar Administrativo em outra empresa, onde ninguém sabia nada sobre sua vida. Logo, deixou definitivamente de ser Chiquinho e se tornou Francisco Ramos Silva, filho de um comerciante do interior e de uma professora primária. Hoje, ele era um rico executivo e sua história havia se tornado tão real, que ele não poderia mais voltar atrás.
E lá estava ele, de um lado, continuavam a lhe chamar com insistência: – Ei, ei, fica com a gente! – do outro, sua mãe lhe esperava pacientemente, com o mesmo vestido azul do dia em que partiu: – Chiquinho, meu filho, me dá um abraço. Eu senti tanto a sua falta. – ele pensou em correr para os braços dela, mas o remorso o impedia. Não sentia mais vergonha da mãe humilde e pobre, pelo contrário, sentia vergonha de si mesmo e da forma como a abandonara.
De repente, um gosto estranho lhe surgiu à boca e um líquido espesso e quente lhe saiu em jatos da garganta. Sentindo muito medo de perder sua mãe mais uma vez, esqueceu tudo e todos e correu a se atirar em seus braços: – Mãezinha, me perdoa, eu não fiz por mal, por favor, me perdoa! – e agarrados um ao outro, ela respondeu docemente: – Claro que eu o perdoo, está tudo bem agora, eu vim te buscar, vamos.
E, assim, naquele primeiro dia de verão, as pessoas começaram a se afastar, fugindo da chuva forte e repentina que caía lavando o sangue daquele corpo estendido no chão que dera seu último suspiro em meio a palavras mal pronunciadas que soavam como “perdão”, “mão” ou qualquer outra coisa parecida com isso. Era só mais um atropelamento por imprudência do pedestre. Não havia mais nada a ser feito e cada um seguiu seu rumo, procurando abrigo da chuva, enquanto Francisco Ramos Silva tinha a carteira, o celular e os sapatos saqueados por dois meninos de rua e seu corpo aguardava a remoção.
Como ela podia chamá-lo de Chiquinho na frente de todo mundo? – Fez um esforço para olhar em volta e só viu pessoas desconhecidas. Ele não entendia como sua mãe o achara ali, depois de tanto tempo e tão longe de casa. Havia ido embora aos 17 anos, levando consigo o relógio de ouro do pai, que tinha sido ganho numa aposta muito justa quando encontrou o Coronel Viriato na estrada, pronto a dar o tiro de misericórdia em um touro premiado que estava atolado na lama do rio. Quando seu pai se ofereceu para ajudar, o Coronel riu, era franzino demais, não teria força para tirar o bicho dali, melhor era acabar logo com aquilo metendo uma bala certeira entre os olhos do animal. Mas seu pai não desanimou e pediu ao Coronel que lhe desse uma chance e se ele não conseguisse, então, que o animal fosse morto. Mas o Coronel gostava de jogo e transformou aquilo numa aposta. – Se seu pai conseguisse tirar o touro do rio, sozinho, ele lhe arrumaria um pedacinho de chão e, também, o relógio que trazia no pulso; mas se perdesse, teria que trabalhar seis meses nas plantações do Coronel sem ganhar um tostão. – Ele lembrava que o pai sempre tremia quando contava essa parte da história, falando do frio que sentira na espinha só de imaginar se não tivesse conseguido cumprir o prometido. A mãe estava de barriga e ele, o mais velho, já tinha dois irmãos e uma irmã. – Como é que o pai iria fazer se tivesse que trabalhar seis meses de graça? – O problema é que seu pai só pensava no pedaço de chão que a aposta valia, pois isso era sonho que poucos homens como ele realizavam antes de morrer.
Dizem que o animal conhece o que se passa no coração de um homem e que, às vezes, age em nome da Providência, por isso, deixou que seu pai o retirasse do rio sem lhe fazer mal algum. Os peões ficaram de queixo caído e de cara murcha diante do feito. E sendo o Coronel um homem de palavra, na mesma hora, tirou o relógio do pulso. Seu pai – que nem sabia ver as horas – não queria receber o relógio, só desejava o tal pedacinho de chão. Mas o Coronel insistiu e disse que ele guardasse para uma necessidade futura, que aquilo era peça de muito valor e poderia ser útil para a educação dos filhos.
Ele estava tão envolvido nessa lembrança que mal percebeu duas ou três vozes que o chamavam com persistência. Sua mãe permanecia ali, sorrindo gentilmente a espera de um abraço. Era impossível olhá-la nos olhos depois de 40 anos. Ele partira uma semana depois do pai morrer de tuberculose. A mãe fizera uma trouxa de pano de algodão cru, que estava sendo guardado para o enxoval da irmã caçula, mas como ela só tinha oito anos, com certeza, ele já estaria de volta até o dia do casório, trazendo presentes e um futuro melhor para todos. Na trouxa improvisada ia um pouco de farinha, um pedaço de charque, três bananas e alguma água barrenta para beber no caminho. Roupa, só a do corpo, e embrulhado num lenço encardido, ia o relógio de ouro do Coronel Viriato. Depois de duas semanas de carona em caminhão e de dormidas ao relento, rezando para não ser roubado, chegou ao destino. Com muita dificuldade conseguiu encontrar o amigo do Coronel, homem de boa índole, que o ajudou a obter um preço justo pelo relógio. Com o dinheiro, ele pagou sete meses de aluguel adiantados em uma vaga para rapazes. Vendo que era inteligente e esforçado, o amigo do Coronel lhe deu um emprego de contínuo na empresa da qual era dono. Aos poucos, foi se deixando seduzir pelas roupas que os homens usavam e pelos cabelos sedosos das mulheres. Tudo era tão diferente daquela terra miserável de onde viera. Decidiu estudar a noite e conseguiu uma vaga de Auxiliar Administrativo em outra empresa, onde ninguém sabia nada sobre sua vida. Logo, deixou definitivamente de ser Chiquinho e se tornou Francisco Ramos Silva, filho de um comerciante do interior e de uma professora primária. Hoje, ele era um rico executivo e sua história havia se tornado tão real, que ele não poderia mais voltar atrás.
E lá estava ele, de um lado, continuavam a lhe chamar com insistência: – Ei, ei, fica com a gente! – do outro, sua mãe lhe esperava pacientemente, com o mesmo vestido azul do dia em que partiu: – Chiquinho, meu filho, me dá um abraço. Eu senti tanto a sua falta. – ele pensou em correr para os braços dela, mas o remorso o impedia. Não sentia mais vergonha da mãe humilde e pobre, pelo contrário, sentia vergonha de si mesmo e da forma como a abandonara.
De repente, um gosto estranho lhe surgiu à boca e um líquido espesso e quente lhe saiu em jatos da garganta. Sentindo muito medo de perder sua mãe mais uma vez, esqueceu tudo e todos e correu a se atirar em seus braços: – Mãezinha, me perdoa, eu não fiz por mal, por favor, me perdoa! – e agarrados um ao outro, ela respondeu docemente: – Claro que eu o perdoo, está tudo bem agora, eu vim te buscar, vamos.
E, assim, naquele primeiro dia de verão, as pessoas começaram a se afastar, fugindo da chuva forte e repentina que caía lavando o sangue daquele corpo estendido no chão que dera seu último suspiro em meio a palavras mal pronunciadas que soavam como “perdão”, “mão” ou qualquer outra coisa parecida com isso. Era só mais um atropelamento por imprudência do pedestre. Não havia mais nada a ser feito e cada um seguiu seu rumo, procurando abrigo da chuva, enquanto Francisco Ramos Silva tinha a carteira, o celular e os sapatos saqueados por dois meninos de rua e seu corpo aguardava a remoção.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Happy Hour
Depois de quase três meses de muita insistência floreada de cortejos, Romildo já não tinha mais repertório para tentar convencer Clarinha a tomar um chope com ele. A resposta da colega de trabalho era sempre a mesma: - Eu tenho namorado Romildo, não fica bem.
É, ele já estava perdendo as esperanças, não sabia mais o que dizer para driblar a resistência da moça. Criava todas as situações possíveis para ficar a sós com ela no cafezinho da Copa, na máquina de xerox, na saída para o almoço... mas bastava Clarinha perceber que só estavam os dois, que dava um jeito de escapulir.
Até que um dia, Romildo estava conferindo um estoque de canetas novas que havia chegado pela manhã quando percebeu Clarinha em pé ao seu lado. Os olhos vermelhos de quem havia chorado, as mãos nervosas apertando os dedos freneticamente, os cachos mais volumosos do que o normal.
- Aconteceu alguma coisa Clarinha?
Romildo perguntou já se levantando e vendo ali uma oportunidade de ficar mais próximo.
- Você ainda quer sair para tomar aquele chope?
- Quero, mas...
Clarinha não o deixou concluir a frase.
- Então, tem que ser hoje. A gente se encontra neste endereço. – ela tirou um pedaço de papel do bolso do jeans apertado e enfiou-o no bolso da camisa dele. – Eu vou sair às cinco e você sai uns vinte minutos depois. Não quero que ninguém daqui saiba, você entende, né?
Mas Romildo não teve tempo de responder. Clarinha saiu repentinamente, da mesma forma que entrou. Ainda eram dez horas da manhã e ele não conseguia mais se concentrar no trabalho. Passou o dia ensaiando a conversa que teriam, pensando no que dizer para não falar bobagem. Se fizesse tudo direito, talvez até conseguisse dar uns “pegas” na moça.
Quando chegou o fim do expediente, os colegas se despediram e Clarinha saiu junto com eles. Romildo se ofereceu para trancar a loja, assim, ganharia tempo para que ninguém visse que ele e Clarinha tinham planos juntos.
Vinte minutos depois, Romildo pegava o papel no bolso da camisa e ia rumo ao encontro tão desejado com Clarinha. O local era um bar, afastado da área comercial onde trabalhavam, mas que dava para ir a pé. Entrou e viu a moça sentada em uma mesa no canto, sua fisionomia estava tensa e ela arregalou os olhos quando o viu. Levantou-se subitamente, quase derrubando a garrafa d’água que estava sobre a mesa. Foi quando Romildo reparou que havia dois copos cheios. Mal teve tempo de se aproximar dela, um vulto musculoso passou em direção à Clarinha e deu-lhe um beijo na boca, daqueles que dão a impressão que a língua quer resgatar alguma coisa presa na garganta da outra pessoa.
Romildo ficou atônito com aquela cena, não sabia o que fazer. – Que diabos está acontecendo? – ele perguntou a si mesmo.
Ficou parado ali, diante do casal, sem mexer um músculo sequer. O brutamontes que descolara a boca desentupidora de pia dos lábios delicados de Clarinha, percebendo aquela figura estática diante deles, perguntou já em tom de briga:
- Qualé mermão, tá olhando o quê?
Levou meio segundo para que Clarinha sorrise para ele dizendo:
- Rominho, querido, como você vai? – e virando-se para o galalau – Amor, você não vai acreditar, este é meu cabelereiro.
Percebendo a deixa da moça, Romildo transfigurou-se e usando todos os estereotipos que sabia, respondeu com voz afetada:
- Moooonaaaaa, você por aqui?
Dali em diante os três sentaram-se e conversaram por horas. Clarinha contou que estava entrando no bar quando seu namorado Valcyr a segurou pelo braço. Eles haviam brigado na noite anterior e o rapaz inconformado, a esperara na saída do trabalho, seguindo-a até o bar. Não acreditando que ela estivesse ali sozinha, entrou e esperou para ver se não iria aparecer algum marmanjo atrás dela. Chegou até a desconfiar do cabelereiro.
- Sabe Rominho – disse o namorado de Clarinha – eu achei que isso era armação, fiquei meio bolado no início, mas agora tô vendo que você é florzinha mesmo. – e deu um apertão na coxa de Romildo, soltando uma gargalhada que atraiu todos os olhares.
Já passava da meia-noite quando se despediram. Clarinha foi embora com Valcyr e Romildo seguiu em direção ao ponto de ônibus. Não sabia se estava puto, decepcionado ou as duas coisas. – Tanto tempo esperando por este dia e o babaca resolve aparecer para estragar minha chance! E ainda me chama de “florzinha”, fala sério!
E em meio aos pensamentos confusos e revoltados, Romildo entrou no ônibus, mas ao pegar o dinheiro da passagem, um papel caiu do bolso traseiro da sua calça. Pegou-o para ver do que se tratava e ficou boquiaberto com o que estava escrito nele:
- Rô, você é realmente uma flor. Me amarrei na tua. Vou dar um jeito de pegar teu telefone com a Clarinha sem que ela desconfie de nada. Quero te pegar de jeito. Foi amor à primeira vista. Beijos, Valcyr.
É, ele já estava perdendo as esperanças, não sabia mais o que dizer para driblar a resistência da moça. Criava todas as situações possíveis para ficar a sós com ela no cafezinho da Copa, na máquina de xerox, na saída para o almoço... mas bastava Clarinha perceber que só estavam os dois, que dava um jeito de escapulir.
Até que um dia, Romildo estava conferindo um estoque de canetas novas que havia chegado pela manhã quando percebeu Clarinha em pé ao seu lado. Os olhos vermelhos de quem havia chorado, as mãos nervosas apertando os dedos freneticamente, os cachos mais volumosos do que o normal.
- Aconteceu alguma coisa Clarinha?
Romildo perguntou já se levantando e vendo ali uma oportunidade de ficar mais próximo.
- Você ainda quer sair para tomar aquele chope?
- Quero, mas...
Clarinha não o deixou concluir a frase.
- Então, tem que ser hoje. A gente se encontra neste endereço. – ela tirou um pedaço de papel do bolso do jeans apertado e enfiou-o no bolso da camisa dele. – Eu vou sair às cinco e você sai uns vinte minutos depois. Não quero que ninguém daqui saiba, você entende, né?
Mas Romildo não teve tempo de responder. Clarinha saiu repentinamente, da mesma forma que entrou. Ainda eram dez horas da manhã e ele não conseguia mais se concentrar no trabalho. Passou o dia ensaiando a conversa que teriam, pensando no que dizer para não falar bobagem. Se fizesse tudo direito, talvez até conseguisse dar uns “pegas” na moça.
Quando chegou o fim do expediente, os colegas se despediram e Clarinha saiu junto com eles. Romildo se ofereceu para trancar a loja, assim, ganharia tempo para que ninguém visse que ele e Clarinha tinham planos juntos.
Vinte minutos depois, Romildo pegava o papel no bolso da camisa e ia rumo ao encontro tão desejado com Clarinha. O local era um bar, afastado da área comercial onde trabalhavam, mas que dava para ir a pé. Entrou e viu a moça sentada em uma mesa no canto, sua fisionomia estava tensa e ela arregalou os olhos quando o viu. Levantou-se subitamente, quase derrubando a garrafa d’água que estava sobre a mesa. Foi quando Romildo reparou que havia dois copos cheios. Mal teve tempo de se aproximar dela, um vulto musculoso passou em direção à Clarinha e deu-lhe um beijo na boca, daqueles que dão a impressão que a língua quer resgatar alguma coisa presa na garganta da outra pessoa.
Romildo ficou atônito com aquela cena, não sabia o que fazer. – Que diabos está acontecendo? – ele perguntou a si mesmo.
Ficou parado ali, diante do casal, sem mexer um músculo sequer. O brutamontes que descolara a boca desentupidora de pia dos lábios delicados de Clarinha, percebendo aquela figura estática diante deles, perguntou já em tom de briga:
- Qualé mermão, tá olhando o quê?
Levou meio segundo para que Clarinha sorrise para ele dizendo:
- Rominho, querido, como você vai? – e virando-se para o galalau – Amor, você não vai acreditar, este é meu cabelereiro.
Percebendo a deixa da moça, Romildo transfigurou-se e usando todos os estereotipos que sabia, respondeu com voz afetada:
- Moooonaaaaa, você por aqui?
Dali em diante os três sentaram-se e conversaram por horas. Clarinha contou que estava entrando no bar quando seu namorado Valcyr a segurou pelo braço. Eles haviam brigado na noite anterior e o rapaz inconformado, a esperara na saída do trabalho, seguindo-a até o bar. Não acreditando que ela estivesse ali sozinha, entrou e esperou para ver se não iria aparecer algum marmanjo atrás dela. Chegou até a desconfiar do cabelereiro.
- Sabe Rominho – disse o namorado de Clarinha – eu achei que isso era armação, fiquei meio bolado no início, mas agora tô vendo que você é florzinha mesmo. – e deu um apertão na coxa de Romildo, soltando uma gargalhada que atraiu todos os olhares.
Já passava da meia-noite quando se despediram. Clarinha foi embora com Valcyr e Romildo seguiu em direção ao ponto de ônibus. Não sabia se estava puto, decepcionado ou as duas coisas. – Tanto tempo esperando por este dia e o babaca resolve aparecer para estragar minha chance! E ainda me chama de “florzinha”, fala sério!
E em meio aos pensamentos confusos e revoltados, Romildo entrou no ônibus, mas ao pegar o dinheiro da passagem, um papel caiu do bolso traseiro da sua calça. Pegou-o para ver do que se tratava e ficou boquiaberto com o que estava escrito nele:
- Rô, você é realmente uma flor. Me amarrei na tua. Vou dar um jeito de pegar teu telefone com a Clarinha sem que ela desconfie de nada. Quero te pegar de jeito. Foi amor à primeira vista. Beijos, Valcyr.
sábado, 16 de julho de 2011
Seu José
JOSÉ Rezende Ferreira nasceu em 25 de outubro de 1936. Brasileiro, natural do Rio de Janeiro, filho de...
Seria assim o início de uma biografia tradicional, no entanto, não acho que deveria escrever apenas sobre aquilo que é possível encontrar em seus documentos. "Seu José", como eu o chamava, foi meu sogro por 24 anos e tenho muito mais coisas a falar sobre ele do que simplesmente seus dados civis.
Meu primeiro contato com seu José foi por meio da Igreja Bom Jesus da Penha, em 1986, onde ele e dona Dilma faziam parte do ECC (Encontro de Casais com Cristo) e seus dois filhos, Ricardo e Rogério, frequentavam o JUSA (Juventude Semente do Amanhã), do qual eu também fazia parte.
Em 7 de fevereiro de 1987, eu e Ricardo começamos a namorar, o que me levou a frequentar sua casa e aumentar meu convívio com ele.
Seu José sempre foi um homem bom, que se deixava levar muito mais pela emoção do que pela razão. Era uma pessoa totalmente transparente e não havia quem não gostasse dele. De todas as coisas que me lembro, há aquelas que, para mim, se tornaram mais marcantes: sua paixão por futebol, sua memória, suas histórias e sua personalidade ativa.
Como típico descendente de português – seu pai veio de Portugal para o Brasil de navio aos 11 anos – torcia pelo Vasco da Gama e era capaz de dizer a escalação completa do time do coração em vários campeonatos, assim como, de todas as formações da seleção brasileira em Copas mundias. Era surpreendente. Além disso, sendo um apaixonado por esse esporte de origem inglesa, assistia a qualquer jogo que estivesse passando na TV, mesmo que a gente chegasse a duvidar que alguns times pudessem existir, tamanha inexpressão que tinham. Obviamente, assinava o pacote completo do brasileirão, então, quase sempre que eu chegava lá, seu José estava diante da TV, muitas vezes com o radinho de pilha no ouvido, torcendo, reclamando e fazendo todos participarem dos seus comentários. Seu tom de voz era sempre carregado de emoção, e se eu não soubesse de sua origem portuguesa, poderia jurar que seus ascendentes eram italianos.
Para sua felicidade, conseguiu fazer de seus dois filhos, torcedores vascaínos.
Para sua tristeza, seus filhos não tiveram o mesmo sucesso. Um neto é botafoguense (com este eu faço a mea culpa) e o outro é flamenguista.
Mas bom mesmo era ir com ele ao Maracanã vendo-o vestir a camisa do Vasco que eu e Ricardo o havíamos presenteado.
Seu José adorava contar histórias, tanto aquelas vividas por ele, quanto as dos amigos. E impressionava a riqueza de detalhes com a qual ilustrava a narração. Nunca se esquecia de um nome ou de uma data sequer. Ele fazia questão de dizer o dia, o mês e o ano dos fatos ocorridos. Ia a todos os aniversários, enterros, casamentos e qualquer outro evento para o qual fosse convidado. Nunca conheci uma pessoa tão pontual. Era sempre o primeiro a se aprontar para sair, ficava ansioso com a hora e, muitas vezes, tirava o carro da garagem 40 minutos antes de qualquer um terminar de se arrumar.
Quando Ricardo levou o escritório da Visar para a casa do pai, seu José fez curso de informática, aprendeu a “mexer no computador”, passou a ter conta de e-mail e cuidar da parte financeira e administrativa da empresa. Era organizado e disciplinado. Agora, vemos isso claramente, pois todos os documentos estão organizados em pastas identificadas e encontramos tudo com muita facilidade.
Eu poderia continuar a falar de seu José e a recontar seus casos por páginas e páginas, mas não seria justa, primeiro, porque não daria a mesma ênfase que ele e jamais me lembraria das datas e nomes como ele e, segundo, correria o risco de tornar este texto cansativo (se já não estou), tirando do leitor a oportunidade de conhecer um pouco dessa pessoa humana que ele foi. Mas preciso, contudo, contar a principal história de sua vida, que foi o próprio fato de ter vivido até os 74 anos.
Há pouco mais de 22 anos, eu estava grávida do Erik quando seu José teve um aneurisma de aorta. Ele estava internado no Hospital Pedro Ernesto e os médicos, julgando-o inconsciente, conversaram entre si que ele só teria duas semans de vida, no máximo. O que os médicos não aprendem na escola, é que a fé também cura. Seu José estava desacordado para eles, mas sua mente estava ativa, lúcida como sempre foi, e ele ouviu a conversa. Naquele momento, ele direcionou seu pensamento à Nossa Senhora e prometeu que, se visse o neto nascer, rezaria o terço todos os dias de sua vida.
A partir daí, ele se recuperou e voltou para casa cheio de recomendações médicas, dentre elas, o fato de que nunca mais poderia dirigir. Bem, o Escort perua estacionado na garagem desconhece isso, porque foi muito utilizado. Ah, sim, nossas noites de buraco acabaram, porque ele realmente levava o jogo muito a sério, então, resolvemos que era melhor poupá-lo de emoções fortes.
Fora isso ele passeou, trabalhou e se manteve ativo sempre, sem nunca mais precisar se internar, mas era escravo dos remédios, esse foi o preço, uma bateria deles todos os dias. Mas todos os dias ele também rezava o seu terço, sem faltar com a promessa um dia sequer, chovesse ou fizesse sol, estivesse onde estivesse.
No Domingo, dia 10 de julho de 2011, ele almoçou com o Erik que completara 22 anos no Sábado. Estavam presentes dona Dilma, Ricardo, Rogério, a nora Claudia e o outro neto, Thiago José, uma homenagem que o Rogério fez dando seu nome ao filho. Na Quarta-feira, dia 13 de julho, ele foi ao aniversário de uma das irmãs e compartilhou, mais uma vez, suas histórias, rodeado pelos demais irmãos, sobrinhos e amigos. Mas o momento chegou... ao voltar para casa, Nossa Senhora pousou a mão sobre seu ombro e lhe disse “Meu filho, venha rezar o seu terço ao meu lado, porque nesses 22 anos, ninguém o rezou com tanta fé e disciplina quanto você. Preciso de alguém aqui em cima que ensine minha oração às novas gerações”. Então, com o semblante sereno e um leve sorriso nos lábios, seu José, homem ativo e devoto, não foi capaz de dizer não. Entregou seu coração e sua alma a Deus, que o levou sem sofrimento.
É difícil descrever a dor dos que ficaram, pois sempre queremos um pouco mais daquela pessoa conosco, mas há a certeza de que ele foi recebido pela própria Mãe, com muita luz e amor. Nos despedimos dele com uma saudade que irá perdurar até o momento em que chegar a nossa vez, e lá estará seu José a nos receber, com tudo organizado e cheio de novas histórias para contar.
Até breve seu José.
Seu José, para sempre exemplo de fé.
Seria assim o início de uma biografia tradicional, no entanto, não acho que deveria escrever apenas sobre aquilo que é possível encontrar em seus documentos. "Seu José", como eu o chamava, foi meu sogro por 24 anos e tenho muito mais coisas a falar sobre ele do que simplesmente seus dados civis.
Meu primeiro contato com seu José foi por meio da Igreja Bom Jesus da Penha, em 1986, onde ele e dona Dilma faziam parte do ECC (Encontro de Casais com Cristo) e seus dois filhos, Ricardo e Rogério, frequentavam o JUSA (Juventude Semente do Amanhã), do qual eu também fazia parte.
Em 7 de fevereiro de 1987, eu e Ricardo começamos a namorar, o que me levou a frequentar sua casa e aumentar meu convívio com ele.
Seu José sempre foi um homem bom, que se deixava levar muito mais pela emoção do que pela razão. Era uma pessoa totalmente transparente e não havia quem não gostasse dele. De todas as coisas que me lembro, há aquelas que, para mim, se tornaram mais marcantes: sua paixão por futebol, sua memória, suas histórias e sua personalidade ativa.
Como típico descendente de português – seu pai veio de Portugal para o Brasil de navio aos 11 anos – torcia pelo Vasco da Gama e era capaz de dizer a escalação completa do time do coração em vários campeonatos, assim como, de todas as formações da seleção brasileira em Copas mundias. Era surpreendente. Além disso, sendo um apaixonado por esse esporte de origem inglesa, assistia a qualquer jogo que estivesse passando na TV, mesmo que a gente chegasse a duvidar que alguns times pudessem existir, tamanha inexpressão que tinham. Obviamente, assinava o pacote completo do brasileirão, então, quase sempre que eu chegava lá, seu José estava diante da TV, muitas vezes com o radinho de pilha no ouvido, torcendo, reclamando e fazendo todos participarem dos seus comentários. Seu tom de voz era sempre carregado de emoção, e se eu não soubesse de sua origem portuguesa, poderia jurar que seus ascendentes eram italianos.
Para sua felicidade, conseguiu fazer de seus dois filhos, torcedores vascaínos.
Para sua tristeza, seus filhos não tiveram o mesmo sucesso. Um neto é botafoguense (com este eu faço a mea culpa) e o outro é flamenguista.
Mas bom mesmo era ir com ele ao Maracanã vendo-o vestir a camisa do Vasco que eu e Ricardo o havíamos presenteado.
Seu José adorava contar histórias, tanto aquelas vividas por ele, quanto as dos amigos. E impressionava a riqueza de detalhes com a qual ilustrava a narração. Nunca se esquecia de um nome ou de uma data sequer. Ele fazia questão de dizer o dia, o mês e o ano dos fatos ocorridos. Ia a todos os aniversários, enterros, casamentos e qualquer outro evento para o qual fosse convidado. Nunca conheci uma pessoa tão pontual. Era sempre o primeiro a se aprontar para sair, ficava ansioso com a hora e, muitas vezes, tirava o carro da garagem 40 minutos antes de qualquer um terminar de se arrumar.
Quando Ricardo levou o escritório da Visar para a casa do pai, seu José fez curso de informática, aprendeu a “mexer no computador”, passou a ter conta de e-mail e cuidar da parte financeira e administrativa da empresa. Era organizado e disciplinado. Agora, vemos isso claramente, pois todos os documentos estão organizados em pastas identificadas e encontramos tudo com muita facilidade.
Eu poderia continuar a falar de seu José e a recontar seus casos por páginas e páginas, mas não seria justa, primeiro, porque não daria a mesma ênfase que ele e jamais me lembraria das datas e nomes como ele e, segundo, correria o risco de tornar este texto cansativo (se já não estou), tirando do leitor a oportunidade de conhecer um pouco dessa pessoa humana que ele foi. Mas preciso, contudo, contar a principal história de sua vida, que foi o próprio fato de ter vivido até os 74 anos.
Há pouco mais de 22 anos, eu estava grávida do Erik quando seu José teve um aneurisma de aorta. Ele estava internado no Hospital Pedro Ernesto e os médicos, julgando-o inconsciente, conversaram entre si que ele só teria duas semans de vida, no máximo. O que os médicos não aprendem na escola, é que a fé também cura. Seu José estava desacordado para eles, mas sua mente estava ativa, lúcida como sempre foi, e ele ouviu a conversa. Naquele momento, ele direcionou seu pensamento à Nossa Senhora e prometeu que, se visse o neto nascer, rezaria o terço todos os dias de sua vida.
A partir daí, ele se recuperou e voltou para casa cheio de recomendações médicas, dentre elas, o fato de que nunca mais poderia dirigir. Bem, o Escort perua estacionado na garagem desconhece isso, porque foi muito utilizado. Ah, sim, nossas noites de buraco acabaram, porque ele realmente levava o jogo muito a sério, então, resolvemos que era melhor poupá-lo de emoções fortes.
Fora isso ele passeou, trabalhou e se manteve ativo sempre, sem nunca mais precisar se internar, mas era escravo dos remédios, esse foi o preço, uma bateria deles todos os dias. Mas todos os dias ele também rezava o seu terço, sem faltar com a promessa um dia sequer, chovesse ou fizesse sol, estivesse onde estivesse.
No Domingo, dia 10 de julho de 2011, ele almoçou com o Erik que completara 22 anos no Sábado. Estavam presentes dona Dilma, Ricardo, Rogério, a nora Claudia e o outro neto, Thiago José, uma homenagem que o Rogério fez dando seu nome ao filho. Na Quarta-feira, dia 13 de julho, ele foi ao aniversário de uma das irmãs e compartilhou, mais uma vez, suas histórias, rodeado pelos demais irmãos, sobrinhos e amigos. Mas o momento chegou... ao voltar para casa, Nossa Senhora pousou a mão sobre seu ombro e lhe disse “Meu filho, venha rezar o seu terço ao meu lado, porque nesses 22 anos, ninguém o rezou com tanta fé e disciplina quanto você. Preciso de alguém aqui em cima que ensine minha oração às novas gerações”. Então, com o semblante sereno e um leve sorriso nos lábios, seu José, homem ativo e devoto, não foi capaz de dizer não. Entregou seu coração e sua alma a Deus, que o levou sem sofrimento.
É difícil descrever a dor dos que ficaram, pois sempre queremos um pouco mais daquela pessoa conosco, mas há a certeza de que ele foi recebido pela própria Mãe, com muita luz e amor. Nos despedimos dele com uma saudade que irá perdurar até o momento em que chegar a nossa vez, e lá estará seu José a nos receber, com tudo organizado e cheio de novas histórias para contar.
Até breve seu José.
Seu José, para sempre exemplo de fé.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Por que eu, por que isso, por que agora? Guia de percepção consciente.
Resenha do livro:
A autora americana Robin Norwood ficou mundialmente conhecida como psicoterapeuta especializada em dependência emocional após escrever, na década de 80, o livro Mulheres que amam demais, "bíblia" orientadora do grupo de apoio de mesmo nome, cuja sigla no Brasil é MADA, e que utiliza o mesmo formato dos Alcoólicos Anônimos.
O que poucos sabem sobre ela é que alguns anos depois desse estrondoso sucesso, ela mesma percebeu que ainda não estava "curada" e que suas ações começavam a contradizer seu discurso de mulher autossuficiente que havia superado o vício de relacionamentos fracassados e que sabia o porquê do problema de cada paciente que ia ao seu consultório.
Não suportando a pressão de ter que representar 24 horas por dia o personagem que ela mesmo criara e no qual acreditara por longo tempo, Norwood sucumbiu a uma crise nervosa, retirando-se do convívio social por anos, buscando um significado para tudo que havia feito até então.
Por que eu, por que isso, por que agora? é o resultado dessa busca, onde a autora começa a encontrar as respostas para suas questões no mundo espiritual. Não desmerecendo todo o seu trabaalho anterior, Norwood apenas o torna mais "humano" à medida que o espiritualiza. Agora, adepta à crença de que o homem possui uma alma imortal e da reencarnação como ferramenta de evolução do ser, ela busca o significado do sofrimento não apenas nos acontecimentos traumáticos e dolorosos da infância, mas na necessidade do aprendizado através dessas vivências que, muito provavelmente, foram originadas em vidas passadas.
Para quem leu seu primeiro livro e não crê que o homem possua um espírito eterno, Por que eu, por que isso, por que agora? pode fazer parecer que a autora simplesmente "surtou", uma vez que ela leva todo o empirismo de seu trabalho, aplicado em anos de experiência profissional, para as terapias alternativas como quiromancia, tarô, astrologia, regressão e outros, ainda vistos com desconfiança pela ciência acadêmica e pela sociedade.
No entanto, para quem é adepto de alguma crença espiritual, mesmo que não concorde com todas as técnicas utilizadas por Norwood, este livro tem um papel importante para aqueles que estejam passando por algum momento de dificuldade que envolva dor e sofrimento. Apesar de não trazer nenhum conceito diferente do que já existe na literatura espírita (ou espiritualista) de base, onde é até mais explorado, Por que eu, por que isso, por que agora? tem a vantagem de reunir o mesmo tema em uma única publicação, ampliando sua abordagem além do Espiritismo ortodoxo (erroneamente chamado de Kardecismo), crescente no Brasil e que, ao meu ver, descaracteriza o movimento que preza pelo conhecimento, amor cristão e caridade acima de qualquer radicalismo conceitual.
Mas, como este texto se propõe a ser uma resenha da publicação e não uma discussão moral sobre os rumos do Espiritismo no Brasil, transcrevo abaixo o sumário do livro e recomendo-o apenas a quem já está familiarizado com os conceitos espiritualistas, caso contrário, o leitor poderá estender um olhar de desconfiança e até mesmo sarcástico sobre uma obra que foi escrita com amor, fé e crença numa Força Superior, num Deus amoroso... sentimentos que não devem ser desmerecidos apenas porque divergem daquilo que o leitor acredita.
SUMÁRIO
Agradecimentos, 7
Apresentação, 13
1. Por que isso está acontecendo comigo?, 23
2. O que o meu corpo está procurando me dizer?, 40
3. Será que existe um quadro maior que eu não estou vendo?, 51
4. Qual é a finalidade da dor?, 74
5. Por que os meus relacionamentos são tão difíceis?, 95
6. Como fui acabar tendo estes pais?, 117
7. Para onde estou indo e quando chegarei lá, 135
8. Como posso ajudar na minha cura e na dos outros?, 158
Posfácio, 181
Leitura recomendada, 185
Norwood, Robin. Por que eu, por que isso, por que agora? guia de percepção consciente. São Paulo: Siciliano, 1995. 186 p.
Antes que alguém me peça, informo que este livro não está disponível para empréstimo, pois não empresto livros fora de catálogo. No entanto, é possível encontrá-lo nos sebos da Estante Virtual. No momento (consulta feita às 21h de 13/07/2011), há oito ofertas com preços entre R$10,50 e R$38,00.
Comprei meu exemplar há dois meses por R$16,00 (valor do livro + frete).
A autora americana Robin Norwood ficou mundialmente conhecida como psicoterapeuta especializada em dependência emocional após escrever, na década de 80, o livro Mulheres que amam demais, "bíblia" orientadora do grupo de apoio de mesmo nome, cuja sigla no Brasil é MADA, e que utiliza o mesmo formato dos Alcoólicos Anônimos.
O que poucos sabem sobre ela é que alguns anos depois desse estrondoso sucesso, ela mesma percebeu que ainda não estava "curada" e que suas ações começavam a contradizer seu discurso de mulher autossuficiente que havia superado o vício de relacionamentos fracassados e que sabia o porquê do problema de cada paciente que ia ao seu consultório.
Não suportando a pressão de ter que representar 24 horas por dia o personagem que ela mesmo criara e no qual acreditara por longo tempo, Norwood sucumbiu a uma crise nervosa, retirando-se do convívio social por anos, buscando um significado para tudo que havia feito até então.
Por que eu, por que isso, por que agora? é o resultado dessa busca, onde a autora começa a encontrar as respostas para suas questões no mundo espiritual. Não desmerecendo todo o seu trabaalho anterior, Norwood apenas o torna mais "humano" à medida que o espiritualiza. Agora, adepta à crença de que o homem possui uma alma imortal e da reencarnação como ferramenta de evolução do ser, ela busca o significado do sofrimento não apenas nos acontecimentos traumáticos e dolorosos da infância, mas na necessidade do aprendizado através dessas vivências que, muito provavelmente, foram originadas em vidas passadas.
Para quem leu seu primeiro livro e não crê que o homem possua um espírito eterno, Por que eu, por que isso, por que agora? pode fazer parecer que a autora simplesmente "surtou", uma vez que ela leva todo o empirismo de seu trabalho, aplicado em anos de experiência profissional, para as terapias alternativas como quiromancia, tarô, astrologia, regressão e outros, ainda vistos com desconfiança pela ciência acadêmica e pela sociedade.
No entanto, para quem é adepto de alguma crença espiritual, mesmo que não concorde com todas as técnicas utilizadas por Norwood, este livro tem um papel importante para aqueles que estejam passando por algum momento de dificuldade que envolva dor e sofrimento. Apesar de não trazer nenhum conceito diferente do que já existe na literatura espírita (ou espiritualista) de base, onde é até mais explorado, Por que eu, por que isso, por que agora? tem a vantagem de reunir o mesmo tema em uma única publicação, ampliando sua abordagem além do Espiritismo ortodoxo (erroneamente chamado de Kardecismo), crescente no Brasil e que, ao meu ver, descaracteriza o movimento que preza pelo conhecimento, amor cristão e caridade acima de qualquer radicalismo conceitual.
Mas, como este texto se propõe a ser uma resenha da publicação e não uma discussão moral sobre os rumos do Espiritismo no Brasil, transcrevo abaixo o sumário do livro e recomendo-o apenas a quem já está familiarizado com os conceitos espiritualistas, caso contrário, o leitor poderá estender um olhar de desconfiança e até mesmo sarcástico sobre uma obra que foi escrita com amor, fé e crença numa Força Superior, num Deus amoroso... sentimentos que não devem ser desmerecidos apenas porque divergem daquilo que o leitor acredita.
SUMÁRIO
Agradecimentos, 7
Apresentação, 13
1. Por que isso está acontecendo comigo?, 23
2. O que o meu corpo está procurando me dizer?, 40
3. Será que existe um quadro maior que eu não estou vendo?, 51
4. Qual é a finalidade da dor?, 74
5. Por que os meus relacionamentos são tão difíceis?, 95
6. Como fui acabar tendo estes pais?, 117
7. Para onde estou indo e quando chegarei lá, 135
8. Como posso ajudar na minha cura e na dos outros?, 158
Posfácio, 181
Leitura recomendada, 185
Norwood, Robin. Por que eu, por que isso, por que agora? guia de percepção consciente. São Paulo: Siciliano, 1995. 186 p.
Antes que alguém me peça, informo que este livro não está disponível para empréstimo, pois não empresto livros fora de catálogo. No entanto, é possível encontrá-lo nos sebos da Estante Virtual. No momento (consulta feita às 21h de 13/07/2011), há oito ofertas com preços entre R$10,50 e R$38,00.
Comprei meu exemplar há dois meses por R$16,00 (valor do livro + frete).
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Como te amo!
Amo você por ser meu amor!
Amo até demais,
Amo por mil razões,
Amo por razão nenhuma!
Se me perguntar "por que te quero?"
Quero só por querer.
Se me perguntar "por que te amo?"
Amo só por amar.
Desejo teus lábios junto aos meus
Para que possamos nos corresponder
Com essa paixão ardente que sinto por ti
E esse amor sobrenatural!
Corpo a corpo, colados, nos amando na horizontal
Deixando que os prazeres de nossos corpos
Nos domine por inteiro
Desde a mente até a alma.
Sem brigas, sem confusões
Jamais perdendo a calma.
Porque nossas brigas sempre terminam em amor.
Como é bom ser humilhada por ti e por mais ninguém.
Amo o teu sorriso
Amo a tua voz
Amo até o teu pensamento.
Quando penso em você com raiva de mim
E quando você beija-me à força
Cravando os seus lábios em todo o meu corpo
E cravando-os em minha boca queimando-a como uma brasa
Me enchendo de desejo por ti
Sinto vontade de gritar, num grito infantil.
Como gosto de ser adolescente
E ter você como amante.
Como gosto de saber que você me ama!
Rio de Janeiro, 1983.
Amo até demais,
Amo por mil razões,
Amo por razão nenhuma!
Se me perguntar "por que te quero?"
Quero só por querer.
Se me perguntar "por que te amo?"
Amo só por amar.
Desejo teus lábios junto aos meus
Para que possamos nos corresponder
Com essa paixão ardente que sinto por ti
E esse amor sobrenatural!
Corpo a corpo, colados, nos amando na horizontal
Deixando que os prazeres de nossos corpos
Nos domine por inteiro
Desde a mente até a alma.
Sem brigas, sem confusões
Jamais perdendo a calma.
Porque nossas brigas sempre terminam em amor.
Como é bom ser humilhada por ti e por mais ninguém.
Amo o teu sorriso
Amo a tua voz
Amo até o teu pensamento.
Quando penso em você com raiva de mim
E quando você beija-me à força
Cravando os seus lábios em todo o meu corpo
E cravando-os em minha boca queimando-a como uma brasa
Me enchendo de desejo por ti
Sinto vontade de gritar, num grito infantil.
Como gosto de ser adolescente
E ter você como amante.
Como gosto de saber que você me ama!
Rio de Janeiro, 1983.
O amor
O amor é que faz brotar flores no deserto
Que faz os passarinhos cantarem
E faz as pessoas felizes.
Como eu queria saber amar como os pássaros sabem.
Como eu queria interpretar o amor que sinto por você.
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1983.
Que faz os passarinhos cantarem
E faz as pessoas felizes.
Como eu queria saber amar como os pássaros sabem.
Como eu queria interpretar o amor que sinto por você.
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1983.
Só por hoje
Há tempos vejo esta frase: “Só por hoje”.
Ela aparece em nicknames, assinaturas, pensamentos etc. e sempre me perguntei qual seria o seu significado. Até que, há três meses, eu descobri. Na verdade, eu descobri seu significado genérico, mas não de que forma deveria aplicá-la em minha vida.
A questão é que, até ontem, eu ainda não a tinha dentro de mim. Não estava internalizada. Passei o dia no limbo, vagando pelas partes vazias da minha alma que, apesar de não serem muitas, existem o suficiente para causarem incômodo.
Quando a noite já se despedia, dando vez à madrugada fria, eu me deitei e pensei: só por hoje eu gostaria de não pensar nisso, só por hoje eu queria focar exclusivamente em mim.
Foi aí que a ficha caiu. Eu havia encontrado o meu “Só por hoje”! E pensei em um monte deles. Eu tenho muitos vícios mas, um em particular, não só me incomoda, como incomoda outros, além de me colocar em situações não muito confortáveis.
Eu sou uma dependente. Eu sou viciada em pessoas.
Não falo do vício de relacionamentos apenas, não, eu sou viciada em seres humanos. Alguns podem achar isso uma atitude altruísta, mas não é. Como todo vício, ele é danoso, porque ultrapassa todos os limites da razão.
Vícios causam dor e sofrimento. A diferença entre o “vício em pessoas” e os demais é que ele atinge, tanto o viciado, quanto o objeto do vício. Por isso, eu decidi que preciso vasculhar cada espacinho vazio em mim ou que esteja sendo ocupado indevidamente e fazer uma faxina.
No entanto, como “pacotes” costumam ser mais vantajosos do que compras avulsas, ou, pelo menos, mais práticos, resolvi incluir todos os vícios.
Então,
Só por hoje eu não vou fumar,
Só por hoje eu não vou tomar um drink para relaxar, ao invés disso, vou meditar.
Só por hoje eu não vou comer fritura,
Só por hoje eu vou pensar antes de falar, passar e-mail, torpedo ou qualquer outra forma de comunicação que possa me expor ao meu vício.
O meu “Só por hoje” não significa que não amarei mais as pessoas, pelo contrário, significa que eu as amo muito, eu as amo o suficiente para me afastar delas quando necessário. O meu “Só por hoje” quer dizer também que eu me amo! Me amo o suficiente para querer me curar.
Mas hoje ainda é Segunda-feira...
É o meu primeiro “Só por hoje”...
domingo, 10 de julho de 2011
Hoje
Hoje, eu queria ser um pássaro
Para voar em seus sonhos
Hoje, eu queria ser uma nuvem
Para flutuar em seus pensamentos
Queria andar sem destino
Mas no fim da caminhada, encontrar você.
Fazer da vida uma brincadeira
Como faz uma criança
Fazer do amor uma realidade
Como faz o poeta
Brincar com seus cabelos
E deixar que suas mãos,
Brinquem com o meu corpo
Livrar-me de uma máscara, que me obrigaram a usar.
Fingir que a vergonha não existe
E que hoje quero fazer amor até adormecer.
Dormir nos seus braços
Enquanto a Lua brilha no céu
E acordar quando o Sol raiar
E sua boca tocar a minha.
Olhar nos teus olhos
E ler a felicidade.
Olhar-me no espelho
E gritar de alegria.
Perder o medo, a insegurança
E esquecer os preconceitos.
Acreditar que o certo é aquilo que queremos.
Revelar meu passado, meu presente
E meu futuro.
Esquecer de uma vez o amor perdido
E acredita que o amanhã é certo.
Não ter medo de te perder.
Não ter receio de meus pensamentos.
Não cortá-los ao meio.
Não frustrar minhas ansiedades.
Te amar e ser amada.
Olhar para as estrelas
E saber que cada uma
É apenas uma parte do nosso amor.
Gritar ao mundo que te amo
E fazê-lo acreditar
Se tão grande
Para abraçar o mundo
E tão pequena
Para me esconder em teu bolso.
Conhecer teus passos
Conhecer meus passos
Sem ter medo de dá-los.
Hoje eu queria... hoje eu quero...
Por isso, hoje eu posso.
Para voar em seus sonhos
Hoje, eu queria ser uma nuvem
Para flutuar em seus pensamentos
Queria andar sem destino
Mas no fim da caminhada, encontrar você.
Fazer da vida uma brincadeira
Como faz uma criança
Fazer do amor uma realidade
Como faz o poeta
Brincar com seus cabelos
E deixar que suas mãos,
Brinquem com o meu corpo
Livrar-me de uma máscara, que me obrigaram a usar.
Fingir que a vergonha não existe
E que hoje quero fazer amor até adormecer.
Dormir nos seus braços
Enquanto a Lua brilha no céu
E acordar quando o Sol raiar
E sua boca tocar a minha.
Olhar nos teus olhos
E ler a felicidade.
Olhar-me no espelho
E gritar de alegria.
Perder o medo, a insegurança
E esquecer os preconceitos.
Acreditar que o certo é aquilo que queremos.
Revelar meu passado, meu presente
E meu futuro.
Esquecer de uma vez o amor perdido
E acredita que o amanhã é certo.
Não ter medo de te perder.
Não ter receio de meus pensamentos.
Não cortá-los ao meio.
Não frustrar minhas ansiedades.
Te amar e ser amada.
Olhar para as estrelas
E saber que cada uma
É apenas uma parte do nosso amor.
Gritar ao mundo que te amo
E fazê-lo acreditar
Se tão grande
Para abraçar o mundo
E tão pequena
Para me esconder em teu bolso.
Conhecer teus passos
Conhecer meus passos
Sem ter medo de dá-los.
Hoje eu queria... hoje eu quero...
Por isso, hoje eu posso.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Sonhos
Nossos sonhos são realidades que desejamos
Sonhar com flores, com pássaros, sonhar com a Natureza
Sonhar sendo livre.
Livre para te amar, sempre sonho
Livre para te desejar, te querer e te ter
Sonhar sendo sua, hoje, amanhã, eternamente
A lua brilhando ou o Sol irradiando numa manhã de verão.
O mar agitado, o teu corpo molhado,
Tua mente voando, teu coração disparado...
Sonhar acordada, imaginando boemia
O céu estrelado, na praia deserta,
Ficando excitada, minha mente aberta...
Sonhar fazendo amor,
Amor que consome, na rua, na praia
No motel, toda nua.
Sonhar sem vergonha, daquilo que sinto,
daquilo que desejo, que amo e quero.
Sonhar, sempre sonho,
Realizar, sempre desejo.
Te amar, sempre, sempre, sempre...
Hoje, amanhã, eternamente... te amo...
Sonhar com flores, com pássaros, sonhar com a Natureza
Sonhar sendo livre.
Livre para te amar, sempre sonho
Livre para te desejar, te querer e te ter
Sonhar sendo sua, hoje, amanhã, eternamente
A lua brilhando ou o Sol irradiando numa manhã de verão.
O mar agitado, o teu corpo molhado,
Tua mente voando, teu coração disparado...
Sonhar acordada, imaginando boemia
O céu estrelado, na praia deserta,
Ficando excitada, minha mente aberta...
Sonhar fazendo amor,
Amor que consome, na rua, na praia
No motel, toda nua.
Sonhar sem vergonha, daquilo que sinto,
daquilo que desejo, que amo e quero.
Sonhar, sempre sonho,
Realizar, sempre desejo.
Te amar, sempre, sempre, sempre...
Hoje, amanhã, eternamente... te amo...
Rio de Janeiro, 19 de junho de 1987.
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